São Paulo – As dificuldades no setor de fabricação de pneus, alarmadas há alguns meses pela Anip, Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos, devido à concorrência classificada como desleal dos produtos importados, começou a refletir nos empregos. Na última semana a Continental Pneus demitiu 42 trabalhadores de sua unidade em Camaçari, BA.
No local trabalham 2,4 mil profissionais e são produzidos de 18 mil a 20 mil pneus por dia, sendo 10% disso, de 1,8 mil a 2 mil unidades, para veículos pesados, de acordo com o Sindborracha, Sindicato dos Borracheiros do Estado da Bahia, que abrange Salvador, Camaçari e Região Metropolitana.
Segundo o presidente do Sindborracha, Josué da Purificação Pereira, a intenção da empresa era dispensar cem trabalhadores. Um turno de produção chegou a ser suspenso para a realização de assembleia em frente à fábrica e a companhia aceitou negociar com a entidade.
“Foi alegado que o estoque de pneus está muito elevado, acima de 100% da capacidade de seu armazém, o que demandará a locação de outro espaço para guardar os produtos. Tudo por causa das dificuldades de mercado provocadas pela maior entrada de importados e a preços desleais.”
Pereira contou que a produção desta unidade era de 23 mil pneus por dia, sendo 3 mil de carga.
O sindicalista relatou que houve acordo com companhia para segurar outros cortes diante da expectativa de melhora do cenário, o que a partir do mês que vem deverá ser reforçado diante do aumento da alíquota do imposto de importação de pneus de passeio de 16% para 25% por doze meses. Embora ele acredite que a medida surta efeito apenas em 2025, e lamente que pneus de carga tenham permanecido com tributo de 16%, avalia que a entrada de produtos estrangeiros deverá diminuir.
Frente a eventual piora do cenário nos próximos meses foi combinado o estabelecimento de layoff para parte dos operários, em vez de partir direto para a demissão. Para os 42 dispensados o Sindborracha conseguiu pacote adicional de benefícios que inclui, além da verba rescisória, plano de saúde até o fim do cumprimento do aviso prévio, composto por trinta dias mais três dias adicionais por ano trabalhado na empresa, pagamento integral da PLR, de R$ 13 mil conforme o atingimento da meta, sendo que R$ 10,5 mil já foram pagos, e vale-alimentação de R$ 600 até o fim do ano.
Procurada pela reportagem a Continental ainda não se manifestou.
Instabilidade do emprego no setor ainda preocupa sindicato
“Estamos preocupados com o reflexo do emprego no setor. Acreditamos que o governo precisa tomar outras ações além do aumento do imposto, como medidas antidumping”, avaliou Pereira, ao complementar que, por ora, não há cortes em outras fabricantes de pneus de sua base. Quanto a layoffs existe um em vigor na Pirelli em Feira de Santana, em que 280 dos 1,2 mil funcionários têm contrato de trabalho até o fim do ano.
De acordo com a Anip existem 2,5 mil profissionais em layoff em pneumáticas do Brasil, em um universo de 32 mil empregos diretos, o que levou o presidente da entidade, Klaus Curt Müller, a alertar para o risco de demissões diante da queda nas vendas e perda de espaço para os produtos importados, que já respondem por quase 60% da demanda do mercado brasileiro.
Considerando apenas os produtos fabricados no País de janeiro a agosto foram vendidas 33,8 milhões de unidades, 6,2% menos que no mesmo período do ano passado. Deste montante 16,8 milhões são de passeio, 8,9% abaixo dos oito primeiros meses de 2023, e 4,5 milhões são de carga, 4,1% a mais neste mesmo comparativo.