Volume de importações cresceu três vezes desde 2020, impulsionado por produtos chineses e indianos, ao passo que o de exportações avançou apenas 1,6 vez no período
São Paulo – “Nunca sofremos um ataque tão grande de empresas de fora no setor de máquinas. Pelo segundo ano consecutivo fechamos com déficit na balança comercial”, contou Márcio de Lima Leite, presidente da Anfavea, durante entrevista coletiva à imprensa na quinta-feira, 21. As importações têm como origem, principalmente, a China, com fatia de 55,7% do total, e Índia, com 26,4%.
E esta maior presença estrangeira no mercado brasileiro não é de hoje. Tal movimento veio crescendo nos últimos quatro anos. Enquanto o volume importado expandiu três vezes de 2020 para 2024, ao saltar de 9 mil para 26,4 mil equipamentos, no mesmo período a exportação avançou apenas 1,6 vez, de 12,8 mil para 20,6 mil. Desta forma o saldo comercial do segmento, que era superavitário em 3,8 mil unidades, passou para 5,8 mil unidades de déficit no ano passado.
“Mesmo com o aumento do dólar as nossas importações cresceram 300%”, ressaltou Lima Leite. “E, se considerarmos que pode estar havendo maquiagem de dados por parte de empresas chinesas que alegam ter processos fabris aqui mas mantêm apenas escritórios, essa representatividade de 55,7% pode ser ainda maior.”
Com a posse do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e a sinalização de que pretende elevar as tarifas para produtos feitos na China, deverá começar a sobrar produto, que tenderá a entrar em maior escala no Brasil e em mercados para os quais o País exporta, ameaçando sua fatia na América Latina.
Dados da Anfavea mostram que a participação chinesa nas importações de máquinas de construção em sete mercados das Américas, sendo Estados Unidos, Canadá, Colômbia, Peru, Chile, Argentina e Paraguai, dobrou no ano passado, de 20,7% para 43%. Neste mesmo comparativo a presença do Brasil foi de 4,1% para 5,5%.
Quanto às máquinas agrícolas, considerando seis países do continente, Estados Unidos, Colômbia, Chile, Argentina, Uruguai e Paraguai, a participação da China passou de 7,7% para 12,7% e, a do Brasil, de 3,5% para 4,6%.
“A cada cem máquinas de construção importadas pelos Estados Unidos 37,4 são chinesas”, afirmou Lima Leite. E em 2023 eram nove. Ao passo que os produtos brasileiros tinham fatia de 0,8% e avançaram para 2,4% em um ano.
Quanto às exportações brasileiras foram embarcados no ano passado 20,5 mil unidades, sendo 6 mil agrícolas e 14,5 mil de construção. Do total 42% tiveram como destino os Estados Unidos, 7,2% o México e 4,1% para o Paraguai.
“Nossas exportações para os Estados Unidos são muito relevantes. Se, por um lado, com Trump no poder, a maior barreira para os produtos chineses pode ajudar a ampliar a participação brasileira, por outro o excesso de máquinas da China trará problema à nossa indústria e à nossa competitividade em mercados importantes para nós.”