São Paulo – “2024 é um ano do qual não nos orgulhamos.” Assim John Elkann, chairman da Stellantis, classificou os resultados do grupo no ano passado, que foram apresentados a seguir, nesta quarta-feira, 26, pelo CFO Doug Ostermann, com fortes quedas de vendas, receitas e lucros. Elkann, contudo, ponderou: “Mas o futuro que vemos em 2025 é melhor”.
Pela primeira vez desde a demissão do CEO Carlos Tavares, em novembro, o balanço da companhia foi apresentado pelo herdeiro e principal executivo da família Agnelli, fundadora e controladora do Grupo Fiat, depois FCA e agora Stellantis, após a fusão com a PSA, em 2021.
Enquanto ainda está em curso o processo de seleção de um novo CEO o próprio Elkann elencou as prioridades estratégicas do grupo em 2025: “É o ano em que precisamos voltar ao crescimento lucrativo e ao fluxo de caixa positivo. Para isto queremos capturar mais participação nos mercados, o que faremos com mais investimento em marketing e lançamentos que atendam aos desejos dos consumidores nas diferentes regiões em que atuamos”.
Antes disso, porém, foi necessário apresentar as feridas abertas em 2024, no pior balanço já apresentado pela companhia desde a sua fundação. Após apurar faturamento e rentabilidade exponenciais nos seus primeiros anos de existência, com margem de lucro operacional de 13% sobre o faturamento em 2022 e 2023, porcentual bastante acima da média dos principais concorrentes, em 2024 a casa caiu.
Resultados ruins de 2024
A receita de € 156,9 bilhões representou queda de 17% sobre o ano anterior, as vendas globais caíram 12%, para 5,4 milhões de veículos, derrubando o lucro operacional ajustado para € 8,6 bilhões, em retração expressiva de 64,5% sobre os € 24,3 bilhões de 2023. Com isto a margem de lucro operacional, de 5,5%, ficou cerca de 7,5 pontos abaixo da registrada nos dois anos anteriores.
O declínio de € 15,7 bilhões no lucro operacional ajustado afetou diretamente o fluxo de caixa, que caiu € 18,7 bilhões de um ano para outro e fechou 2024 negativo em € 6 bilhões. O lucro líquido apurado de € 5,5 bilhões também ficou bastante abaixo dos anos anteriores, mais precisamente 70% inferior aos vistosos € 18,6 bilhões de 2023.
Segundo o CFO Doug Ostermann lucro e caixa foram impactados principalmente pela redução do volume de vendas e mix de produtos desfavorável na Europa e América do Norte, regiões onde a Stellantis foi obrigada a baixar os preços em 5%, na média, e adotar iniciativas com custo estimado de € 1,2 bilhão para reduzir os estoques, que globalmente caíram para 1,2 milhão de veículos ao fim de dezembro passado, contra quase 1,5 milhão um ano antes. Ao mesmo tempo o ano particularmente repleto de lançamentos, vinte no total, gerou gastos extras estimados em € 1,7 bilhão. Também pesaram contra os lucros em euros as desvalorizações da lira turca, do real brasileiro e do peso argentino.
Melhores resultados no Sul Global
Olhando o quadro de resultados separadamente nas cinco regiões de atuação da Stellantis, os piores desempenhos foram registrados justamente nas duas divisões que contribuem com a maior parte do faturamento, 78% em 2024, com ganhos e margens muito parecidos.
Na América do Norte o lucro operacional ajustado foi de € 2,7 bilhões e na Europa de € 2,4 bilhões, em ambos os casos um enorme tombo sobre os respectivos € 6,5 bilhões e € 13,3 bilhões de 2023. Nos dois mercados a margem sobre a receita foi pouco maior de 4%. O conjunto de marcas do grupo obteve participação nas vendas de 17% nos países europeus e de 7,8% nos da América do Norte.
O mau desempenho em seus maiores mercados foi parcialmente amortecido pela estabilidade dos bons resultados na América do Sul, com Brasil à frente e liderança de participação nas vendas da região, com fatia de 22,9% – a maior do grupo no mundo. O lucro operacional regional foi de € 2,3 bilhões, cifra praticamente igual à de 2023 e muito próxima da obtida na Europa e América do Norte. Foi a única divisão que sustentou margem de dois dígitos, 14,3%, ainda que ligeiramente abaixo dos 14,8% de 2023.
Já na divisão que engloba África e Oriente Médio a Stellantis obteve market share de 12,4% em 2024, com restrições de importações na Argélia, Tunísia e Egito. O lucro operacional caiu de € 2,5 bilhões para € 1,9 bilhão, mas a despeito dos ventos contrários a companhia conseguiu sustentar sua margem de lucro nos dois dígitos altos, em 18,8%, ainda que menor do que os 23,7% de 2023.
A Stellantis segue com problemas para penetrar nos grandes mercados da região Ásia/Pacífico, incluindo China e Índia. Em 2024 o faturamento nestas regiões caiu para pouco menos de € 2 bilhões, com prejuízo operacional de € 58 milhões e margem negativa de – 2,9%.
Plano de recuperação
John Elkann foi enfático em afirmar aos analistas das instituições financeiras que participaram da teleconferência que os resultados ruins de 2024 não devem se repetir em 2025, mas também não serão tão vistosos quanto os apresentados nos três primeiros balanços da Stellantis.
Com os lançamentos realizados durante 2024 e os previstos para este ano, redução de estoques e política de preços mais flexível – principalmente nos Estados Unidos, onde os concessionários lideraram o empurrão para colocar Carlos Tavares fora da companhia – o CFO Doug Ostermann prevê margens melhores em 2025, “de um dígito baixo no primeiro semestre e um dígito alto no segundo semestre”.
“Somos muito razoáveis em nossas projeções”, afirmou Elkann. “Em 2025 deveremos capturar mais market share com os lançamentos programados. Temos escala de produção regional e global, esta é nossa força. Precisamos ser flexíveis e oferecer aos consumidores de cada região o que eles desejam. Por isso apostamos em plataformas multienergia: teremos novos carros a combustão, híbridos e elétricos.”