Centro Tecnológico de Jundiaí contrata mais engenheiros e opera 24 horas para acelerar projetos locais e globais
São Paulo – A expressão “a todo vapor” é comumente aplicada ao ritmo de trabalho de linhas de produção, nem tanto para laboratórios de pesquisa e desenvolvimento que costumam obedecer a tempos mais alongados. Não é o caso da Mahle, que colocou para trabalhar em três turnos os cerca de 240 técnicos e engenheiros de seu Centro Tecnológico de Jundiaí, SP, um dos onze da companhia alemã no mundo.
Diretor de P&D da Mahle e chefe do Centro Tecnológico, também vice-presidente da AEA, Associação Brasileira de Engenharia Automotiva, Everton Lopes contou que o volume de trabalho em projetos vem crescendo ano a ano em Jundiaí, tanto para projetos locais quanto globais da companhia: “Crescemos 12% em 2024 sobre 2023 e para este ano nossa expectativa é crescer 13%”.
O crescimento destacado por Lopes é medido em horas dispensadas aos diversos projetos: quer dizer que, em 2024, o moderno Centro Tecnológico da Mahle em Jundiaí entregou algo como 255 mil horas de engenharia e deve ultrapassar 320 mil horas em 2025.
Para tanto o número de funcionários já cresceu 60% nos últimos dois anos e as contratações continuam, segundo Lopes: “Nos últimos dez meses contratamos 66 novos engenheiros, todos com alta qualificação e domínio de idiomas para se comunicar com os outros centros que temos no mundo. Existem hoje engenheiros muito bons disponíveis no mercado brasileiro”.
Hub global
A unidade, desde 2008 instalada em um prédio com ares futuristas no entroncamento das rodovias Anhanguera e Bandeirantes, é um hub global de engenharia do Grupo Mahle e desenvolve ali boa parte dos componentes de motor, como coletores e outras peças, sistemas de climatização e compressores de ar-condicionado.
Sala de teste de motores da Mahle em Jundiaí: desenvolvimento próprio e para empresas. Fotos: Divulgação
São exportados cerca de 40% dos serviços realizados para outras subsidiárias no mundo. Há pouco mais de um ano foi inaugurado ali o Centro Global de Biomobilidade da Mahle, dedicado a projetos que envolvem biocombustíveis e biomateriais. Desde 2023 o local sedia o Centro de Engenharia Américas para Filtros. Também está na lista de atribuições o desenvolvimento de sistemas de gerenciamento térmico, tanto para motores a combustão como elétricos, que precisam de arrefecimento para baterias e motores.
No 60% do tempo dedicado a projetos locais, para América do Sul, a Mahle atende não só a desenvolvimentos próprios mas, também, a dezenas de empresas do setor automotivo, que todos os anos usam seus laboratórios em Jundiaí para desenvolver e validar componentes e motores – o centro é credenciado pelo Inmetro para medições de emissões. “Por exemplo: todos os pistões dos motores turboflex utilizados hoje no Brasil foram desenvolvidos pela Mahle em Jundiaí.”
O bom resultado do trabalho pode ser medido pelas 120 patentes ativas de projetos desenvolvidos pela Mahle em seus laboratórios brasileiros. De acordo com Lopes o centro gera para a empresa de cinco a dez novas patentes por ano.
Projetos de biomobilidade
Dentre os projetos em andamento no Centro Tecnológico Lopes afirma que a principal especialidade está no desenvolvimento avançado de motores a combustão mais eficientes com uso de biocombustíveis e hidrogênio, sistemas híbridos flex e biomaterias para uso em autopeças.
Componentes desenvolvidos pela Mahle para motores a combustão com hidrogênio Foto: Divulgação.
A Mahle está credenciada no Mover, Programa Mobilidade Verde e Inovação, para receber créditos tributários do governo federal em troca de investimentos em projetos: “Estamos habilitados desde o começo do programa, em março de 2024, e já desenvolvemos a segunda fase do nosso projeto de biomobilidade voltado ao aumento da eficiência energética de motores”.
O objetivo principal é reduzir para menos de 20% a diferença de consumo do etanol hidratado para a gasolina E27, que atualmente flutua de 30% a 25% em favor do combustível fóssil: “Buscamos uma melhor paridade energética para o etanol, estamos chegando perto de algo como 19% ou 18%”.
Lopes observa que existe um crescente interesse pelo uso de etanol como alternativa viável para reduzir emissões de CO2, principalmente dos países do chamado Sul Global: “Já recebemos em Jundiaí a visita de delegações da Índia, Indonésia, Tailândia e também dos Estados Unidos. São países que produzem etanol e querem aumentar seu uso no transporte”.
Está em curso o projeto denominado Motor BR Pós 2027, com a meta de reduzir as emissões de NMOG, gases orgânicos não-metano, produzido por motores a etanol e que tem a contraindicação de criar ozônio na baixa atmosfera, prejudicial à saúde. A terceira fase do Proconve L8 prevê a drástica redução deste poluente a partir de 2027, o que faz a Mahle trabalhar para resolver o problema que poderia prejudicar o uso do etanol, mas segundo Lopes esta questão está “bem encaminhada” em seus laboratórios.
Em outra frente a Mahle já realizou experiências bem-sucedidas com o BeVant, biodiesel avançado desenvolvido pela Be8 que pode ser utilizado em qualquer motor diesel sem necessidade de adaptações.
No fim do ano passado a Mahle captou R$ 110 milhões da Finep, Financiadora de Estudos e Projetos. Os recursos serão utilizados, em um ciclo de três anos, para impulsionar o desenvolvimento de tecnologias de mobilidade sustentável, incluindo novos sistemas de propulsão, uso de materiais reciclados, ampliação da infraestrutura de inovação, localização de novas tecnologias e digitalização de produtos e serviços.
No campo dos biomateriais Lopes assinalou que o Mover, por meio da imposição de metas de reciclabilidade dos veículos vendidos no País, abre oportunidades de desenvolvimento. Ele citou, por exemplo, a utilização de matérias-primas recicladas em filtros, uma das especialidade do centro tecnológico brasileiro.