São Paulo – Na última queda do mercado doméstico, decorrente da crise em 2014 a 2016, as exportações em alta ajudaram a segurar um pouco o ritmo das linhas das fábricas, suavizando a queda na produção. Este cenário não se repete nesta crise decorrente da pandemia: as linhas de montagem de veículos, já calibradas para acompanhar o mercado interno na retomada pós-paralisações, registraram neste primeiro semestre queda até maior do que as vendas internas: 50,5%, para 729,5 mil unidades, ante 808,8 mil licenciamentos, recuo de 38,2% no período.
“Perdemos volume equivalente a três meses de produção”, disse Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea, em videoconferência de apresentação dos resultados na segunda-feira, 6. “Restam apenas duas fábricas paradas, que deverão voltar em julho. As que retornaram estão em um turno, algumas em dois mas com metade dos trabalhadores, em decisões que visam aumentar o distanciamento dos funcionários nas linhas”.
As novas estimativas para a produção em 2020 indicam queda de 45% no ano, para 1 milhão 630 mil veículos produzidos – volume inferior ao estimado para o mercado doméstico, 1 milhão 675 mil unidades e recuo de 40% com relação a 2019. Este cenário indica potencial agravamento de problemas de excesso de capacidade no segundo semestre.
“O ajuste de emprego já começou de forma paulatina”, disse Moraes. Em junho foram cortados 1,1 mil postos de trabalho, boa parte da Nissan. “Várias outras fizeram cortes pontuais, não renovando contratos temporários”.
O presidente da Anfavea calcula que as medidas de flexibilidade no emprego criadas pela MP 936 surtirão efeito até outubro ou novembro. “Se não for criado algum mecanismo para a retomada do emprego teremos dificuldades em manter os atuais. Não há perspectiva de melhora no cenário”.
As montadoras empregam, diretamente, 124 mil pessoas.
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