São Bernardo do Campo, SP – O presidente e CEO da Volkswagen América Latina, Pablo Di Si, praticamente jogou a toalha no que diz respeito à possibilidade de o governo federal oferecer algum tipo de auxílio ou colocar em prática programas para a indústria automotiva nacional superar as dificuldades econômicas causadas pela pandemia da covid-19.
Em entrevista durante a inauguração de uma nova prensa na área de estamparia da fábrica Anchieta, em São Bernardo do Campo, SP, na quarta-feira, 15, o executivo afirmou que o atual governo “tem uma visão, que respeito, de não atuar diretamente em segmentos como aeronáutico, automotivo etc. Sabemos que não é algo contra uma indústria específica ou uma empresa, mas decidiram que não intervirão. É a decisão. E terá consequências”, alertou, ainda que ele não tenha especificado exatamente quais seriam.
Coincidência ou não a nova prensa, que consumiu três anos para sua instalação, marca a última iniciativa concreta e física relacionada ao plano de investimento VW vigente no Brasil, de R$ 7 bilhões para o período 2017-2020, sendo R$ 2,4 bilhões apenas para as fábricas do Estado de São Paulo no período 2019-2020: “Esta inauguração encerra o ciclo”.
As conversas envolvendo o novo plano de aportes da companhia aqui prosseguem congeladas, afirmou Di Si, pois “é muito cedo ainda: temos que esperar a sinalização do mercado, que ainda está muito instável. Não definiremos nada até o fim do segundo semestre, é mais prudente”.
Ele, porém, deu indicativos de que no ano que vem o plano deve sair, mas avisou que “este investimento terá que ser reduzido para os próximos anos, não há outra saída”.
Diante da posição do governo em não permitir a utilização de créditos tributários para que o BNDES fizesse papel de garantidor para empréstimos junto a bancos privados a saída encontrada foi negociar por conta própria: “As taxas foram reduzidas, não ainda a patamares aceitáveis, mas ficaram menores.” Di Si revelou ainda que nesse processo “não pedimos carta fiança da matriz, no que fomos um dos poucos, senão os únicos. Não há como pedir dinheiro para a matriz no meio de uma crise mundial: isso não existe, pelo menos na minha gestão”.
De outro lado o executivo elogiou a extensão da medida provisória que instituiu o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e Renda: “Quanto mais tempo tivermos melhor. Podemos trabalhar para manter os empregos, procurar saídas como mudar mix, exportar mais etc.”.
Ele revelou que na manhã da quarta-feira, 15, participou de reuniões com sindicatos dos metalúrgicos das regiões onde a VW mantém fábricas, tanto presencial quanto virtualmente: “Serão tempos difíceis, mas trabalharemos juntos e os sindicatos vêm atuando em conjunto conosco, discutindo os temas, conversando, o que é o mais importante. Temos que conversar”.
E assegurou que demitir seria “o último dos últimos dos últimos recursos. O emprego é a última coisa a se tocar. O ‘turnaround’ tem que ser no negócio, não nas pessoas”.
Foto: Rafael Cusato.