São Paulo – Os resultados positivos de julho, quando comparados com junho – alguns até acima das expectativas, como as vendas de veículos na casa das 175 mil unidades –, são vistos com cautela pela diretoria da Anfavea. O presidente Luiz Carlos Moraes evitou classificar como pessimista a projeção de 40% nas quedas das vendas no ano, para 1 milhão 675 mil unidades, e manteve as estimativas divulgadas há dois meses.
“Não refazemos projeções a cada mês, apesar de acompanhar o mercado dia a dia. E a neblina ainda não permite clareza no horizonte: há muitos pontos positivos, é verdade, mas me preocupa demais o impacto do fim do auxílio emergencial na economia brasileira.”
Outra preocupação do presidente da Anfavea é com relação ao desemprego, já realidade na indústria automotiva. Desde o começo do ano a indústria fechou mais de 3 mil postos de trabalho, metade apenas em julho, e não há indicativo de interrupção na tendência. Se nesse aspecto micro chama a atenção, no macro ainda mais: Moraes, por mais de uma vez na apresentação dos resultados na sexta-feira, 6, falou sobre os dados do IBGE divulgados um dia antes, que apontam fechamento de 8,9 milhões de postos de trabalho em três meses.
“Vou usar uma frase do ministro da Economia, Paulo Guedes: ninguém sabe como será o desempenho da economia no Brasil em 2020. Não acredito em nenhuma projeção.”
Moraes mostrou diversas estimativas, que variam de queda de 10% a 4% do PIB, com uma mediana de 6% apresentada no último Boletim Focus, do Banco Central: “A verdade é que nenhum modelo econométrico consegue medir a pandemia na economia”.
O fato, segundo ele, é que o mercado vai cair: seja 30%, 35% ou 40%. O trabalho da indústria, agora, é adequar as fábricas ao novo tamanho do mercado.
Em paralelo seguem as negociações com o governo. Além do pedido para postergar a entrada da nova fase do Proconve, equivalente ao Euro 6, a entidade trabalha com o Contran para adiar o cronograma de itens de segurança obrigatório. O Rota 2030, ao menos por enquanto, ainda não está em pauta.
A Anfavea olha com atenção também para a reforma tributária proposta pelo governo, e as demais propostas que circulam pelo Congresso. Moraes elencou alguns pontos prioritários que a entidade defende: evitar aumento da carga tributária e que se crie algum mecanismo para que os créditos tributários aos quais a indústria tem direito não sumam com a proposta: “Desenhamos uma proposta que transformaria esse crédito em títulos públicos. Assim o governo nos pagaria em um prazo de três, cinco anos, e poderíamos, também, negociá-los no mercado financeiro”.
São apenas propostas – mais uma diante tantas que a Anfavea já apresentou e estão empilhadas nas mesas dos ministérios. O fato é que há tempos a indústria tenta, de alguma forma, recuperar esse créditos que lhe são de direito, mas não obtém sucesso: “A verdade é que estamos financiando o governo, sem receber nada em troca”.
Moraes afirmou, também, que segue apoiando as reformas, consideradas importantes para o crescimento no longo prazo. E lamenta não haver estudos para questões emergenciais para incentivar o consumo de veículos, a exemplo do que foi feito pelo governo na Alemanha e na Espanha, por exemplo: “É uma opção do governo. Resta a nós aguardar o andamento dessa opção”.
Foto: splashbase.