São Paulo — Começou a tomar corpo a operação dos caminhões movidos a GNV que a Scania passou a vender no Brasil neste ano. Na quinta-feira, 15, a empresa divulgou que já foram vendidas cinquenta unidades do modelo que estreou no mercado brasileiro na edição da Fenatran do ano passado. Mais do que representar a jornada da sustentabilidade, como a empresa costuma informar em seus materiais corporativos, as vendas destes veículos trazem outras oportunidades, como diversificação de oferta e fortalecimento da marca.
"Ainda é 1%, não. Já representam 1%", disse Roberto Barral, vice-presidente de operações comerciais, a respeito da fatia do mercado que os caminhões movidos a gás natural detêm no mercado interno. A afirmação do executivo, que convida à observação do quadro por outro ângulo, indica que a empresa está conforme com o andamento dos negócios neste campo, que ainda é pouco explorado por questões ligadas ao custo e, principalmente, ligadas às políticas públicas que versam sobre emissões.
"É uma jornada, tentaremos até o final do ano vender cem unidades, como era a nossa expectativa. No ano que vem nossa perspectiva é de aumentar a participação para além do 1%. Na Europa já são 4 mil veículos do tipo em circulação", contou o vice-presidente, considerando um certo desafio em consguir alcançar a meta, dada a situação atual de um mercado que vem se recuperando de um dos períodos mais marcantes da década em termos econômicos.
E, enquanto a montadora segue sua jornada para construir um novo mercado, outros movimentos são articulados de forma paralela pela área de vendas. Com seu novíssimo caminhão a gás a Scania pega carona, por ora, nas demandas da pegada sustentável que alguns importantes clientes de sua carteira passaram a considerar em seus planejamentos estratégicos, os quais tratam, dentre outras coisas, de metas de redução de emissões de poluentes.
Uma vez incorporados esses caminhões aos frotistas, cria-se uma relação ganha-ganha: a Scania aumenta a exposição do seu modelo pesado mais novo e vincula ainda mais sua imagem ao projeto de futuro sustentável que ganha força no universo corporativo da Europa, região que trabalha para reduzir as emissões de poluentes por meio de metas de controle agressivas.
Pelo lado dos clientes a aquisição do caminhão a gás natural se mostra mais do que um recurso que proporciona redução significativa de custo operacional, já que o gás em alguns Estados tem preço mais competitivo na comparação com o diesel. Representa também oportunidade de construir um caso de sucesso pautado na sustentabilidade, o que, hoje, começa a ganhar corpo no Brasil com o objetivo de retenção de grandes clientes que também executam suas agendas de redução de emissões.
São os casos das empresas que já têm em frota unidades Scania movidos a gás, como Transmaroni e a RN Transportes, cujos representantes participaram do evento online que a montadora realizou na quinta-feira. A RN, inclusive, oferta no mercado um novo modelo de negócio baseado no serviço de transporte verde, ou seja, o transporte de cargas em frota de veículos que são movidos a combustíveis que não os fósseis. A empresa foi a primeira a comprar o veículo Scania a gás no País, durante a Fenatran. A partir do evento, encaminhou à montadora pedido de compra de mais seis unidades.
A empresa fechou também negócio importante com a Pepsico, dezoito unidades operadas por embarcadores que representam a parcela de veículos limpos que buscam ter em frota para reduzir as emissões de suas operações. A L'Oréal opera também veículo Scania a gás em seu trecho mais importantes, o Rio-São Paulo.
Mas como o negócio caminhão é mantido por meio de volume, a montadora projeta vendas maiores a partir do ano que vem com base em alguns cenários, dentre eles a maior oferta de gás natural na rede de abastecimento e o preço do combustível, que já chega a ser competitivo em alguns Estados. "Existem hoje cerca de 1,5 mil postos no País que abastecem veículos com gás natural, mas nem todos estão preparados para abastecer caminhões", disse Silvio Munhoz, diretor comercial. "Ainda é algo a ser desenvolvido mas com o tempo e a tecnologia ganhando escala a tendência é de que os postos estejam preparados."
Enquanto o caminhão a gás dá os seus primeiros passos no mercado, no velho normal os modelos a diesel Scania seguem com licenciamentos em ritmo de crescimento mensal. Em setembro, indicaram dados da Anfavea, foram vendidos 565 unidades, dentre pesados e semipesados, um volume que supera em cerca de 9% o volume licenciado em agosto. Até setembro as vendas somaram 5,5 mil unidades, um volume 43% menor ante igual período em 2019.
"Viemos de uma crise sem precedentes marcada por queda da demanda. Tivemos que reajustar a produção e a isso se seguiu um período estável com a retomada dos pedidos. Por causa dessa retomada e dos ajustes da fábrica e nos fornecedores os pedidos foram alongados", disse Roberto Barral a respeito do compasso atual das vendas com o ritmo da produção da fábrica de São Bernardo do Campo, SP.
Foto: Divulgação.