São Paulo – Fabricantes de caminhões instaladas no Brasil começam a sentir a falta de determinados componentes e se preocupam com a capacidade dos fornecedores de acompanhar o ritmo da retomada do setor, que no mês passado registrou crescimento de 13,2% nas vendas sobre outubro, para pouco mais de 9 mil unidades.
A questão surge num momento em que o segmento começa a projetar volumes maiores para 2021: a aposta dos executivos é superar as 100 mil unidades no ano que vem. Mas, para isso, a cadeia tem que acompanhar: "O fornecimento de pneus já é um gargalo”, disse Alcides Cavalcanti, diretor comercial para caminhões da Volvo. “Todos estão sofrendo com a pandemia, e o problema atinge fornecedores nacionais e internacionais".
O cenário externo é outro ponto de atenção: segundo Ari de Carvalho, diretor de vendas e marketing da Mercedes-Benz, o setor está andando no fio da navalha: "Estados Unidos e Europa também estão aumentando o ritmo de produção e isso exigirá dos fornecedores globais um poder de resposta que eu torço para que eles tenham. Se não é um risco que correremos".
A DAF foi outra empresa a relatar problema com entregas de componentes. Seu diretor comercial, Luis Gambim, reconheceu que a segunda onda da covid-19 que atinge a Europa deverá estender o problema: "Esse é um gargalo atual e que foge do nosso controle. Dependemos deles e estamos conversando com fornecedores globais para solucionar essa questão".
Ricardo Barion, diretor comercial da Iveco, lembrou que decisões de aumento de produção costumam levar até seis meses para se refletir em toda a cadeia. Ele reconhece que os fornecedores precisarão de um tempo de retomada para atender aos pedidos das montadoras: “Estamos sentindo muito isso nesse momento, aqui no Brasil e na Europa, que já sofre com a segunda onda e opera com mão de obra reduzida".
O executivo disse ainda que a cadeia logística poderá ser um gargalo nos próximos meses e merece atenção, porque com o aumento de produção problemas com as entregas poderão surgir.
Falta de caminhão nas concessionárias – Não é só a demora na resposta da cadeia que prejudica o abastecimento de caminhões no varejo: a própria operação das montadoras para obedecer às novas regras sanitárias diante da pandemia torna o processo mais lento.
Mais uma vez o presidente da Fenabrave, Alarico Assumpção Júnior, queixou-se da falta de caminhões no mercado. Segundo ele alguns modelos já encomendados serão entregues apenas no segundo trimestre do ano que vem.
Segundo Carvalho a Mercedes-Benz está operando em dois turnos para conseguir ter a produção de um: "Abriremos o terceiro turno em fevereiro para conseguir, enfim, aumentar o volume produzido".
A DAF também sofre com sua equipe reduzida na fábrica de Ponta Grossa, PR, e com o avanço do coronavírus na região, de acordo com Gambim: "Alguns dias da semana faltam funcionários nas linhas de produção, porque eles optam por ficar em casa por causa da pandemia. Temos que respeitar essa decisão, que é para preservar a saúde deles ".
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