São Paulo – É possível que nas próximas semanas algumas fábricas de veículos parem suas linhas. Há falta de insumos para produzir peças e componentes, como alguns tipos de aço, resinas e termoplásticos, e até pneus para equipar veículos começam a rarear no mercado. O alerta foi dado pelo presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes, na segunda-feira, 7, durante a divulgação dos resultados de novembro.
O cenário vem se desenhando nas últimas semanas, segundo Moraes, e as áreas de logística das montadoras têm trabalhado incessantemente para aliviar a situação, inclusive colaborando na compra e no abastecimento de insumos para fornecedores tier 1 e tier 2 e, em alguns casos, até tier 3: “Estamos fazendo o possível e o impossível, tentando evitar ao máximo paradas de produção, mas milagre não conseguimos fazer. Já estão acontecendo microparadas, em algumas linhas, nas últimas semanas, mas agora isso começa a preocupar mais”.
Os problemas estão mais concentrados nas matérias-primas. Sem conseguir insumos fornecedores atrasam as entregas de itens e provocam o efeito dominó sobre a cadeia. Há relatos de atrasos, também, em importações porque a segunda onda da covid-19 prejudicou o ritmo de produção em alguns países.
“O risco é imediato. É um desafio do setor privado, que será resolvido, mas demora um tempo para normalizar a situação, coisa de um ou dois meses. Já há empresas programando horas extras e jornadas aos fins de semana para quando houver mais insumo disponível, e pode haver até remanejamento do calendário das férias coletivas, dependendo da empresa”.
Se faltar peça vai faltar produção, e, por consequência, veículos nas revendas, uma queixa que já vem sendo feita há alguns meses pelo setor de distribuição e pelas locadoras. A diferença é que os casos podem deixar de ser pontuais para se tornarem um risco real de parada na produção automotiva.
Luiz Carlos Moraes disse que este é só um dos fatores que desafiam a indústria neste fim de 2020 e começo de 2021. Outro, tão grave quanto, é o aumento de custos destes insumos: montadoras e siderúrgicas têm até o fim do mês para fechar seus contratos de fornecimento de aço para o ano que vem e há fabricantes de aço pedindo reajustes de 30% no preço.
“O reajuste do aço é direto na veia: impossível não repassar o custo ao consumidor. Temos que lembrar que 30% das vendas de aço, no Brasil, são para o setor automotivo. As siderúrgicas, assim, precisam estar cientes que podem criar outro problema ao resolver este: ao elevar os preços, que serão repassados, deverá haver menor demanda. Retornará a eles como um bumerangue”.
O caso do aço está em evidência pela fase de renegociação de contratos, mas o aumento de custo é geral, como relatou Moraes. A desvalorização do real, 33% desde o começo do ano, e a disparada do IGP-M, índice que mede custos que afetam diretamente a indústria, 24,5% no acumulado dos últimos doze meses, são outros fatores que pressionam as montadoras e toda a cadeia.
Para finalizar há o temor com relação ao repique da covid-19. Moraes disse que as montadoras e fornecedores vêm cumprindo protocolos rigorosos para evitar surtos nas linhas de montagem. E que a Anfavea encabeça uma campanha, que será divulgada internamente nas empresas e em suas redes sociais, para reforçar a mensagem de que todos precisam se cuidar.
“Vem aí o verão, as festas de fim de ano e estamos vendo um aumento relevante de casos diários no Brasil. Decidimos, então, reforçar a mensagem de prevenção e orientação: não é nada de novo, é para ressaltar a importância de nos cuidarmos."
Projeções para 2021 ficaram para o mês que vem: a Anfavea segue conversando com as empresas associadas, com bancos, locadoras, revendedores de usados, varejistas, para entender o cenário para o ano que vem. Os números serão divulgados na próxima entrevista coletiva à imprensa, no começo de janeiro.
Foto: Christian Castanho.