São Paulo — O dia seguinte ao anúncio de encerramento da produção da Ford no Brasil foi de críticas em Brasília, DF, e de articulação dos trabalhadores das duas maiores fábricas desativadas pela companhia, Taubaté, SP, e Camaçari, BA. Na manhã da terça-feira, 12, o presidente Jair Bolsonaro acusou a empresa de mentir a respeito dos fatores que a levaram a parar de produzir carros no Brasil:
"Mas o que a Ford quer? Faltou a Ford dizer a verdade, né? Querem subsídios. Vocês querem que eu continue dando R$ 20 bilhões para eles como fizemos nos últimos anos? Dinheiro de vocês, impostos de vocês, para fabricar carro aqui? Não. Perdeu a concorrência".
O vídeo foi divugado nas redes sociais por Tércio Arnaud Tomaz, seu assessor.
No comunicado distribuído na segunda-feira, 11, a Ford disse que está passando por reestruturação e que estuda modelos de negócios que possam gerar maior rentabilidade.
Em entrevista à CNN Brasil o vice-presidente, Hamílton Mourão, afirmou ter se surpreendido com a decisão da montadora e que ela poderia ter esperado mais antes de executar o encerramento da produção considerando o tamanho do mercado interno.
Já Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados, creditou o fechamento das fábricas aos problemas estruturais do País: "O fechamento da Ford é uma demonstração da falta de credibilidade do governo brasileiro, de regras claras, de segurança jurídica e de um sistema tributário racional. O sistema que temos se tornou um manicômio nos últimos anos, que tem impacto direto na produtividade das empresas".
Também houve surpresa por parte dos trabalhadores. Cláudio Batista, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté e Região, afirmou que a entidade foi surpreendida pela decisão da Ford. Segundo ele a categoria tem um acordo com a montadora que implica estabilidade no emprego até o fim deste ano.
“Fomos pegos de surpresa pela Ford, que me ligou por volta das 15h30 [da segunda-feira] para anunciar o encerramento das atividades. É importante ressaltar que essa é uma medida unilateral da Ford, intransigente, e que o sindicato vai fazer toda a luta necessária para reverter a situação.”
Após o anúncio do fim das atividades em Taubaté os trabalhadores passaram a se revezar em vigília, em protesto. No Palácio dos Bandeirantes, à noite, houve reunião com a participação do prefeito José Saud e com gente do sindicato e do governo estadual. Outra assembleia está prevista para 8h da quarta-feira, 13, na Câmara dos Vereadores.
Houve protesto também em Camaçari. Depois de se reunirem na porta da fábrica os trabalhadores da unidade seguiram em carreata para o Centro Administrativo da cidade.
De acordo com Júlio Bonfim, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, “na segunda-feira fui convocado pela Ford e nessa reunião esperava que a tratativa fosse referente aos 460 trabalhadores que estavam suspensos por contrato em lay-off. Mas fomos surpreendidos por um anúncio, por parte do presidente da América do Sul, informando da instabilidade econômica e das incertezas do País diante do governo federal".
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