São Paulo — Problemas com matéria prima e gargalos logísticos também assombram a operação da Volvo em Curitiba, PR, onde são produzidos caminhões e chassis de ônibus. A empresa entrou em 2021 com a meta de reduzir o tempo de entrega de veículos já negociados e de atender às demandas crescentes do campo por modelos pesados. Um caminhão seu, por ora, leva de três a cinco meses para chegar ao cliente.
"Vou usar uma metáfora: Somos um avião que precisa levar cargas e passageiros. Temos a melhor aeronave, a equipe mais preparada, só não temos o céu de brigadeiro", disse Wilson Lirmann, presidente da companhia, na terça-feira, 9, em transmissão online, referindo-se ao cenário esperado em 2021 no que diz respeito aos desafios à frente.
Para que as entregas fossem feitas o mais breve possível, após meses de produção parada em Curitiba e retomada gradual nas linhas no segundo semestre, a empresa observou como único caminho elevar ao máximo o ritmo na unidade. A partir de setembro, por exemplo, os volumes diários de caminhões pesados saltaram de cinquenta para 76 unidades. Mas havia algo a se considerar.
"Para elevar o nível de produção tivemos de realizar um trabalho muito importante junto com os fornecedores para saber se eles conseguiriam nos acompanhar. Apesar das dificuldades de cada empresa ainda havia outros fatores que poderiam nos atrapalhar, como os processos logísticos que se tornaram mais complexos por causa da pandemia."
O executivo afirmou que, no caso dos componentes, houve problemas com o fornecimento de aços especiais, pneus, e com semicondutores: neste caso, material importado, a empresa passou a contar com um prazo mais longo de recebimento do material, o que sobremaneira refletiu no ritmo da sua produção local. Lirmann afirmou também que a cadeia de fornecedores passou por reformulação com a entrada de novas empresas no lugar de outras que, de alguma forma, não conseguiram atender aos seus pedidos.
O equilíbrio na relação produção-demanda buscado pela Volvo é esperado para ocorrer no primeiro trimestre. Seu presidente disse que a questão do fornecimento é algo enfrentado não apenas na América do Sul, mas globalmente. O tema, inclusive, foi reconhecido pelo CEO Martin Lundstedt durante a divulgação dos resultados financeiros de 2020:
"A situação na cadeia de abastecimento é tensa em muitas áreas e haverá distúrbios na produção e aumento nos custos. Atualmente há uma escassez global de semicondutores em todos os setores. Como resultado, seremos forçados a adaptar a produção pelo menos durante o primeiro trimestre".
Custo maior refletirá em preço maior na ponta, afirmou Lirmann, que reconheceu que em algum momento do ano a montadorá deverá, mais uma vez, reajustar sua tabela de preços para o mercado brasileiro.
O aumento da produção levou a Volvo a trabalhar com um quadro maior em Curitiba. Quatrocentos funcionários temporários foram contratados de setembro a janeiro, configurando um contingente de 3,8 mil empregados na unidade. Mais da metade do total, ou dois terços, está alocada nas áreas produtivas da fábrica.
2020. A Volvo fechou o ano passado na liderança do segmento de caminhões pesados, segundo dados divulgados pela Anfavea em janeiro. Foram vendidas 14,5 mil unidades até dezembro, volume que representou queda de 12% na comparação com o registrado no acumulado de 2019. Seu modelo FH540 foi o best seller no ano passado, com 5,8 mil unidades emplacadas.
Houve crescimento de 34% nas vendas de modelos vocacionais, um nicho que a empresa tem explorado com as novas versões de caminhões da família VM. Foram emplacados 1,8 mil veículos desse modelo, sobretudo por clientes de setores como mineração, construção e de extração de cana de açúcar.
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