São Paulo – Pelo quarto mês consecutivo o mercado brasileiro de veículos registrou vendas internas na faixa das 8 mil unidades por dia útil. Poderia ser mais caso a indústria conseguisse operar em plena capacidade de cruzeiro, o que é impedido pela crise de fornecimento de semicondutores, que já parou fábricas e ainda gera uma ou outra interrupção pontual de linha.
“O problema dos semicondutores é que não conseguimos produzir o carro faltando uma peça ou componente, como é possível caso falte um para-choque ou um farol, por exemplo”, disse o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes. “Então fica essa situação de falta de alguns modelos. Mas não podemos generalizar, não dá para dizer que não cresce mais por falta de produto. São alguns modelos que estão com um ritmo acima”.
O presidente da Anfavea prefere não arriscar dizer que há demanda maior do que a oferta. Seu cálculo é com base na média diária: mantida a de 8 mil/dia até o fim do ano chegaria pouco abaixo do que a entidade projetou para 2021, 2 milhões 367 mil unidades, volume 15% superior ao do ano passado.
“Nessas projeções consideramos vacina mais acelerada, com um controle mais prematuro da pandemia e sem o abono emergencial”, relatou o executivo. “Mas, mesmo com tudo isso, ainda não temos qualquer expectativa em revê-la.”
Outro fator que mantém o executivo com o pé atrás é o aumento de custo. Os preços dos carros já foram reajustados desde o início do ano e ainda há margem para subir, até porque seguem crescendo os preços de matérias-primas, como o aço, e também o juro para financiamento de veículos.
“No caso do aço já passamos o recado para as siderúrgicas: quem paga o aumento do preço não somos nós, montadoras e fornecedores, são os consumidores. E com esses preços cada vez maiores a tendência é que chegue no teto, se é que já não chegou. E aí a demanda vai cair.”
Moraes admite que a indústria começou a olhar para o aço importado. “É algo que, no mínimo, está na mesa. Não faz diferença pagar caro no aço nacional ou no importado”.
Com relação aos juros a lógica é a mesma. O executivo reclamou que os juros para veículos sequer chegaram próximos à Selic, 2% ao ano: “Agora a Selic subiu para 3,5% e dificilmente você encontra planos com menos de 20% ao ano, se o consumidor tiver um risco aceitável. O juro no Brasil é caro, seja para veículo, seja para captação, comparado a outros países do mundo”.
Do outro lado, o da oferta, seguem as dificuldades com os semicondutores. Moraes acredita em resolução mais para o fim do ano e prevê “fortes emoções” para os próximos meses. Que é quando, possivelmente, teremos a resposta do paradoxo de Tostines: as 8 mil unidades/dia são o teto da oferta ou o teto da demanda?
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