São Paulo – Não bastassem a disparada dos preços de matérias-primas, a crise logística e a escassez global de semicondutores o olhar adiante de Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea, avista mais tormentas. A disparada da inflação, que puxa para cima a Selic e os juros para aquisição de veículos, o aumento nos custos da energia elétrica, o possível agravamento da crise hídrica e a instabilidade institucional do Brasil foram alguns temas abordados por ele na quarta-feira, 8, quando falou à imprensa na coletiva mensal organizada pela entidade.
Pouco mais de um mês após projetar taxa de juros para o CDC de veículos em 25% ao fim do ano o presidente da Anfavea já corrigiu sua estimativa, ampliando-a em 1 ponto porcentual: “A inflação veio mais forte do que imaginávamos e provoca reação do Banco Central, que acertadamente elevou a Selic de 4,25% para 5,25% no mês passado. Analistas já comentam que poderá ser 8% em dezembro, com o CDC na casa dos 26%”.
Ao fim de julho os juros médios para financiamentos ficaram em 21,9%, segundo o último relatório divulgado pelo BC. O IPCA-15 bateu 9,3% em agosto no acumulado dos últimos doze meses, escancarando o processo de elevação de preços na ponta, direto no consumidor – a indústria já vinha sentindo o aumento de custos, traduzido nos 31% de valorização do IGP-M e de 37% no IPA-M Industrial, no mesmo prazo de doze meses partindo de agosto.
“Isso eleva a preocupação com a capacidade de compra dos nossos consumidores. O ambiente econômico vem preocupando, agora com dados concretos que já afetam diretamente nosso negócio.”
Há mais pressão nos custos com o aumento do valor das taxas das contas de energia, mais um componente a colaborar para elevar a inflação. Moraes lembrou que, embora a indústria automotiva não seja voraz consumidora de energia, tem dentre seus fornecedores alguns setores que fazem muito uso em seu processo produtivo, como os produtores de aço e alumínio: “Indiretamente isso chegará às nossas operações. Sem contar o iminente risco de interrupção de fornecimento de energia. Aí bagunça tudo, porque pode ter apagão em um fornecedor que gera impacto em toda a cadeia”.
Moraes citou, também, o câmbio, outro fator de custo, até porque os preços de insumos e itens importantes, como o combustível, são afetados pela valorização do dólar: “Analistas comentam que o valor tecnicamente correto do dólar seria em torno de R$ 4,20 a R$ 4,30. Está majorado em pelo menos R$ 1 por causa da instabilidade política que vivemos no Brasil. Empresas exportadores não estão trazendo dólar para cá, deixando lá fora pela percepção de risco no País”.
A instabilidade institucional é outro fator, que, de acordo com o presidente da Anfavea, mexe com os negócios. A entidade foi uma das signatárias do manifesto pela harmonia dos poderes organizado pela Fiesp, que, por enquanto, ainda não foi oficialmente divulgado. Mas Moraes evitou apontar um culpado, limitando-se a dizer que os três poderes deveriam se entender.
Há também a pandemia: a variante delta preocupa a indústria, embora a vacinação no País siga avançando: “Não podemos declarar que vencemos a covid. Precisamos acelerar mais a vacinação porque esta nova variante pode trazer mais dificuldades”.
A crise de oferta dos últimos meses pode, agora, estar se encontrando, ou já estar andando lado a lado, com uma crise de demanda, na avaliação do presidente da Anfavea. Por isso a entidade mantém cautela e não mexe nas projeções: “Podemos já ter crise de demanda que ainda não conseguimos identificar. Hoje não sabemos qual o tamanho do mercado brasileiro e nem qual será após o fim da pandemia”.
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