São Paulo – Nesta reta final do ano as montadoras têm vivido verdadeiro equilíbrio de pratos na tentativa de distribuir a produção, sem prejuízos maiores, com o mercado doméstico e os de outros países. Apesar do dólar favorável, cotado em R$ 5,55, a falta de semicondutores e fatores como o Custo Brasil reduzem a competitividade do produto local. Adicionalmente, a escassez da moeda estadunidense na Argentina, um dos principais clientes do Brasil, também diminui as encomendas.
Em outubro, embora o volume exportado de 29,8 mil unidades tenha sido “relativamente bom”, conforme classificou o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes, em coletiva na segunda-feira, dia 8, o que representou alta de 26% ante setembro, na comparação com outubro de 2020 há queda de 15%. O crescimento mensal se deveu a alguns embarques que não puderam ser realizados no nono mês do ano e que, portanto, foram postergados para outubro, e pelo fato de algumas montadoras que sofreram com paradas na produção devido à falta de chips terem reorganizado suas exportações no mês passado.
Os problemas de falta de divisa da Argentina e a consequente limitação na importação de veículos, conforme pontuou Moraes, impactam o volume de exportações brasileiras. “Mas ainda assim continua sendo um mercado relevante, eles têm expectativa de encerrar o ano em 400 mil veículos no emplacamento local.”
No acumulado do ano os 306,8 mil veículos vendidos a outros países, principalmente Chile, Colômbia, Uruguai, Peru e Argentina, representam crescimento de 27% com relação ao período de janeiro a outubro de 2020, ano em que a produção foi reduzida devido à parada das fabricantes assim que a pandemia eclodiu no País. Mesmo motivo que levou ao crescimento de 45,9% dos valores obtidos com as vendas externas, US$ 6,2 bilhões, ante o ano passado. No entanto, frente a anos anteriores, como 2019, em que foram embarcadas 372,8 mil unidades no mesmo intervalo, e em 2018, com 562,8 mil veículos, a redução é brutal.
O presidente da Anfavea apontou que produção menor derivada da falta de semicondutores resulta em menor oferta para os mercados interno e externo. E que o impacto do dólar é muito forte, pois o fluxo de comércio exterior é intenso, uma vez que conta com grande importação de componentes, sistemas e módulos para atender as novas tecnologias:
“Nosso setor importa mais do que exporta, infelizmente, por isso defendo sempre o aumento das vendas a outros países para termos um hedge natural, que não conseguimos por causa saldo credor e do Custo Brasil que dificultam nossa competitividade. Então não temos 100% do benefício da exportação para atenuar a desvalorização do real, e temos pênalti com o aumento dessa desvalorização principalmente nesses momentos de instabilidade política. O desafio, portanto, é geral.”
E esse desafio pode se intensificar, com a paralisação parcial do porto de Santos, que no fim de semana fez com que as montadoras se mobilizassem para liberar a entrada de peças e não piorar o cenário de escassez decorrente da crise global dos semicondutores.
Foto: Ricardo Botelho/MInfra/Fotos Públicas