São Paulo – Quem passa pela frente da Audi House of Progress, estrutura provisória que a Audi montou na avenida Europa, em São Paulo, no mesmo terreno onde Ayrton Senna abriu o primeiro showroom da marca no Brasil, vê o primeiro Q3 Sportback Quattro produzido em São José dos Pinhais, PR. Após um ano paradas as linhas voltaram a montar modelos Audi, ainda em fase pré-série – a expectativa é que a produção comercial seja iniciada no segundo semestre de 2022.
“Não foi simples convencer a matriz: lá ninguém acreditava que seria possível [voltar a produzir no Brasil]”, disse Johannes Roscheck, presidente da Audi local. “O objetivo era fechar a operação. Eu não aceitei essa decisão.”
Os problemas de Ingolstadt, Alemanha, com a operação brasileira vêm de anos atrás, com origem em 2015, quando com o Inovar Auto a Audi voltou a produzir aqui. Na ocasião o governo prometeu devolver o valor dos 30 pontos porcentuais daquele que ficou conhecido como Super IPI, que incidia sobre carros importados, a quem substituísse a importação por produção local. A Audi o fez com o A3 Sedan e o Q3, mas jamais recebeu esse dinheiro.
O calote do governo chega a R$ 287 milhões, somando Audi, BMW e Mercedes-Benz, as três fabricantes que entraram na onda da produção local. A terceira já desistiu e vendeu, há alguns meses, a fábrica de Iracemápolis, SP, para a Great Wall. A maior parte, mais da metade deste valor, é devida à Audi.
Disse Antonio Calcagnotto, diretor de relações institucionais da Audi, que a solução nunca esteve tão próxima. A proposta costurada com o Ministério da Economia, com o apoio do governador do Paraná, Carlos Ratinho Júnior, é abater esse valor em impostos dos modelos produzidos. Depende dessa negociação com o governo a definição dos próximos passos, segundo o presidente Roscheck: o valor do próximo ciclo de investimentos será acordado a partir da resposta de se terá, ou não, esse crédito abatido.
“Nos próximos meses anunciaremos o nosso novo ciclo de investimentos. Ele tem relação com a negociação com o governo: se chegarmos a um acordo teremos condições de conseguir mais volume de produção.”
De toda forma, independente de o governo devolver ou não o valor devido à Audi, o martelo da produção local foi batido. Além do Q3 Sportback sairá das linhas o Q3, ambos com o motor 2.0 turbo e tecnologia Quattro, pela primeira vez produzida no Brasil. Roscheck disse que a capacidade será de cerca de 4 mil unidades por ano, em regime de montagem.
“É um volume insuficiente para desenvolvermos fornecedores locais. Ninguém investirá por um volume tão baixo. Claro que conversaremos com fornecedores de peças, mas nossa prioridade nesta primeira etapa é buscar fornecedores de serviços.”
As negociações a respeito da produção da nova geração do Q3, antecipadas pela Agência AutoData, se arrastaram por alguns meses. Em dezembro do ano passado a Audi interrompeu a produção do A3 Sedan no Paraná. Um ano fizera o mesmo com a geração antiga do Q3. Anteriormente a fábrica produziu modelos Audi até 2006.
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