São Paulo – Com tradução difícil para o português a palavra timing, em inglês, que significa algo como o momento exato, a oportunidade perfeita, surgiu à frente de Márcio de Lima Leite ao assumir a cadeira de presidente da Anfavea. É, na sua opinião, a hora de a indústria concentrar seus esforços na pauta da reindustrialização, diante de todo o contexto global de dificuldades logísticas e desarranjo da cadeia produtiva, que abre espaço para grandes investimentos.
Ele justifica: o pós-pandemia escancarou o erro de planejamento de concentração da produção em um ou outro local, mostrando a necessidade de desenvolver mais de um polo, com distribuição geográfica mais racional de fabricação de componentes. Assim, há uma busca por outros locais de produção, no qual o Brasil, por sua tradição de indústria automotiva, é rota natural para receber investimentos e novas linhas.
Dentro do governo, argumenta Lima, existe boa vontade. Ele cita como exemplo os semicondutores, o principal vilão do momento por sua escassez global: o governo compreendeu sua importância, abriu espaço para discussões e está montando um plano, em conjunto com a iniciativa privada e universidades, para atrair a produção deste componente para o Brasil.
“Podemos ter R$ 10 bilhões em investimentos para produção de semicondutores no Brasil, em parceria do poder público com o privado e com universidades”, disse, justificando não poder abrir mais pormenores devido a exigência de sigilo nas discussões. “Os players estão interessados em investir aqui.”
O presidente da Anfavea falava sobre o Plano Nacional de Semicondutores, em discussão no Ministério da Economia com ajuda do Parlamento. A intenção, segundo o deputado federal Vítor Lippi afirmou à Agência AutoData, é concluir este plano em até noventa dias.
Mas Lima acredita não haver oportunidades apenas nessa área. Indicou que o Brasil pode ir mais além, concorrer com outros países e atrair produção de mais componentes importantes para a indústria. Para isso, porém, é preciso atacar o custo Brasil, outro vilão, este velho conhecido da indústria.
O timing, de acordo com o executivo, é tão perfeito que nada pode tirar o foco dos executivos. Citou a atenção total demandada pela situação como justificativa para o adiamento do São Paulo Motor Experience, cuja “intenção é que seja realizado em 2023. O grande momento é esse, não podemos dividir a atenção, não podemos perder o timing. Todos os países estão se mexendo no mesmo sentido”.
Nas próximas semanas a Anfavea deverá se reunir novamente com o ministro da Economia, Paulo Guedes, com quem os representantes conversaram na semana passada, na ocasião da posse de Lima, e há cerca de um mês, na ocasião em que o ex-presidente Luiz Carlos Moraes foi chamado a compor o governo. A prioridade, segundo Lima, é avançar nas discussões da redução do custo Brasil para abrir caminho para os investimentos que podem chegar aqui.
Não haverá, argumenta ele, pleitos para redução de impostos específicos, como o IPI – do qual a indústria ficou de fora da segunda onda de redução, agora de 33%, no tributo: “O IPI faz parte de um estudo maior, está inserido no contexto da reforma tributária e da redução do custo Brasil. Mas, claro, há a expectativa de uma nova redução para os itens da indústria”.
Ele não crê, também, que a corrida eleitoral possa atrapalhar seus planos. Segundo Lima há tempo para realizar algumas coisas antes do fim do mandato do atual presidente e, no tempo certo, as discussões serão levadas aos demais candidatos ao pleito deste ano. Tudo em seu devido timing.