São Paulo – O recrudescimento da pandemia na China, onde a GWM, Great Wall Motors, nasceu há pouco mais de trinta anos, trouxe certo atraso aos planos de início de produção no Brasil. Entretanto, como nem todos os equipamentos utilizados na fábrica em Iracemápolis, SP, virão da matriz, mas da Suíça e da Alemanha, o atual planejamento da empresa prevê que isso ocorra dois meses depois do esperado, em março de 2023.
Enquanto isso a empresa, que debutará no mercado brasileiro com um modelo híbrido importado da China, já começa a estreitar conversas com fornecedores locais para que até 2026 consiga ter 50% ou mais de conteúdo nacional. Para o ano que vem ainda está mantido o plano de lançar veículo híbrido flex – o powertrain, neste caso, será chinês, com perspectivas de que em quatro anos seja possível pensar em localizá-lo também.
Foi o que afirmou Pedro Betancourt, diretor da GWM Brasil, durante o segundo dia do Seminário Compras Automotivas 2022, realizado de forma online pela AutoData Editora até quarta-feira, 25. Segundo ele a empresa formou grupo de compras diretas e estão sendo avaliados em torno de cem fornecedores que já foram contatados.
“Gostaria de desmistificar um dos grandes pontos que rodeiam a eletrificação, de que haverá grande impacto nas autopeças. Eu discordo violentamente. Vejo que já há movimentos por parte da indústria de autopeças em prol da eletrificação na mobilidade, que é um fenômeno irreversível e inexorável. A única coisa que muda é o sistema de propulsão. Os carros continuarão tendo roda, pneu, vidro, para-brisa, assento, acabamento interno, sistema eletrônico, porca, parafuso, arruela, anel de vedação etc.”
Pedro Betancourt
Betancourt apresentou cronograma com as fases de nacionalização da operação em Iracemápolis, antiga fábrica da Mercedes-Benz, para onde foi anunciado, no início do ano, investimento superior a R$ 10 bilhões, sendo de R$ 4,7 bilhões a R$ 4,9 bilhões no primeiro ciclo compreendido deste ano a 2026, o que inclui a aquisição da planta, a modernização do parque produtivo e o desenvolvimento da primeira linha de produtos e de fornecedores.
O restante se dará em segunda etapa de 2027 a 2032, dedicada a ampliar a linha de produtos e, se o mercado permitir, segundo ele, instalar fábrica de baterias que possa atender também a outras montadoras. Adicionalmente Betancourt prevê o estabelecimento de centro de pesquisa e desenvolvimento.
“A fábrica brasileira será primeira ao Sul dos Estados Unidos dedicada exclusivamente a veículos eletrificados. E, por sua vez, será a quarta empresa com unidade produtiva da GWM no mundo: as outras estão na China, Tailândia e na Rússia. Ela será a base de expansão nas Américas, incluindo México, e, sonhando um pouco mais alto, os Estados Unidos.”
Também estão nos planos ampliar a capacidade produtiva da fábrica de Iracemápolis de 20 mil veículos/ano para 100 mil até 2025. O executivo estimou que cada fase se estenderá por aproximadamente um ano, o que não é uma regra:
“Se alguma empresa forneceu a roda para um dos produtos não vejo porque não poderia vender para os outros também, o que abreviaria as fases. Talvez eu seja otimista demais, mas eu gostaria que até 2026 a gente esteja na fase de 50% ou mais de localização. Com essas condições de câmbio e logística o ideal é que tenhamos o fornecedor o mais próximo possível”.
A primeira fase compreende a localização de 10% dos componentes usados no veículo importado da China, que chegará em SKD mas que poderá dispor de pneus, rodas e vidros nacionais. Em Iracemápolis será feita a montagem final.
A segunda etapa prevê a ampliação da nacionalização a 25%, o que abrange sistema de exaustão, tanque, peças de interior, painel e bancos, além dos componentes localizados anteriormente. A importação se dará por meio de CKD e a fábrica brasileira fará a montagem bruta, pintura e montagem final de dois modelos.
Na terceira fase a nacionalização chegará aos 50%, ao agregar ao portfólio de componentes brasileiros peças estampadas e carroceria, peças injetadas, para-choques e chicotes elétricos. A importação será feita por IKD, kit veículo incompleto, de três modelos nessa etapa.
E finalmente na quarta fase o objetivo será localizar também sistemas elétricos e trem de força, além de sistema de refrigeração, adensando o índice para mais de 50%. Com isso será possível produzir aqui de três a cinco modelos híbridos e elétricos, além das baterias e da estamparia.
A GWM, que inaugurou recentemente escritório em São Paulo, projeta empregar 2 mil funcionários diretos até 2025 e faturar, anualmente, R$ 30 bilhões a partir de 2026.