Volume, hoje de 600 unidades, poderá representar 10% de sua produção anual
São Paulo – Uma das maiores apostas da Scania para promover a transição de tecnologias de propulsão menos poluentes do que o diesel são os veículos a gás. Embora desde 2016 fabrique caminhões e ônibus movidos por esse tipo de combustível os primeiros modelos começaram a ser entregues no mercado brasileiro em 2020, no qual a empresa contabiliza carteira com seiscentas unidades comercializadas.
Dois dos entraves presentes nos últimos anos para a expansão da oferta desse tipo de veículo, porém, a rede de abastecimento e a produção do insumo, tanto para biogás como para biometano, têm melhorado sua disponibilidade, assim como a própria Scania tem preparado suas linhas em São Bernardo do Campo, SP, para atingir o objetivo de mais que quintuplicar o volume emplacado até hoje.
O CEO da Scania Latin America, Christopher Podgorski, garantiu que a fábrica da Região do ABC possui capacidade máxima para a manufatura de quinze unidades por dia, o que multiplicado por 225 dias úteis de trabalho no ano equivale a potencial de 3 mil 375 veículos movidos a gás:
“A tecnologia já se provou e as contas fazem sentido. Estamos prontos para produzir. Embora não estejamos fabricando quinze caminhões a gás por dia aqui, hoje, podemos fazer agora essas mesmas seiscentas unidades em quarenta dias”.
A meta para 2022 é, de acordo com Podgorski, pelo menos dobrar esse volume de vendas.
Abastecimento – Frente aos percalços para assegurar o abastecimento de quem adquirir veículo com essa tecnologia de propulsão Munhoz contou que a Scania Brasil ganhou área dedicada à sustentabilidade, a qual possui a missão, dentre outras, de conectar as pontas:
“Estamos trabalhando com alguns distribuidores de combustíveis e de gás para facilitar as rotas azuis, estrategicamente importantes em termos logísticos, com postos espaçados que possuam capacidade de abastecer rapidamente caminhões”.
Ou seja: não basta ter apenas revendedores de gás, o que, sim, é encontrado com facilidade, mas para abastecer veículos de passeio. São necessários postos com capacidade para receber os pesados, sem limitação de altura e com compressor de alta vazão para propiciar abastecimento de 15 a 20 minutos para o caminhão.
Podgorski afirmou que o trabalho para estimular a ampliação da rede de postos tem sido feito há alguns anos e agora começa a dar frutos: “Existem atualmente três rotas azuis, de São Paulo ao Rio de Janeiro, de São Paulo a Belo Horizonte e de São Paulo a Curitiba. E a tendência é que essa disponibilidade se multiplique”.
A empresa que comprou parcela da Petrobras nas distribuidoras estaduais, a Compass Gás e Energia, do Grupo Cosan, lembrou Munhoz, vem trabalhando firmemente para ampliar significativamente a oferta de rotas azuis.
Produção – Quanto ao combustível a ideia é que o biogás seja o insumo eleito pelos caminhoneiros para a transição do diesel, de origem fóssil, e que aos poucos vá cedendo espaço para o biometano, cuja estrutura de abastecimento do posto e do veículo é a mesma, mas menos poluente.
Podgorski assinalou que o agronegócio está descobrindo que o que anteriormente era resíduo e passivo ambiental agora é possível se tornar um precioso ativo energético, verde e renovável.
Munhoz exemplificou que uma usina que está avançada na produção de biometano é a Cocal, no Estado de São Paulo. Embora ela ainda não esteja abastecendo sua frota o combustível já vem sendo distribuído na região de Presidente Prudente por meio de convênio com a GasBrasiliano. E há mais outras duas usinas, uma também no Estado e outra no Mato Grosso do Sul, que estão se preparando para fazer a conversão gradual da frota, segundo o executivo.
A Comgás possui 20 mil quilômetros de gasodutos e, todos os anos, investe pelo menos R$ 1 bilhão para ampliar a cobertura, bastante presente na Região Sudeste, e na sua capilaridade. O CEO da Scania destacou que a companhia já possui ofertas públicas para injetar, na mesma malha de gasodutos, o biometano certificado.
Há alguns anos falar de biometano era como vender areia no deserto, metaforizou Podgorski: “Como toda tecnologia nova existem pessoas que seguem a linha de São Tomé, de ver para crer, para só depois vermos o efeito ketchup, que você bate, não vem quase nada no começo, e depois vem tudo de uma vez. Nós acreditamos nisso”.
De acordo com o estudo da Bain & Company, apresentado durante evento para celebrar os 65 anos da Scania no Brasil, e sabendo do potencial de produção do biometano, passando pela transição do gás natural, foi identificado que na matriz energética brasileira o gás responderá por 15% do total: “Parece pouco, mas não é. Os outros 40% são veículos a combustão, que será pouco a pouco substituído por biodiesel e HVO”.
Podgorski reiterou que não há uma única solução para atingir carbono neutro em 2050: “Não existe uma bala de prata. Nem será tudo elétrico, nem diesel, nem híbrido. Será uma combinação de diferentes tecnologias que farão sentido com a fonte de energia limpa que estiver ofertada em determinada região.”