São Paulo – Pablo Di Si está de partida para Washington, Capital dos Estados Unidos, onde deve se instalar definitivamente no fim de setembro para assumir o posto de CEO do Grupo Volkswagen no país e da marca Volkswagen na América do Norte, que inclui também as operações no México e no Canadá. Em almoço com alguns dos jornalistas com os quais ele mais conversou no seu período no Brasil, antes de partir, Di Si mostrou estar feliz com o passado recente e com seu futuro na porção Norte das Américas, mas avisa: “Quando tudo isso acabar volto a morar aqui no Brasil”.
Ele deixa a direção da Volkswagen na América do Sul com o dever cumprido: a casa está arrumada para seu sucessor – ainda não divulgado –, com linha de produtos renovada, balanço no azul após muitos anos de prejuízo e um novo ciclo de investimento na região de R$ 7 bilhões aprovado no fim de 2021. No início deste ano Di Si foi nomeado chairman executivo da Volkswagen na América Latina e passou a direção da operação no Brasil para o COO Ciro Possobom, que também acumula o cargo de vice-presidente de finanças e de estratégia de TI.
Presidente da Volkswagen no Brasil e América Latina desde 2017 Di Si é possivelmente o argentino mais brasileiro que já dirigiu a companhia por aqui, quase sempre liderada por alemães. Por isso ele representa uma disrupção na cultura organizacional que impulsionou a transformação da empresa, hoje mais aberta no relacionamento com seus públicos. Não por acaso Di Si considera ser esta sua principal conquista por aqui: “Conseguimos transformar a Volkswagen e adotar o trabalho em equipe que venceu as dificuldades. Sem isso nada teria acontecido”.
Di Si chegou com o Polo, exatamente o primeiro dos vinte lançamentos que renovaram completamente o portfólio de produtos da Volkswagen no Brasil e na América do Sul nos cinco anos seguintes, incluindo a produção local de três SUVs, T-Cross e Nivus no Brasil e Taos na Argentina. Está deixando o posto depois de iniciar o projeto Polo Track, o novo carro de entrada, construído sobre versão simplificada da plataforma global MQB, que substituirá o icônico Gol.
Avanços locais – Dentre outras conquistas o executivo conseguiu convencer a Volkswagen a incluir o etanol e outros biocombustíveis em seu plano global de descarbonização, criando uma opção viável para países onde carros elétricos não são viáveis. Para isso fechou 27 parcerias com empresas do setor e universidades para desenvolver e promover o uso do bioetanol, além de criar dentro da planta Anchieta, em São Bernardo do Campo, SP, o Centro de P&D para Biocombustíveis, que no Brasil liderará as pesquisas da companhia nessa área.
Outra marca da gestão Di Si foi o avanço da digitalização na Volkswagen, algo que aumentou o protagonismo global da subsidiária brasileira no grupo. O sistema de infoentretenimento VW Play desenvolvido no Brasil hoje equipa carros da marca em cerca de setenta países.
O Nivus também é símbolo do progresso digital: foi o primeiro VW a ser projetado integralmente com ferramentas virtuais de engenharia, o que cortou pela metade o tempo de desenvolvimento e economizou alguns milhões de dólares em protótipos. Também foi o primeiro projeto exportado pela empresa no Brasil: hoje o modelo é produzido na Espanha para o mercado europeu com o nome Taigo.
Está aí algo que, na visão de Di Si, poderia ter ido além: “Avançamos muito na digitalização, mas poderíamos ter avançado de três a cinco vezes mais. É algo que meu sucessor poderá fazer”.
Nos Estados Unidos Di Si não deve precisar reverter nenhum prejuízo. Sua missão será acelerar o crescimento da Volkswagen no segundo maior e mais rentável mercado de veículos do mundo, onde a marca tem participação modesta de 2,5%. Para isso, ele diz, quer integrar ao máximo as operações da empresa nas Américas. Hoje os mercados da América do Norte são abastecidos pela planta de Chattanooga, no Tennessee, onde são produzidos o SUV de grande porte Atlas e o SUV elétrico ID.4 – a produção começou lá nesta terça-feira, 26 –, e a planta de Puebla, no México, que produz os SUVs Taos e Tiguan e o sedã médio Jetta.
Contador e administrador de empresas por formação, aos 53 anos Di Si entende que não precisará chegar aos 63 para se aposentar, na idade considerada limite no Grupo VW para pendurar as chuteiras. Antes disso ele diz pretender fazer exatamente o contrário: voltar a morar no Brasil, velejar e despendurar as chuteiras para jogar bola com os amigos – o futebol é uma de suas paixões: ele quase foi jogador profissional e é torcedor do River Plate. Se sobrar tempo seguirá na atividade de participar de conselhos de empresas, nos quais poderá continuar a dividir seu conhecimento e empatia.