São Paulo – A encrenca que envolve a negociação da Mercedes-Benz com o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, processo iniciado há pouco mais de um mês – a primeira reunião ocorreu em 13 de setembro – pode não ter chegado ao fim. Mas para a empresa a terceirização é condição fundamental para que ela retome a liderança do mercado de caminhões, posição perdida para a Volkswagen Caminhões e Ônibus no ano passado.
O vice-presidente de marketing, vendas e pós-vendas de caminhões da Mercedes-Benz, Roberto Leoncini, disse durante entrevista para a edição Perspectivas 2023 da revista AutoData, no ar em sua versão digital gratuita, que almeja alcançar 30% de participação do mercado. Mas problemas na entrega dos produtos, decorrente da falta de componentes, dentre os quais semicondutores, fez com que clientes migrassem de marca diante da indisponibilidade.
De fato a empresa foi uma das mais afetadas pela escassez de peças e realizou diversas paradas na produção desde o início do ano.
“Um dos nossos principais concorrentes [a Volkswagen Caminhões e Ônibus] que oferece linha completa, assim como nós, é quase 100% terceirizado. Eles têm capacidade de aumentar e de se retrair muito forte, justamente porque colocam a demanda para os fornecedores dentro do consórcio, dividem com eles essas variações, por exemplo, se vai ampliar ou reduzir os pedidos, se será necessário trabalhar com mais ou menos gente. No formato atual, extremamente verticalizado, nós não conseguimos fazer isto.”
Roberto Leoncini
A Mercedes-Benz decidiu terceirizar atividades como logística, manutenção, fabricação e montagem de eixos dianteiro e transmissão média, ferramentaria e laboratórios, o que põe em risco 3,6 mil empregos, sendo 2,2 mil diretos e 1,4 mil temporários,em São Bernardo do Campo, SP. “Estamos tentando proteger o emprego no ABC, buscando alternativas, preferencialmente, dentro da região. O trabalhador só não estará alocado como metalúrgico dentro da fábrica.”
Sobre a produção de eixos, que não existe hoje na Região do ABC, o executivo disse que o volume de profissionais é pequeno. E que mesmo assim a intenção é realocar seu emprego: “O maior baque é em logística, que tem bastante gente”.
Leoncini pontuou que ao alterar a equação do que a fábrica de São Bernardo está fazendo hoje – ferramentaria, logística dentro da fábrica e uma específica transmissão, além da produção da caixa de câmbio – o essencial não será modificado: “Ninguém está tirando o fígado, o coração e o pulmão para usar aparelho externo”.
Segundo o executivo essa questão da terceirização vem sendo analisada há bastante tempo, justamente pelo fato de o Brasil ser mercado cíclico, repleto de picos e vales: “A ideia é estarmos preparados para quando o mercado for alto e quando ele cair. Se não tivermos um custo fixo adequado ficará difícil nos mantermos economicamente atrativos, principalmente aos acionistas. Não podemos nos esquecer de que somos uma empresa listada na bolsa”.
Para o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Moisés Selerges, a esperança está em reverter essas demissões anunciadas, sendo 2,2 mil possivelmente por meio de PDV e outras 1,4 mil a partir da não renovação dos contratos, ao realocar esses empregos dentro da própria montadora, assim como já foi feito anteriormente.
Em 2014, lembrou Selerges, processo de negociação acabou reduzindo de forma substancial o setor de logística, época em que já havia sido aventada a possibilidade da terceirização da atividade.