São Paulo – Em cenário bastante peculiar o Brasil tem experimentado situação macroeconômica oposta à de países desenvolvidos, uma vez que por aqui o caminho traçado é de redução da inflação e de estabilidade dos juros, com tendência de queda em 2023, enquanto que na Europa e nos Estados Unidos a trajetória é a inversa, de incremento nos preços e nas taxas, com forte discussão acerca da possibilidade de recessão global.
Mesmo assim a projeção do o superintendente de pesquisas econômicas do Itaú, Fernando Gonçalves, é a de que o PIB brasileiro cresça 0,5% em 2023. No terceiro dia do Congresso Perspectivas 2023, realizado de forma online pela AutoData Editora até a sexta-feira, 28, ele disse que a razão para que essa desaceleração ocorra, diante da expectativa de que a economia avance 2,5% este ano, é a manutenção da taxa de juros em patamar elevado.
Embora tenha havido acentuada queda da inflação, que atingiu 12% em abril e deve fechar este ano perto de 5,5% sendo 5% no ano que vem, de acordo com as projeções do Itaú, o índice ainda está acima da banda de tolerância do Banco Central: “Isso mostra que é difícil imaginá-lo cortando juros agressivamente, apesar da queda muito forte da inflação, até porque ela não vai para um nível confortável para que haja esse corte”.
E um dos fatores é a inflação de serviços, que ficou represada no auge da pandemia e que agora pressiona os preços diante da forte demanda.
A Selic deverá ficar estacionada nos 13,75% ao ano até dezembro e ao longo do primeiro semestre do ano que vem, e só começará a cair no terceiro trimestre, fechando 2023 nos 11% ao ano: “A queda é pequena exatamente porque há esse fenômeno inflacionário. E o fato de os juros estarem subindo lá fora também diminui a capacidade de cortá-los por aqui, pois se reduzimos muito o câmbio se desvaloriza e gera pressões inflacionárias, exatamente o que o BC não quer”.
Os juros médios de economias desenvolvidas, que antes beirava o zero hoje estão em 2% e a expectativa é que cheguem a 3,5%. Nos Estados Unidos deverá atingir 5%. O que fará com que o dólar se fortaleça frente às moedas ao redor do mundo. No caso do Brasil, um dos únicos países cuja moeda se valorizou ante a estadunidense, também se deveu ao fato de os juros já estarem elevados.
Tanto que o Itaú projeta R$ 5,25 para este ano e R$ 5,50 para o fim o ano que vem. A tendência mundial do dólar, entretanto, sugeria um dólar a R$ 6,20 em 2022 e de R$ 6,50 em 2023, afirmou Gonçalves. Ele observou que isto normalmente atrai o investimento estrangeiro mas que, diante das incertezas da eleição, os investidores estão em compasso de espera.
Seja por causa do cenário externo de juros mais altos ou pela inflação de serviços, portanto, o especialista reforçou que vê o BC mantendo juros altos por período prolongado tendo como consequência a desaceleração da economia. Ele lembrou que um dos fatores que contribuíram para dar força ao PIB este ano foi a valorização das commodities, que em 2023, diante da esperada redução da demanda, deverá ter seus preços diminuídos também.
Não fosse o cenário de desaceleração global a perspectiva de crescimento do PIB do Brasil seria de 0,2 ou 0,3 ponto porcentual a mais, para 0,7% ou 0,8%, citou o economista, ao ponderar que no ano que vem os desafios da parte fiscal continuarão.
Mesmo assim, ele acredita que o fato de o Brasil estar fora de conflitos geopolíticos e dos reflexos que eles trazem gera muitas oportunidades de negócio que podem se concretizar em 2023. Inclusive no setor automotivo, com possibilidades de ampliação da produção e da reconstituição dos estoques.