Incertezas na economia fazem Abla projetar 550 mil em vez de 700 mil unidades
São Paulo – A equação de problemas herdados do ano passado com os primeiros passos do novo governo fizeram com que a Abla, Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis, revisasse para baixo sua perspectiva de compras de veículos 0 KM para 2023. Em vez de até 700 mil unidades agora são aguardadas 550 mil, uma redução da ordem de 20%.
De acordo com o presidente da entidade, Marco Aurélio Nazaré, há uma preocupação do setor com relação à escassa oferta de crédito, às elevadas taxas de juros, à instabilidade do mercado e à redução do efetivo poder de compra do consumidor, haja vista que boa parte dos postos de trabalho gerados em 2022 remuneraram menores salários:
“Existe toda uma expectativa sobre como, de fato, será o desempenho da economia este ano e uma preocupação acerca de como ficará o custo do capital. Observa-se que o valor acima da meta do orçamento, em torno de R$ 200 bilhões, causará impacto inclusive sobre a inflação, até porque dinheiro no mercado sem lastro é gerador de inflação, o que reflete nos preços de compra de carro”.
Nazaré assinalou que há especialistas considerando a manutenção da taxa Selic aos 13,75% ao ano, em vez da redução em 2 pontos porcentuais aguardada a partir do segundo semestre, o que, se confirmado, deverá encarecer os preços dos veículos e “isto deixará o setor fragilizado, pois a renovação da frota exige aporte de capital expressivo”.
O IPCA, que mede a inflação oficial do País, encerrou 2022 em 5,79%. Diante da incerteza o presidente da Abla justificou que a entidade preferiu optar por projeção mais conservadora que, inclusive, poderá ficar abaixo do esperado para 2022 – o balanço oficial será publicado em março.
A Abla agora prevê a compra de 550 mil veículos por parte das locadoras, mesma perspectiva da Anfavea, enquanto que em novembro, durante a divulgação do balanço acumulado até outubro, a expectativa era de 600 mil a 700 mil carros em 2023.
Vale lembrar que 2022 foi marcado por retomada de entregas para as locadoras, que driblaram um primeiro semestre marcado por ajustes na produção automotiva, fortemente impactada pela escassez de componentes.
O presidente da entidade criticou, entretanto, política comercial mais conservadora por parte das montadoras, o que dificulta a negociação e a obtenção de preços menores e, segundo ele, pode ser agravado se o contexto econômico não inspirar confiança.
Tanto que foi criada no ano passado plataforma para que as locadoras se juntem ao realizar compras: com maior escala é possível obter valores mais competitivos.
Movimento sem volta – Para Nazaré, apesar das dúvidas que podem rondar o cenário econômico em 2023, a pandemia trouxe mudança irreversível na cultura do brasileiro com relação à locação.
E dois fatores ajudam a explicar a adesão crescente à modalidade, principalmente por dois extremos, tanto pelo consumidor que dispõe de R$ 100 mil para adquirir um carro 0 KM mas que prefere aplicar o dinheiro, a fim de obter maior rentabilidade, como daquele que, devido à perda do poder de compra, não consegue obter recursos para deter a posse de um automóvel.
“As pessoas estão começando a entender que o uso é mais barato do que a posse. E isso não tem volta. É melhor ter uma mensalidade, ou diária, que caiba no bolso, mas usufruir de veículo novo, do que desembolsar com financiamento, manutenção, seguro e depreciação na venda. Antes a posse era vendida como investimento, o que deixou de ser há muito tempo.”
Ele exemplificou que R$ 100 mil aplicados podem trazer rendimento líquido mensal de 1,2%. E que com os juros na casa de 30% ao ano, em três anos se paga o equivalente a dois carros.
“Estamos apenas começando nesse negócio no Brasil. Aqui temos em torno de um terço do que se vê na América do Norte, por exemplo. Lá fora a cultura da locação é muito mais disseminada.”
Nazaré acredita que ao longo da próxima década todos os anos deverão apresentar crescimento frente ao anterior. E, nos próximos três anos, a aposta é a de ampliação da receita acima de dois dígitos, assim como em 2022: “Nesse mercado o céu é o limite”.