Ampliação de rede concessionária com novo conceito faz parte da estratégia
São Paulo – Desde que aportou como empresa no Brasil, em 2015, a Porsche vem ampliando sua presença no mercado com crescimento médio de 23% ao ano no volume de emplacamentos. Em 2022, porém, diante de problemas geopolíticos e pandêmicos que afetaram a produção, além da menor disponibilidade de contêineres e navios para fazer o transporte de veículos, as vendas avançaram apenas 4%, totalizando 3 mil 202 unidades.
Neste primeiro trimestre, entretanto, a empresa começou a virar a página e a vislumbrar voltar a expandir os emplacamentos nessa mesma base de dois dígitos, até para recuperar o baixo crescimento de 2022 – o que, para a companhia, é visto com bons olhos, uma vez que outras marcas também encerraram o ano com recuo na importação de veículos.
Em sua primeira entrevista à imprensa desde que assumiu o cargo, em setembro, o presidente da Porsche Brasil, Peter Vogel, disse que o IPO da companhia, realizado no mesmo período, foi parâmetro fundamental para tornar a empresa mais independente. Há 26 anos na Porsche Vogel elogiou o desempenho no Brasil, que considerou como “muito bom”, ao avaliar que o País possui importante mercado de veículos esportivos com bastante espaço para crescer.
“Emplacamos 3 mil 202 unidades em 2022. Gostaria de ter entregue mais carros, mas houve limitações, principalmente por causa da guerra na Ucrânia e da dificuldade no fornecimento de componentes.”
Para este ano, porém, o executivo está mais otimista, pois, além de conseguir ampliar a produção, parte de seu plano para expandir as vendas inclui a abertura de mais uma concessionária em São Paulo, primeira cidade a abrigar duas revendedoras Porsche, e onde está seu principal mercado brasileiro: a Porsche Center São Paulo Oeste foi inaugurada na terça-feira, 28, na Zona Oeste, em espaço que anteriormente abrigou revendedora Chevrolet Carrera.
“É muito importante aumentar a rede de concessionários e também avaliar novos formatos como o que estamos apostando neste espaço, com o conceito destination, ou destino de convivência, que trata de prover ambiente amplo com design que nos deixa à vontade e convida a visitar, realizar reunião de trabalho, desfrutar o bar. É uma prova de que oferecemos não só carros mas, também, um estilo de vida.”
Vendas no mercado local quase dobraram no primeiro bimestre
Nos dois primeiros meses de 2023 foram emplacados 606 veículos Porsche, avanço de 91,8% frente ao período de janeiro e fevereiro do ano passado, com 316 unidades.
“Este ano teremos crescimento significativo com relação ao ano passado. Não posso afirmar que dobrará, porque isso depende da produção”, assinalou Werner Schaal, diretor de vendas da Porsche Brasil. “Mas posso dizer que será significativamente maior. Estamos bastante otimistas.”
Schaal justificou que o resultado do bimestre se deveu ao maior volume de produção do fim do ano passado ao início deste ano, pois leva um tempo até que os veículos cheguem ao Brasil: “No ano passado poderíamos ter vendido mais e tivemos um bom resultado considerando as circunstâncias, pois temos a guerra na Ucrânia e problema generalizado no fornecimento de componentes. E mesmo assim conseguimos ficar 4% acima de 2021, o que considero uma vitória”.
De fato, na média das onze associadas à Abeifa, houve queda de 17% nas vendas de importados ao longo do ano passado, totalizando 21,1 mil unidades. No ranking da entidade a Porsche terminou 2022 na terceira colocação – em 2021 ela havia ficado fora do pódio – ao passo que no primeiro bimestre deste ano, apesar de quase dobrar o volume de vendas as 606 unidades garantiram o quarto lugar até o momento, com fatia de 13,5%.
Schaal contestou a perda de market share: como a lista inclui todo tipo de veículo importado e o seu foco está no segmento premium, é neste ranking que a Porsche está de olho. No ano passado foram comercializados 38 mil 751 veículos de luxo no mercado brasileiro, volume 13,8% menor do que em 2021.
Deste total a Porsche detém 8% de participação ao passo que em 2021 eram 6,8%. O ganho de market share garantiu a sexta posição, o que é visto com bons olhos pela empresa pois ela não compete em todos os segmentos.
De janeiro a fevereiro de 2023, no entanto, o setor premium já registra um avanço de 9,5% frente aos dois primeiros meses do ano passado.
“A demanda no Brasil existe”, disse o diretor de vendas. “Não podemos, no entanto, desconsiderar o ambiente político e econômico. É que o segmento premium tem características específicas e mantém, de certa maneira, estabilidade.”
Em torno de 30% dos carros Porsche vendidos no País são financiados. Schaal ponderou que, apesar do cenário de juros elevados, a decisão por pagar a prazo o veículo de luxo não se deve, muitas vezes, ao fato de o cliente precisar dessa ferramenta, mas ao custo de oportunidade: “Muitas vezes é mais interessante deixar os investimentos intactos no banco, rendendo, do que retirá-los e pagar pelo carro à vista”.
A estabilidade do câmbio também conta a favor da importadora, uma vez que a projeção é a de que o dólar continue na casa dos R$ 5,30.
Avanço da eletromobilidade no Brasilé aposta da marca
O objetivo da Porsche para este ano é manter participação de modelos híbridos e elétricos no portfólio de vendas brasileiras, que no ano passado ficou em 39% do total. Atualmente comercializa localmente o Taycan 100% elétrico e os híbridos Panamera e Cayenee.
Em um carregador ultrarrápido de 350 KW, como o que foi instalado na Porsche Center São Paulo Oeste, em 23 minutos recarrega-se de 5% a 80%, contou o CEO Peter Vogel: “E o Brasil ainda tem algo muito especial, pois 75% da energia produzida localmente provêm de hidrelétricas e de outras fontes renováveis. Isso é único. Por isto o que o País precisa é de eletromobilidade e não de mais modelos a combustão”.
Para os próximos anos a expectativa é ampliar o porcentual de participação nas vendas no Brasil, uma vez que a próxima geração do Macan e do Boxter serão elétricas. Vogel assinalou que em dois ou três anos o objetivo é vender mais híbridos e elétricos do que veículos a gasolina. E até 2030 a Porsche quer que 80% de seu portfolio global seja elétrico e, os outros 20%, híbridos ou a combustão.
Embora no Brasil exista o etanol como opção menos poluente o CEO da Porsche disse acreditar que “tudo o que queima não é bom”. Mas que, diante dessa possibilidade, os híbridos são excelente caminho para a transição no País.
Outros fatores importantes deverão ajudar no projeto global da marca no Brasil para ampliar sua fatia de mercado são experimentação com clientes, eventos, marketing, treinamentos e capacitação da rede, além de estoque de peças em armazém próprio.