São Paulo – Uma das agendas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em sua viagem à China foi uma reunião com Wang Chuanfu, o CEO da BYD. A portas fechadas e sem a presença de imprensa, oficialmente os dois conversaram na quinta-feira, 13, segundo comunicado divulgado pelo Palácio do Planalto, “sobre as políticas públicas chinesas que deram ao país uma indústria forte de veículos elétricos e a ampliação de sua adoção, tanto de carros de passeio como ônibus no transporte público”. Mas, segundo a Agência Reuters apurou com fontes presentes no encontro, o presidente da BYD reafirmou o compromisso da empresa de construir fábrica de automóveis elétricos na Bahia e disse que a decisão independe de comprar, ou não, a estrutura da Ford em Camaçari, BA.
As fontes informaram à agência que as discussões da BYD com a Ford prosseguem e que um grupo de trabalho deverá ser criado com a presença de executivos das duas empresas e de técnicos do governo do Estado da Bahia e do governo federal para tentar resolver o impasse. Durante as conversas, porém, foi colocada na mesa a alternativa de usar outro terreno para construir uma fábrica do zero: os chineses afirmaram não haver problemas pois, recentemente, uma nova unidade foi erguida na China em apenas nove meses e a adaptação do complexo Ford, que fazia carros com motor a combustão, poderia ser mais demorada do que construir uma nova estrutura, disseram os executivos da BYD segundo as fontes.
Em outubro passado BYD e governo da Bahia assinaram protocolo de intenções para investimento de R$ 3 bilhões para a construção de uma fábrica de veículos de passeio e comerciais pesados elétricos e de processamento de lítio e ferro fosfato. Naturalmente, por existir ali uma estrutura que antes produzira veículos, o complexo de Camaçari surgiu como candidato a ser a futura fábrica. Desde então Ford e BYD negociam.
O interesse do governo da Bahia em voltar a sediar uma fábrica de automóveis e recuperar os empregos perdidos com a saída da Ford é grande. No domingo, 9, o governador Jerônimo Rodrigues visitou duas linhas de produção da BYD na China, segundo o portal Autos & Motos, do jornalista Roberto Nunes. A de Hangzhou produz ônibus e a de Chengzhou carros de passeio 100% elétricos. As duas produzem mais de 400 mil unidades por ano e empregam em torno de 9,2 mil pessoas.
Ainda há pontos a serem destravados também com os governos, segundo o Autos & Motos: o governador afirmou à imprensa baiana que existe demanda de incentivos estaduais e federais: “Os estaduais eu respondi e o [presidente] Lula responderá sobre os federais. Um exemplo: eles pedem que os compradores de carros elétricos tenham isenção de IPVA, para estimular a compra desses veículos”.
Procurada a BYD não retornou à reportagem.
Setor em evidência
A indústria automotiva está sendo colocada na lista prioritária dos temas do governo Lula neste início de terceiro mandato. Em recente conversa com jornalistas o presidente lembrou que, em seu governo passado, o setor chegou a produzir 3,8 milhões de veículos por ano e projetava chegar a 6 milhões de unidades em poucos anos.
A intenção do governo é destravar o crédito, de imediato, para estimular as vendas, e voltar com o carro popular, além de estender o Renovar, o programa de renovação de frota de caminhões e ônibus, para o segmento leve.
“Eu já disse ao companheiro [vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços Geraldo] Alckmin que convidasse a indústria automobilística e que convidasse os companheiros dirigentes sindicais do setor automobilístico, para ter uma conversa. Não é ter uma conversa para discutir se a gente vai incluir IPI, se a gente vai fazer qualquer coisa. Não, essa conversa já fizemos há muito tempo. É preciso ter uma discussão mais profunda. O que a gente quer da indústria automobilística brasileira? Porque eles também têm que assumir a responsabilidade de facilitar o financiamento”.
Segundo disse o presidente a ideia é que o governo ceda, com alguma política de isenção fiscal, mas espera também contrapartidas do setor:
“A gente está com dificuldade de exportar porque as matrizes não permitem que a gente exporte para o continente africano, porque é elas que exportam. A gente não exporta para a América Latina porque elas exportam. Nós não temos mercado interno para trinta indústrias. Então é preciso ter uma discussão e eu pretendo discutir com a Anfavea com muita seriedade, com os dirigentess sindicais: qual é o futuro da indústria automobilística no Brasil? E aí me interessa a ideia da produção de carro elétrico do Brasil, de carro elétrico, de ônibus elétrico. Essa discussão vai acontecer nos próximos dias.”