São Paulo – O tema colocado na pauta pelo presidente da Fenabrave, José Maurício Andreta Júnior, durante o Seminário Megatendências 2023, organizado pela AutoData Editora, está nas rodas de conversas de executivos do setor e nas mesas de discussão com o governo, um dos maiores interessados na volta do carro a preços mais baixos, já chamado de carro verde de entrada. Márcio de Lima Leite, presidente da Anfavea, confirmou durante entrevista coletiva de imprensa na segunda-feira, 10, a existência dos planos, mas deixou claro que ainda está em fase bem embrionária e que a entidade não os deverá colocar na lista de seus pleitos prioritários.
Segundo o presidente não se trata de tema que alcance todas as suas associadas, embora tenha a sua importância setorial: beneficia uma ou outra e as discussões, portanto, deverão ser tocadas individualmente. Mas deu uma estimativa de impacto: um adicional de 300 mil unidades no mercado já em 2023.
“Não participamos diretamente das discussões, mas como entidade setorial automotiva somos consultados. O que ouvi, em conversas, é que a ideia é alcançar um carro com preço de venda de R$ 45 mil a R$ 50 mil. Precisamos agora ver se seria factível, se haveria renúncia tributária. Estamos mais na fase do exercício do que da previsão.”
Ele lembrou que, há trinta anos, na ocasião da discussão do carro popular, foram necessárias adaptações como a retirada do espelho retrovisor do lado do passageiro, para reduzir os custos. Afrouxar os itens de segurança, porém, não parece estar nos planos da Anfavea, que deseja uma frota mais segura e mais limpa.
Para isto, segundo Lima Leite, há outro assunto em discussão no governo: o plano de renovação de frota de leves, que foi revelado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Um pode, ou não, estar relacionado com o outro, mas ambos são positivos para o desejo do governo, que é o de reaquecer um mercado que iniciou 2023 com números decepcionantes.
“Um programa de renovação de frota seria um bom passo no sentido da descarbonização. Substituiremos carros de quinze, vinte anos de uso, por outro mais novo, que tem menos emissões. É mais do que uma questão de reaquecimento do mercado, é uma questão social.”
Além do mecanismo proposto por Haddad, de usar o fundo das petroleiras, Lima Leite sugeriu um programa semelhante ao adotado no Chile no ano passado, que alavancou as vendas de veículos. Lá o cidadão poderia usar parte de um fundo, como o FGTS aqui no Brasil, para comprar um modelo 0 KM: “Com planos assim poderíamos superar em muito as vendas do ano passado”.
Os dois temas, porém, não parecem ser prioritários para a Anfavea, que está debruçada na segunda fase do Rota 2030, que deverá ser finalizada em junho: “Estamos focando em pesquisa e desenvolvimento, que são coisas que ajudam a melhorar o País. Hoje 36% da P&D brasileira se dá pela indústria automotiva. Estamos exportando engenharia”.
Mais urgente do que tudo isso, segundo ele, é a questão das altas taxas de juros. Recentemente a Anfavea se reuniu com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e expôs a situação do setor. Não há, porém, nada em discussão pós-visita: a solução é engrossar o coro com o governo pela redução da taxa Selic pelo BC.