Produção, que terá início no fim de 2024, implica a efetivação de 700 operários
São Paulo — A Toyota anunciou na quarta-feira, 19, investimento de R$ 1,7 bilhão para produzir novo veículo híbrido flex em sua fábrica de Sorocaba, SP. A perspectiva é iniciar a produção no fim de 2024. Para isto serão efetivados setecentos empregados na unidade e na planta de motores de Porto Feliz, SP.
O aporte contará com recursos do programa Pró-Veículo Verde, do governo do Estado de São Paulo. A estimativa é liberar, ao longo de quatro anos, R$ 1 bilhão em créditos de ICMS gerados principalmente a partir de exportações da Toyota.
O anúncio, conforme a Agência AutoData antecipou em setembro, já fazia parte dos planos da companhia desde meados do ano passado, e a ideia era que a divulgação fosse feita até dezembro. No entanto, segundo o presidente da Toyota, Rafael Chang, foi necessário esperar um pouco mais para fechar o acordo com o governo paulista, para destravar a liberação dos créditos de ICMS, com sua calendarização, que deu previsibilidade à fabricante e contribuiu para acelerar a aprovação do projeto e começar a tirá-lo do papel.
Chang não adiantou pormenores do veículo, não disse em qual modelo será inspirado nem faixa de preço ou nome, mas garantiu que será um compacto totalmente novo, com duas versões, uma só com motor a combustão para ser o novo modelo de entrada da Toyota – que desde o fim da da venda do Etios, em 2021, perdeu seu carro mais popular no País –, e outra híbrida flex, assim como ocorre com o sedã Corolla e o SUV Corolla Cross, respectivamente primeiro e segundo veículos híbridos flex fabricados no Brasil.
“A tecnologia utilizada será a mesma que a do Corolla, que combina dois motores, um a combustão interna flex e outro elétrico que não precisa de tomada para se recarregar”, explica Chang.
O presidente da Toyota contou que o novo carro terá participação da engenharia brasileira e utilizará um dos motores a combustão fabricados em Porto Feliz – não à toa duzentos dos setecentos empregos gerados para a produção do novo modelo serão alocados na unidade de motores, os outros quinhentos em Sorocaba. Na realidade, contou Chang, estes postos já existem, hoje são contratos temporários de trabalho que serão efetivados para realizar o lançamento.
“Por enquanto a parte híbrida será importada, com as baterias vindas do Japão, mas montaremos os motores [a combustão] em Porto Feliz. Ponto importante do projeto é que estamos aumentando o volume de hibridização no Brasil, o que criará escala para fazer, um pouco mais adiante, a localização dessas peças.”
Segundo o executivo, somando o Prius, primeiro híbrido da Toyota lançado há dez anos no Brasil, com o Corolla e Corolla Cross, respectivamente no mercado desde 2019 e de 2021, os três modelos representam quase 40% de toda a frota eletrificada em circulação no Brasil.
Os ajustes na linha de produção nas duas fábricas paulistas já estão começando a ser feitos, assim como o trabalho com os fornecedores que serão envolvidos no projeto para que, até o fim de 2024, o veículo comece a ser produzido e comercializado.
Do investimento total de R$ 1,7 bilhão a maior parcela, R$ 1 bilhão 630 milhões, será para desenvolver o novo carro nas versões a combustão e híbrida. O restante será usado para a atualização do Corolla Cross.
Híbrido mais acessível
Segundo o governador do Estado de São Paulo, Tarcísio de Freitas, a importância do anúncio, realizado em solenidade no Palácio dos Bandeirantes, é que, além de contribuir com a produção de um veículo menos poluente, por ser um modelo compacto a tecnologia ficará mais acessível a um maior número de pessoas: “Será a possibilidade de mais brasileiros experimentarem um veículo híbrido flex”.
Chang assegurou que o veículo promoverá a acessibilidade à mobilidade: “Se focarmos somente nos segmentos mais altos não teremos ganho ecológico nenhum”.
Freitas assinalou que uma das propostas do seu governo é destravar a liberação de créditos do ICMS para que eles sejam transformados em investimentos e contratação de pessoas: “A ideia é que o Estado de São Paulo retome seu protagonismo na economia nacional, o que foi deixado de lado nos últimos anos”.
O governador, no entanto, ressaltou que, mesmo nos momentos de crise, a Toyota nunca se afastou do Estado e, agora, aposta no que ele chamou de vocação de São Paulo, que é a transição energética e o carro híbrido flex.
“Tenho a certeza de que esta é uma fortaleza que o Brasil possui. Poderemos usar o elétrico ou o carro com o etanol. Do ponto de vista ambiental é muito importante e é uma tecnologia que, seguramente, poderemos exportar para vários países. Veremos o híbrido flex ganhando cada vez mais mercados.”
Os motores a combustão, híbridos e o novo carro serão exportados para 22 países, de acordo com Rafael Chang, principalmente para a América Latina. Índia também está nos planos uma vez que está interessada no etanol e também no motor flex. O Corolla Cross, por exemplo, já foi apresentado a este mercado.
A Toyota apresentou o projeto do novo carro ao programa Pró-Veículo Verde, instituído em março do ano passado pelo governo estadual, a fim de reaver parte dos créditos acumulados – no caso, R$ 1 bilhão. A ferramenta parcelará a devolução deste crédito ao mesmo tempo em que a empresa fará novo investimento.
Este crédito, segundo Rafael Ceconello, diretor responsável por assuntos estratégicos na Toyota, é gerado majoritariamente pela exportação mas, às vezes, o próprio tipo da operação automotiva o produz: “O projeto ganhou priorização [do governo paulista] por ser Pró-Veículo Verde. Ou seja: a empresa está oferecendo um produto que contribui com a descarbonização no País”.
O governador Freitas afirmou que a iniciativa integra objetivo de criar um ecossistema necessário para ter o investimento: “Aquilo que vale para Toyota vale a todas as outras empresas. A partir do momento em que projetos são apresentados buscaremos incentivá-los substituindo capex [gastos em ativos] por tributo, por exemplo, devolvendo crédito de ICMS, e para alguns setores estudaremos novas reduções de alíquota. Queremos um Estado cada vez mais competitivo ao diminuir a pressão sobre o setor produtivo, assim como a carga tributária.”
Até o momento este é o maior valor de aporte programado no âmbito do Pró-Veículo Verde, aprovado em 10 de abril, após análise da Comissão de Avaliação da Política de Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo, composta por integrantes das secretarias da Fazenda, do Planejamento e de Desenvolvimento Econômico.
O IncentivAuto, programa instituído pelo governo anterior que propunha desconto no ICMS em troca de investimento mínimo de R$ 1 bilhão e geração de quatrocentos postos de trabalho, não foi utilizado neste projeto.