São Paulo – A despeito do resultado da reunião do Copom, Comitê de Política Monetária, do Banco Central, que optou pela manutenção da taxa básica de juros em 13,75%, patamar vigente desde agosto do ano passado, a Renault reforça o coro das montadoras e garante que é fundamental que haja a redução da Selic para destravar as vendas. Mas completa que outro ponto crucial são contrapartidas do governo, por exemplo, para estimular o carro verde e a produção em maiores quantidades de veículos de entrada, que possam chegar ao consumidor que deseja o carro 0 KM mas que, diante do contexto atual, migra para o seminovo.
Segundo Bruno Hohmann, vice-presidente comercial da Renault do Brasil, este é um ano de mudanças: “No ano passado faltavam carros por causa da crise de componentes. Agora que a disponibilidade de peças voltou nos encontramos em um momento em que um carro mais equipado do que três anos atrás, devido às normas de emissão e de segurança, atrelado à Selic mais alta, criou cenário em que muita gente saiu do mercado de 0 KM”.
Hohmann contou que esteve em Brasília, DF, na semana passada, em comitiva da empresa, e que os executivos voltaram satisfeitos por terem sido recebidos e suas demandas escutadas por representantes do MDIC, Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, incluindo o ministro e vice-presidente Geraldo Alckmin e a diretora do departamento de desenvolvimento da indústria de alta-média complexidade tecnológica, Margarete Gandini.
O executivo, que participou do lançamento da primeira concessionária da Renault composta 100% por mulheres, a Women@RPoint na quinta-feira, 3, também disse que há cenário inteligente para o governo, porque a partir do momento em que se permite que o cliente do carro usado compre um novo arrecadação é gerada. Ao passo que o usado envolve apenas a transação de transferência.
“O segmento de veículos seminovos de um a três anos de uso segue pujante. Clientes que compravam o novo migraram. Mas o sonho de mobilidade do brasileiro é o 0 KM. Qualquer discussão neste caminho para aquecer este mercado, assim, é importante.”
O executivo lembrou que quando o Kwid foi lançado havia mercado para veículos sem ar-condicionado e direção hidráulica. Hoje, porém, o carro básico deixou de existir. Ele lembrou que todo Kwid, agora, tem ar, direção, vidros e travas elétricos, rádio, quatro airbags, controle de estabilidade e controle de rampa.
Governo será principal parceiro das montadoras para aquecer vendas
A base para trabalhar a proposta do carro verde é o Kwid, que segundo Bruno Hohmann possui alta eficiência energética, igual à dos híbridos flex no Brasil: “O Kwid é um carro verde. Não precisa trabalhar e enriquecer demais o produto. Em emissões de CO2 é um dos mais eficientes do País. E é um carro de entrada”.
A solução para vendê-lo mais, portanto, seria reduzir o seu preço na dependência de benefício concedido pelo governo: “Cada empresa tem uma visão sobre como aquecer o mercado. Quando estivemos lá eles foram super atentos. Acho que eles gostaram da nossa proposta”.
Hohmann, entretanto, falou sobre o que acredita que não funciona para elevar as vendas: “O governo passado reduziu o IPI duas vezes, só que em doses homeopáticas, e em toda a cadeia, e o impacto não foi tão sentido. Na verdade este impacto aconteceu para o consumidor de carros de maior valor agregado. Aquela diminuição não foi revertida em mais vendas. No máximo o cliente que estava pensando em levar um Duster com motor 1.6 aspirado aproveitou para levar o 1.3 turbo, que teve redução de R$ 3 mil, ou seja, trocamos seis por meia dúzia. Sabe onde tem que mexer? Na balança”.
Venda de carros 1.0 despencou em uma década
Ele lembrou que em 2022 foram emplacados no Brasil, por pessoas físicas, 166 mil carros 1.0 com motor aspirado, que considera o atual veículo de entrada. Isto em um universo de 1,9 milhão de automóveis e comerciais leves. Mesmo se considerarmos apenas os carros são 1,5 milhão de unidades, ou seja, pouco mais de 10%.
Uma década atrás o volume de vendas de veículos com este perfil totalizou 752 mil unidades. E 3,6 milhões compunha o universo de emplacamentos somente de automóveis e comerciais leves, sendo 2,8 milhões de carros: no período o País era o quarto maior mercado do mundo – no ano passado ocupou a sexta colocação.
“Se focar na entrada o problema começa a ser atacado. Não pode incluir os SUVs. E se junto a isso vem um plano de crédito para garantir o financiamento e cobrir possível inadimplência atacam-se os dois problemas.”
O executivo também criticou a isenção do IPVA para híbridos flex, ao exemplificar que o benefício acaba sendo concedido a quem pagou, por exemplo, R$ 250 mil em um modelo assim, ao comparar que ele emite o mesmo que um carro financiado em sessenta vezes.
Apesar disto a Renault não descarta trazer um híbrido seu para o País nos próximos meses, uma vez que na Europa existem modelos do tipo e a ideia é ampliar o mix: “A nossa plataforma que chega no Paraná este ano é multienergia. Se no ciclo de vida dela quisermos colocar uma motorização híbrida é fácil.”