Campinas, SP – Gaston Diaz Perez, presidente da Bosch para a América Latina, brinca que a empresa é agnóstica: não acredita em uma tecnologia dominante quando se fala em eletrificação e nos motores a combustão, ou híbridos. Seja qual for a escolha do consumidor, ele diz, a companhia será fornecedora.
Para o Brasil, porém, o executivo diz existir um caminho natural. “Nós temos uma solução imediata, que é o etanol. Por isso acho errada essa discussão se será elétrico, ou híbrido flex, até por ser uma tecnologia de transição – o nosso Norte deve ser o hidrogênio, no longo prazo. Mas a discussão agora é o etanol contra a gasolina. Podemos em três anos descarbonizar o Brasil: basta produzir e incentivar mais o uso do etanol”.
Perez admite que os carros elétricos são, em teoria, uma boa solução para o Brasil, pela matriz energética limpa, mas pondera que seu preço elevado pode tornar mais lenta essa descarbonização: “Precisamos substituir essa frota poluente por uma que emita menos CO2 e o etanol pode fazer isso rapidamente. Para fazer isto com o elétrico demandaria muitos mais anos, até pelo seu preço elevado”.
Existe ainda, pondera, a necessidade de se criar uma infraestrutura para o carregamento de elétricos, algo que, na sua visão, não deve ser a prioridade do governo: “O Brasil tem 88% das vias sem pavimentação, quase metade da população sem acesso a esgoto. Ainda precisa resolver muitas coisas básicas antes de investir em infraestrutura para carro elétrico”.
O presidente da Bosch é mais um a enxergar oportunidade no Brasil como polo fornecedor global de componentes e motores a combustão. Segundo ele a Europa está fazendo o desinvestimento deste tipo de tecnologia e muitos países seguirão usando estes motores por não terem condições de fazer uma rápida transição para a eletrificação. E em outros não faz sentido migrar para o 100% elétrico.
“A Índia, por exemplo, tem apenas 20% da sua matriz energética renovável. Faz sentido o carro elétrico lá?”
A Bosch começará, no ano que vem, a produzir localmente componentes para veículos híbridos, como a ECU. E se diz pronta para fornecer o que seus clientes demandarem, seja eletrificado ou a combustão.