Classificação do Latin NCAP cobra das montadoras não só que disponham de tecnologia, mas que um volume mínimo de veículos as contenham
São Paulo – Otimista com o avanço das exigências tanto do Contran como do Latin NCap, que ajuda a puxar a adesão a requisitos de segurança veicular, a ZF estima que seu mercado para a aplicação de tecnologias seja crescente no Brasil. Durante entrevista coletiva de imprensa realizada na segunda-feira, 13, Plínio Casante, gerente sênior de engenharia e operações da ZF na América do Sul, apresentou estudo da Bright Consulting segundo o qual, em 2028, haverá 2,9 milhões de veículos produzidos para o mercado brasileiro e, com o avanço das regulamentações, a partir de 2026 e 2027, o porcentual de carros equipados com câmaras inteligentes de segurança chegará a 40%.
Para efeito de comparação, das 2,2 milhões de unidades que a indústria espera produzir este ano, 23% contam com este dispositivo. Contribui com este avanço o fato de que o Latin NCap, em referência do Euro NCap, tem avaliado não só a proteção dos ocupantes mas também a de pedestres. Assim como sistemas que possam mitigar ou evitar acidentes.
E, para alcançar cinco estrelas, não basta somente dispor dessas funcionalidades nos carros topo de linha. É preciso levá-las para as versões de entrada.
“Para evitar este tipo de situação e beneficiar montadora com cinco estrelas, sendo que na prática os carros mais vendidos não têm esta proteção, foram estabelecidos níveis de aplicação mínima na produção. Então, para este ano, 30% da produção total precisam estar equipados com frenagem autônoma de emergência para cidade e rodovia e com detecção de pedestre para que a montadora tenha o benefício da pontuação adicional.”
No caso da identificação de saída de faixa e assistência de saída de faixa, que é executado pela câmara, necessariamente o índice é ainda maior, de 45%. Hoje, portanto, montadoras já perdem pontos porque não conseguem atingir este porcentual.
E os requisitos de segurança que serão exigidos pelo Contran, baseado nas informações recebidas das montadoras, segundo Casante, estão muito próximos de tornarem-se regulamentação. Funcionalidades que exigem o ADAS, como alerta de saída de faixa, que exige câmara, seria para novos modelos a partir de 2026. A frenagem autônoma de emergência para obstáculos dinâmicos, a partir de 2025, e a frenagem autônoma de emergência para obstáculos fixos, a partir de 2028: “A partir de 2029 100% da frota terá de estar equipada com essa funcionalidade, que exige câmaras inteligentes”.
O executivo assinalou que as funcionalidades ADAS cobradas pelo Latin NCap e pelo Contran e que são as que mais adicionam valor para proteção, mitigação e para evitar mortes, seria o FCW, alerta de colisão frontal, o AEB, frenagem autônoma de emergência, o LDW, alerta de saída de faixa por vibração no volante e sonoro, e o LKA, assistente de manutenção de faixa que vai prover torque leve para corrigir a saída.
Uma vez que se tem a câmara podem ser agregadas funções de conforto e segurança. Por exemplo: o AHB, farol alto automático, que em situação de pouca visibilidade é acionado quando não houver outro veículo na pista. Com o ACC, controle de cruzeiro adaptativo, é possível programar uma velocidade determinada e o sistema mantém distância segura do carro da frente. Ainda o TSR, reconhecimento de sinalização de velocidade, sem conexão com GPS, faz a leitura de uma placa e, se o controle de cruzeiro adaptativo estiver ligado, além de emitir o alerta o carro é ajustado a ela automaticamente.
Plínio Casante alertou que a mudança visando à maior segurança veicular passa, também, por uma questão cultural: que os motoristas acionem os recursos. Crédito: Divulgação.
Cerca de 12,5% dos acidentes está relacionada à reação tardia ou ineficiente
Tudo isto vem ao encontro de dados crescentes de acidentes em rodovias brasileiras, o que tem estimulado maior rigor. Dados do relatório de acidentes rodoviários da CNT de 2022 apontam uma média de sete acidentes a cada 10 quilômetros de rodovia, o que acende luz a respeito da importância de se ampliar a segurança nas vias. A cada cem acidentes com vítimas, dez são fatais. Adicionalmente 60% dos acidentes são causados por colisão.
“A principal causa dos acidentes nas rodovias brasileiras se deve à reação tardia ou ineficiente o condutor, cerca de 12,5% do total estão ligadas a este fator e é exatamente aí que o ADAS consegue agregar valor porque avisa e ordena ações que minimizam acidentes.”
Informações do AAA Fundation de 2023 mostram que a contribuição do ADAS nas ruas, estradas e rodovias nos próximos trinta anos é de que pode evitar até 37 milhões de acidentes – isto só nos Estados Unidos. Redução de 16% no número de acidentes com feridos e de 22% no total de vítimas.
“Isto graças à frenagem autônoma de emergência, assistência de manutenção de faixa e detecção de ponto cego, os três principais contribuidores para embasar a pesquisa nas próximas três décadas.”
Casante ressaltou que isso será possível apenas se os motoristas acionarem as ferramentas pois muitos desligam a assistência por se irritarem com os bips: “Ou seja: conseguir evitar acidentes é uma questão cultural”.
Sobre a decisão do governo de elevar, de forma escalonada, o imposto de importação para veículos eletrificados a partir de janeiro de 2024, o gerente sênior de engenharia e operações da ZF na América do Sul considerou que a medida não deixa de ser um incentivo para trazer esta tecnologia e seus componentes para o País.
“É uma forma de proteger quem se instalou aqui, investiu e apostou em algo que não está muito claro que diretriz vai tomar, embora a tendência seja a de que no Brasil os híbridos cresçam cada vez mais.”
A ZF acredita que, globalmente, em 2025, em torno de 24% dos veículos de passeio serão elétricos, 30% híbridos e 46% a combustão. Em 2030 49% deverão ser movidos a bateria, os mesmos 30% híbridos e 21% a combustão.