São Paulo — Depois de um 2023 considerado frustrante o setor de autopeças espera dias melhores no ano que vem, cada um com suas planificações. Durante o Congresso AutoData Perspectivas 2024, organizado de 21 a 22 de novembro no Espaço Fit Eventos, em São Paulo, representantes de Dana, Bridgestone e Eaton debateram a indústria.
A queda foi maior do que Raul Germany, presidente da Dana, esperava: “O impacto foi muito maior, uma redução de 30% na produção. Isto é maior do que qualquer número previsto pelo Sindipeças e pela Anfavea. Foi um desafio manter a cadeia balanceada, para que tivéssemos uma motivação neste segundo semestre”.
A Bridgestone também contava com uma retomada do mercado em 2023, segundo seu presidente, Vicente Marino. Mas o ano foi de dificuldades em cada trimestre, incluindo o atual quarto período, diante de mudanças do Euro 6, estabilização da cadeia com mercado reprimido, importações que afetaram o setor e um aftermaket que passou por mudanças de mix de produtos também afetado pelas importações.
Na Eaton, mesmo com expectativa de que em 2023 seriam vendidos menos caminhões, a queda superou a expectativa: “O que a gente não esperava era uma queda tão grande como a que ocorreu. Havia a expectativa de redução de 10%, mas com as taxas de juros altas e o Euro 6, por mais planejamento que a gente tivesse, mostrou-se mais desafiador. E entraremos em 2024 ainda com um inventário acima do esperado, trazendo impactos para o ano”.
Dias difíceis, mas melhores, em 2024
Diante dos anúncios de investimentos próximos a R$ 1 bilhão na fábrica de Camaçari, BA, Marino acredita que o crescimento no Brasil passará por altos e baixos: “Somos maiores do que há cinco anos. E sem o Brasil a América Latina não existiria”.
O presidente entende que, sendo uma multinacional, a Bridgestone produz e vende em diversos mercados, mas o que não é possível aceitar é uma concorrência desequilibrada diante da disparada de produtos importados: “A única coisa que queremos é o fair play, com as mínimas regras. A fórmula é simples, o difícil é fazer acontecer”.
Focada no mobility a Eaton continuará a investir nos componentes para veículos de combustão interna, com expansão de seu portfólio para produtos híbridos e elétricos: “No longo prazo os investimentos se pagam. Trabalhamos com as principais montadoras e estamos na segunda maior região no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos”.
Germany espera crescer em 2024, sem citar porcentuais, mas vê como grande desafio em 2024 manter a cadeia balanceada, “pois precisamos organizar a casa após o baixo volume deste ano”.
Transição para a eletrificação
Para a Dana, concentrada em veículos comerciais, a eletrificação está em sua infância. Por causa da baixa escala, não dá para justificar investimentos de porte para uma nacionalização completa: “Traçamos uma estratégia em passos, à medida que o volume se justifica e que os negócios acompanhem. Conforme o mercado amadurece os investimentos serão integralizados. O desafio é casar o crescimento do mercado com o investimento local. O mercado precisa sustentar o crescimento”.
Com relação às exportações os fornecedores buscam diversificar seus mercados. A Eaton exporta por meio dos próprios clientes e vê com preocupação o mercado andino, por causa da penetração dos asiáticos: “Olhamos nossas digitais globais. A capacidade que temos no Brasil permite exportar para outras Eaton. Já somos uma base exportadora”.
A Bridgestone atua em três frentes no comércio exterior: exporta de 25% a 30% do que produz no Brasil. Uma delas é o intercompany, para países que não fazem parte da região, como os Estados Unidos. Há a intercompany com as afiliadas na região da América Latina e uma terceira dedicada a países parceiros sem fábrica, como Uruguai, Paraguai, Peru e Bolívia
A Dana também exporta em diferentes níveis, como intercompany, OEM e reposição para leves, pesados e agrícolas: “Hoje a nossa perspectiva é de crescimento. Estamos na ordem de 25% e esperamos crescer para ultrapassar os 30%, porque é uma das ferramentas que se tem para equilibrar a flutuação do mercado interno. Fornecemos para os Estados Unidos, México, países europeus e até a China. Somos mais competitivos do que fornecedores chineses dentro de seu próprio mercado”.