Investimento de R$ 120 milhões tem como objetivo atualizar tecnologias, preparar-se para a hibridização e ampliar exportação de componentes para motores a combustão
São Paulo – Estimulada por lançamentos e pelo avanço do processo de tecnologias de automação de veículos fabricados no Brasil, além dos R$ 130 bilhões em aportes anunciados pelas montadoras a partir do Mover, Programa Mobilidade Verde e Inovação, a thyssenkrupp ampliará sua capacidade de produção a fim de acompanhar estes movimentos. Em entrevista à Agência AutoData o CEO para a América do Sul, Paulo Alvarenga, contou sobre as expectativas a partir do novo ciclo de investimentos de R$ 120 milhões.
Embora não fale em porcentual de nacionalização deixou claro que a companhia, de origem alemã, está disposta a incorporar às linhas brasileiras mais etapas do processo produtivo: “Acima de tudo traremos maior valor agregado ao que é feito aqui no Brasil. É importante nos mantermos atualizados e competitivos para atendermos aos nossos clientes. Mas a onda de anúncios induzida pelo Mover está gerando nova demanda que é o principal motivador dos nossos investimentos.”
Em Poços de Caldas, MG, onde são fabricados os módulos e eixos de comandos de válvulas a capacidade será ampliada em 50%, dos atuais 1 milhão por ano para 1,5 milhão. Haverá, ainda, o aumento da área construída e a instalação de novas linhas de montagem: “O produto em si é o mesmo, mas serão feitos componentes para veículos adicionais que passarão a ser atendidos nesta unidade”.
Em São José dos Pinhais, PR, haverá aquisição de novas máquinas a fim de acrescentar etapas ao processo produtivo. E a empresa fechou parceria com a Renault para fornecer a direção elétrica do Kardian: “Os módulos auxiliarão funções do carro como piloto automático e sistema de frenagem, viáveis por meio da coluna com a tecnologia nela embarcada”.
Nove a cada dez carros no Brasil já possuem algum componente fabricado pela thyssenkrupp, disse Alvarenga: “É difícil, portanto, aumentar o número de clientes, mas toda vez que há uma mudança de família de veículos existe nova homologação de fornecedores e, como estamos sendo nomeados para essas novas famílias, isto também está motivando os aportes”.
Ou seja: a injeção de recursos busca manter sua participação na produção das empresas fabricantes e ampliar presença, também, na composição dos veículos híbridos. O CEO disse que não poderia falar sobre projetos do tipo em andamento, que ainda correm sob sigilo, mas evidenciou que a fornecedora está se preparando para o movimento.
Para Alvarenga a eletrificação tardará mais a aparecer no Brasil, o que gera sobrevida e abre oportunidade para atender a mercados como os da Ásia, que continuarão demandando componentes para motores a combustão. Exemplo são os virabrequins e bielas, fabricados em Campo Limpo Paulista, SP, unidade majoritariamente exportadora, em que mais da metade da produção é embarcada e que possui capacidade de atender a 30% da demanda global desses itens.
“Esta transição traz oportunidade para quem tiver maior economia de escala.”
De qualquer forma, hoje, cerca de 80% do faturamento global da divisão automotiva da thyssenkrupp já é gerado por componentes que não estão relacionados ao motor do carro, como as colunas de direção “e assim, portanto, estamos preparados para esta mudança. Apenas 20% são peças relacionadas ao conjunto motriz relacionados à combustão”.
A fábrica de Campo Limpo Paulista também receberá parte dos aportes para ampliar a produtividade no que diz respeito à automação.
Divisão automotiva responde por 8% do faturamento global
A operação brasileira da thyssenkrupp faturou, em 2023, R$ 5 bilhões, o que representa em torno de 2,5% das receitas globais. Deste valor 55% são originados pelo setor automotivo e, se for considerada apenas esta divisão, o peso no faturamento aumenta para 7% a 8%. Outros 30% dos ganhos vêm do setor da defesa naval, braço responsável pela construção de quatro fragatas para a Marinha por meio do Programa Tamandaré, cuja primeira entrega está prevista para o fim de 2025.
Nos 15% restantes estão as soluções de tecnologias para descarbonização, com a fabricação de componentes para torres de geração eólica e de projetos que visam à produção de hidrogênio verde e derivados, como amônia e metanol verde, em um primeiro momento para uso industrial em substituição a combustíveis fósseis e, posteriormente, para aplicação em ferrovias e transporte aéreo.
Para reunir esforços neste segmento a thyssenkrupp se desfez da divisão de elevadores – por meio dos quais muita gente ouve falar, pela primeira vez, da marca –, que ainda opera em Guaíba, RS, agora pertencente ao Grupo TKE: “Crescimento demanda capital e precisamos tomar decisão de vender essa operação para concentrar em outra”.
Segundo Alvarenga a participação do setor automotivo na filial brasileira não deve diminuir seu tamanho no negócio, mas a tendência é que as outras áreas cresçam mais, especialmente no que estiver relacionado à descarbonização: “Trata-se de tendência irreversível e necessária. E, portanto, o setor deverá representar menos do que hoje”.
Sobre as incertezas do ramo, a despeito dos investimentos na esteira do Mover, o executivo disse confiar que o mercado se recupere frente ao ano passado, mas evitou arriscar projeção para 2024: prefere seguir as perspectivas de Sindipeças e Anfavea. A entidade representante da cadeia de suprimentos espera alta de 4% no faturamento deste ano e a das montadoras trabalha com incremento de 4,7% na produção de veículos.
De qualquer forma, para não depender do crescimento do mercado, o plano é seguir ganhando market share – disse, sem contar qual é a fatia atual. A thyssenkrupp emprega 4 mil pessoas no País.