São Paulo – Eleito, ao menos no discurso do governo e das montadoras, como principal alternativa para a descarbonização do transporte no Brasil, o etanol hidratado corresponde a apenas 25,5% do combustível consumido pelos brasileiros, segundo dados da Unica referentes ao período de janeiro a julho. Somado o anidro, aquele que é misturado à gasolina na proporção de 27% do volume, a presença do biocombustível chega a 45,6%.
Ou seja, ainda mais da metade do combustível usado nos carros pelo País têm origem fóssil e maior emissão de CO2. De positivo temos a consciência de que há ainda espaço para crescer – e o etanol vem crescendo: de janeiro a julho consumo do biocombustível hidratado subiu 50%, enquanto o da gasolina C caiu 7%.
No começo da semana a Stellantis anunciou que, a começar pela fábrica de Goiana, PE, usará etanol no primeiro abastecimento de todos os seus veículos flex produzidos, ainda na linha de montagem. O tanque recebe gasolina ainda em Betim, MG, e Porto Real, RJ, até o ano que vem, quando também será feita a conversão para o biocombustível.
A reportagem da Agência AutoData foi consultar como é feito o primeiro abastecimento nas demais fabricantes que têm carros flex nas linhas. Apenas a Hyundai o faz com etanol, e desde 2012, em sua fábrica de Piracicaba, SP.
General Motors, Renault, Nissan e Toyota usam gasolina no abastecimento dos caros flex das suas linhas de montagem. A Volkswagen “por questões estratégicas” não revela qual o combustível utilizado. Honda e Caoa não responderam os questionamentos até a publicação da reportagem.
Segundo a Toyota a opção por gasolina se dá por logística: equipamentos dos polos produtivos, como empilhadeiras, e os veículos destinados à exportação utilizam o combustível.
Toyota e Renault acrescentaram que seus veículos de frota, executivos, circulação interna e de imprensa, são preferencialmente abastecidos com etanol. Esta medida foi adotada pela Volkswagen em 2021, anunciada pelo então presidente Pablo Di Si.
Mudança é complexa
Seria uma iniciativa louvável, portanto, que as montadoras passassem a adotar etanol em vez de gasolina no primeiro abastecimento. Além de indicar ao consumidor a opção que ajudaria a descarbonizar o setor, a iniciativa reduzirá, segundo a Stellantis, mais de 2,1 mil toneladas de CO2 emitidas na queima de combustível do primeiro abastecimento, uma redução de 87% em emissões.
Mas a mudança é complexa, conforme explicou Fabrício Biondo, diretor de comunicação da Stellantis América do Sul. “O trabalho demorou quase dois anos. Na linha de montagem, que produz 250 mil carros por ano, existem ícones que identificam o abastecimento: tem benzina, diesel, gasolina, gasolina para exportação, que é diferente, e agora o etanol”.
Segundo o executivo a Stellantis precisou fazer um processo para que o etanol, que é um combustível mais sujeito a deterioração, não seja perecido durante o transporte, que pode demorar dias ou meses no caso de exportação – para o Paraguai, por exemplo, os veículos enviados são flex. “E como toda mudança de produto ou processo precisamos de um tempo de validação”.
Colaboraram Caio Bednarski, Leandro Alves e Soraia Abreu Pedrozo