São Paulo — A Stoneridge, que desde 2017 assumiu a operação da Pósitron em Manaus, AM, dedicou seis anos para estudar o mercado brasileiro de tacógrafos, produto que já possuía tradição na Europa e, em 2023, iniciou a fabricação local da versão digital da ferramenta na fábrica amazonense. O item é obrigatório em caminhões, para medir a velocidade e a distância percorridas, assim como as horas trabalhadas do motorista.
Ao todo os investimentos na linha de produção, no preparo e capacitação de rede, além de plataforma digital de serviços adicionais aos frotistas, somaram R$ 16,5 milhões. De acordo com Ricardo Camargo, diretor comercial da Stoneridge Brasil, este não é um produto que possa ser importado e adaptado, e o item europeu não atendia a legislação brasileira.
“Tivemos de trabalhar na conceituação de um produto para o mercado brasileiro, uma vez que ele precisa ser regulamentado e certificado pelo Inmetro.”
A proposta foi introduzir no mercado brasileiro produto da marca que agregasse valor e trouxesse conceitos de conectividade. Camargo defendeu que os produtos digitais são mais robustos, com eletrônica embarcada maior e menor necessidade de troca.
“A cada dois anos há um processo de verificação desse tacógrafo para checar se ele está de acordo com as configurações originais, porque se trata de item obrigatório pela legislação. Portanto olhamos para todo o ecossistema, a fim de entender como os postos de checagem trabalham, qual tipo de benefício poderíamos oferecer a eles também. E conceituamos produto que não requer grandes investimentos em equipamentos para fazer as verificações que podem ser feitas, basicamente, por meio de aplicativos de celular.”
Ao digitalizar o processo é descartada a necessidade de impressão das fitas. Isso porque torna-se possível, a partir de download de dados via USB, por exemplo, de forma gratuita, visualizar as informações das últimas 24 horas. Ou seja, o frotista não precisa ficar imprimindo, a cada jornada, os registros do motorista, e as informações podem ser armazenadas na nuvem.
Mas se ele desejar uma gestão desses dados por mais tempo, meses ou até anos, pode utilizar isso para uma gestão de frota de todos os motoristas, o que terá custo específico.
“Nosso plano de futuro é oferecer alguns serviços digitais, em que os frotistas poderão utilizar, por exemplo, dashboards [ferramentas de gerenciamento de informações que permitem acompanhar visualmente, exibir e analisar indicadores de desempenho] para fazer controle de frota, do motorista, da jornada, enfim, tudo o que é relacionado a questões de segurança e TCO”, afirmou o diretor comercial, ao complementar que a primeira versão destes serviços será ofertada no primeiro trimestre de 2025.
Recentemente a Stoneridge conseguiu emplacar seu tacógrafo digital TC 100 em dois modelos de caminhões – o nome da montadora, porém, ainda é mantido sob sigilo. Mas representa avanço da empresa rumo ao seu objetivo, que é o de conquistar 50% do mercado de novos veículos nos próximos cinco anos. O plano também é que 90% de suas vendas sejam para OEM e, 10%, para o aftermaket. O segmento de reposição, eleito para que a marca fizesse sua estreia no País no ano passado, possui maior concorrência uma vez que existe grande número de tacógrafos antigos e, portanto, analógicos.
“Este é um produto muito importante para a empresa no médio e longo prazos. E esperamos fechar 2024 com avanço de dois dígitos no faturamento para o segmento de veículos comerciais. Para 2025, a projeção é crescer acima disso, alcançando os três dígitos”, disse Camargo. A capacidade de produção é de 100 mil unidades por ano.
O tacógrafo digital também aplica-se em outros mercados da América do Sul, tanto que a empresa possui representação na Argentina, em que o produto é obrigatório e compatível ao brasileiro, assim como no Chile.
Embora a fabricação dos tacógrafos seja feita em Manaus a engenharia que o desenvolveu está em Campinas, SP, assim como o administrativo, que dá suporte ao cliente e abriga a parte comercial. Ao todo, há 720 funcionários diretos, em torno de metade deles em cada localidade.
Na unidade amazonense são feitos também, desde 2017, painéis de instrumentos, cluster, módulos eletrônicos de controle, rádios, sistemas de infotainement e sensores de estacionamento, entre outros. A fábrica, originalmente da Pósitron, existe há 36 anos e historicamente é conhecida por produzir alarmes para reposição.