Iniciativa realizada no Centro de Treinamento desde 2022 emprega 100% dos formandos em concessionárias
Recife, PE – Desde 2006 a Honda utiliza seu Centro de Treinamento em Recife, PE, para oferecer aulas de mecânica, informática, técnicas de vendas e pós-vendas, educação financeira e autoconhecimento a jovens em situação de vulnerabilidade social, mas com o ensino médio completo. Não para aí: finalizados os oito meses de curso os jovens recebem a possibilidade de trabalhar na rede concessionária e dar o primeiro passo em sua vida profissional.
A partir da formação é possível retomar sonhos interrompidos – ou que sequer foram sonhados antes. Lucas Silva, 21 anos, passou a enxergar a possibilidade de um dia comprar uma moto, ter uma casa melhor para morar com os pais e a vontade de trabalhar na tradicional revenda Maravilha Motos. Andreza Alves, 19, contou que, embora tenha adorado aprender a trabalhar com mecânica, a área em que acredita mais ter evoluído ao longo deste ano foi a de comunicação e atendimento ao público. Seu objetivo é fazer faculdade de TI.
Rayssa Silva, da mesma idade, classificou a experiência como transformadora: “Desde pequena gostava de mexer nas coisas, aprender a consertar, então adorei a parte da mecânica. Mas o mais importante é que aqui senti que as mulheres estão incluídas em um ambiente de igualdade de oportunidades”, disse, agora mirando cursar administração na faculdade.
As representantes do sexo feminino, pela primeira vez em dezesseis edições do projeto, são maioria: catorze de 25 jovens. Ao todo 316 pessoas já passaram pela iniciativa, com uma média de 80% de empregabilidade ao término do curso, sendo que, nas últimas três turmas, todos saíram trabalhando. Isso porque, além da mão de obra formada, ela é identificada com os princípios da marca.
Foi o que contou Fabiana Botelho, supervisora do Centro de Treinamento da Honda, ao recordar que a unidade da montadora cresceu junto com sua missão social, uma vez que, ao iniciar operação no bairro Areias, no Recife, verba específica já estava destinada para ser investida em ação filantrópica.
“Onde a Honda chega, faz parte de sua filosofia trabalhar na melhoria da vida da comunidade no seu entorno”, afirmou Botelho. Com o passar do tempo o alcance da iniciativa foi sendo ampliado e as inscrições passaram a abranger toda a Região Metropolitana do Recife.
Pela primeira vez em dezesseis edições as mulheres superam os homens no Programa Social Honda, elas são catorze e, eles, onze. Foto: Divulgação.
Em visita da reportagem da Agência AutoData ao Centro de Treinamento foi possível notar que pontos hours concours foram os ganhos em autoconhecimento e na melhora da capacidade de se expressar. Além de orgulho estampado no rosto dos formandos e apego ao espaço – não à toa, pois no local, que se torna extensão de suas casas, é onde diariamente tomam banho, café da manhã, fazem ginástica laboral e almoçam, além de estudar.
“O projeto acaba mudando muito a vida daquela família”, disse Botelho, “não só na parte da renda como de relacionamento com os pais. Elas saem transformadas.”
Desde que abriu as portas no bairro Areias, em Recife, em 2006, o Centro de Treinamento da Honda teve a preocupação de desenvolver iniciativa que abrangesse a população do entorno. Foto: Divulgação.
Coordenador do PSH foi aluno da primeira turma
O instrutor do PSH, Cléber Ricardo, é um exemplo prático. Ele foi aluno da primeira turma, em 2007, saiu empregado na rede concessionária, onde passou de estagiário, consultor de serviços e supervisor a gerente e gerente geral. Desde 2018 retornou à Honda para assumir sua atual função e desde 2022 agrega a função de coordenação de projeto social.
“Muitos deles vêm de famílias disfuncionais, com baixa autoestima e feridas emocionais. Primeiro damos acolhimento e tentamos curá-las para depois entrar na parte técnica e profissional. Assim eles passam a desempenhar funções que sequer acreditavam, porque ninguém dava esse crédito dentro de casa.”
Cléber Ricardo é um agente de transformação que participou da primeira turma da ação social da montadora em 2007. Foto: Divulgação.
Desafio adicional nesta jornada, a propósito, reside na questão financeira. Existe trabalho de convencimento aos pais, uma vez que aos olhos de muitos deles seus filhos ficarão parados por oito meses, sem contribuir com as despesas de casa, recebendo apenas cesta básica e vale-transporte.
A maioria começa trabalhando por um salário mínimo, o que já significa dobrar a renda familiar, valor mensal de muitas delas. Na outra ponta, nos exemplos citados pelo instrutor, os vencimentos hoje passam de R$ 5 mil – caso de um jovem que entregava lanches em uma bicicleta antes do curso – e chegam a R$ 10 mil, algo antes inimaginável por eles.
Conforme Ricardo, ainda, boa parte consegue fazer faculdade. Ele mesmo cursou jornalismo, ajudou sua família a sair da favela, contribuiu nos cuidados com o irmão que possui retardo mental, casou e comprou seu apartamento. Mas, quis o destino, que o bom filho tornasse a casa e usasse sua experiência e exemplo como objeto de transformação social.