Vem sendo notado maior interesse por aplicação em partes e peças mais nobres, não somente na reposição
São Paulo – A indústria automotiva continua ampliando o uso de plástico reciclável em suas partes e peças: em 2023 o volume aumentou 7,5%, para 71 mil toneladas, segundo os dados mais recentes levantados pelo Monitoramento dos Índices de Reciclagem Mecânica de Plásticos Pós-Consumo no Brasil, a pedido do Movimento Plástico Transforma, iniciativa do PicPlast, e desenvolvido pela MaxiQuim. O recorte para o setor foi cedido com exclusividade à Agência AutoData.
É o segundo ano com crescimento consecutivo, depois de avançar 40,4% de 2021 para 2022, de 47 mil para 66 mil toneladas de resinas recicladas pós-consumo.
Das 71 mil toneladas de resina reciclada utilizada pela indústria automotiva em 2023 pouco mais da metade, 38,5 mil toneladas, referem-se ao polipropileno, usado na produção de peças de segunda linha e compostos, ou seja, para o mercado de reposição. Com a mesma finalidade foram empregadas 3 mil toneladas de poliestireno. E 20 mil toneladas de polietileno tereftalato, PET, estão em tapetes, revestimentos internos, forros e cintos de segurança.
Maurício Jaroski, diretor executivo da MaxiQuim e gestor da área de energia e química sustentável, disse que tem crescido, ano a ano, a participação do plástico reciclado em peças mais nobres de veículos, com maior valor agregado, e não somente em peças de reposição, sua porta de entrada neste universo. Com o polipropileno reciclado, por exemplo, a indústria faz compostos desde painéis a parachoques. Em peças de reposição é comum usar o insumo também em aerofólios, partes do espelho retrovisor e nos símbolos cromados das montadoras. O desafio agora é inseri-lo em peças do motor e bombas de combustível, para os quais já há estudos em andamento, relatou Jaroski.
“É crescente o movimento de pesquisa, assim como o de homologações, em torno do uso da resina reciclada em peças que exigem mais testes e maior requerimento técnico. O setor está caminhando para ampliar as aplicações. As empresas estão cada vez mais engajadas.”
Pelo segundo ano consecutivo aumenta a aplicação de resinas recicladas em partes e peças de veículos. Foto: Divulgação
Outro fator curioso é que este crescimento no uso do reciclado pelo setor ocorreu em meio a uma redução do uso na indústria geral, de 1 milhão 106 mil toneladas para 939 mil toneladas, interrompendo seis anos consecutivos de avanço. O motivo: o ciclo de baixa das commodities petroquímicas fez com que as matérias-primas de primeiro uso experimentassem queda significativa em seus preços, tanto no mercado nacional quanto internacional, e as deixou mais atrativas do que as resinas recicladas para a indústria de transformação.
“Este é um grande gargalo a ser enfrentado: a competição do mercado de plástico virgem, que vive contexto de maior oferta do que demanda e chega no País a preços muito competitivos, apesar do dólar elevado e da alíquota de importação.”
Jaroski lembrou a alta quantidade de indústrias do setor, principalmente na Ásia.
Das 939 mil toneladas de plástico reciclado em 2023 71 mil toneladas foram destinadas à cadeia automotiva, em torno de 7,5% do total. O setor é o quinto que mais demanda a resina reciclada, depois de alimentos e bebidas, com 158 mil toneladas, construção civil e infraestrutura, com 131 mil toneladas, higiene pessoal, cosméticos e limpeza doméstica, com 113 mil toneladas, e utilidades domésticas, com 83 mil toneladas.
Jaroski sustentou que, no caso do setor automotivo, há uma razão para apostar no plástico reciclado, além da questão de reaproveitar material que seria descartado: a busca por maior eficiência e redução no peso dos veículos.
Desafios na reciclagem seguram crescimento da oferta
Percalço a ser solucionado segue localizado na coleta das resinas. Afinal nem todo plástico reciclado oferece a segurança necessária para sua nova aplicação: “A parte mais difícil é a padronização da matéria-prima com os mesmos requerimentos técnicos que o plástico virgem. Que tipo de peça plástica foi lavada e moída para constituir uma nova peça que vai para aplicação de alto desempenho do setor?”.
Desafio adicional é ter quantidade suficiente de insumos, disse Jaroski. Muitas vezes, em mercados mais estratégicos, as empresas adotam a logística reversa, o que onera bastante a atividade: “O ideal seria que as coletas municipais conseguissem segregar melhor, mas são muitos volumes de plásticos diferentes”.
Para Simone Carvalho, integrante do grupo técnico do Movimento Plástico Transforma, a logística reversa tem se demonstrado mais viável com materiais pós-indústria ou refugos do próprio setor, em que material é limpo e mantém as propriedades, não é pós-consumo e, “neste caso, portanto, coleta é condição sine qua non para termos um resíduo de qualidade. Por isto o processo é um pouco mais lento”.
Uso da resina reciclada pelo setor deve continuar aumentando
Quanto às perspectivas para o monitoramento ao longo de 2024, cuja pesquisa ainda não foi realizada, Jaroski sugeriu que o uso da resina reciclada tenha sido maior do que em 2023: “Isto se reforça com o setor, uma vez que, quando o uso do insumo, no geral, caiu, no automotivo aumentou. Imagino que este movimento persista, pois vejo um caminho sem volta a adoção crescente de plástico reciclado pelo segmento”.
Carvalho partilha da opinião e avalia que o setor tem oportunidade única de se beneficiar cada vez mais com a utilização deste insumo: “À medida que a indústria adota soluções mais verdes não só contribui para a preservação do meio ambiente mas, também, impulsiona movimento que pode transformar o mercado global, criando uma economia circular mais eficiente e sustentável para todos”.