São Paulo — Em 2024 foi consolidada a recuperação do mercado brasileiro de veículos leves, após dois anos de oferta reduzida, em 2021 e 2022, por falta de componentes eletrônicos que paralisou linhas de produção, e de 2023 com queda de demanda que foi parcialmente compensada pelo programa de descontos patrocinado pelo governo federal. Já no ano passado oferta e demanda flutuaram em níveis mais normais. Com pleno emprego, aumento de renda e crédito disponível as vendas surpreenderam e cresceram 14%, bastante acima das projeções iniciais, fechando doze meses com quase 2,5 milhões de automóveis e comerciais leves emplacados.
Mas desta vez boa parte do crescimento ficou concentrado nos modelos nacionais mais baratos, nas vendas diretas e nos carros híbridos e elétricos importados da China por BYD e GWM, provocando muitas subidas e descidas nas listas de marcas e de veículos mais vendidos, que tiveram mais perdedores do que vencedores.
Das dez marcas mais vendidas de veículos leves, que representaram 87% das vendas no Brasil em 2024, duas, GM/Chevrolet e Jeep, foram as únicas duas que anotaram quedas de volumes com relação a 2023. Outras quatro, Fiat, Hyundai, Toyota e Renault, tiveram crescimentos abaixo da média de expansão do mercado, de 14%. Apenas quatro fabricantes registraram porcentuais acima deste: Volkswagen, Honda, Nissan e BYD. Destas dez seis perderam participação de mercado e quatro ganharam.
Com estas variações as três maiores fabricantes do País – pela ordem Fiat, Volkswagen e General Motors – reduziram seu domínio do mercado brasileiro de 52,7% em 2023 para 49,8% em 2024, mas conseguiram se sustentar no pódio do ranking de vendas.
Daí para baixo tudo mudou. A Hyundai subiu à quarta colocação, ultrapassando a Toyota, que desceu à quinta. A Renault escalou um degrau, foi para o sexto, trocando de lugar com a Jeep, que baixou para o sétimo. Também trocaram posições Honda e Nissan, agora respectivamente em oitavo e nono no ranking.
E o décimo posto tem uma nova integrante, a BYD, que galgou cinco posições de um ano para outro, vendendo somente carros eletrificados importados da China, e empurrou para fora da lista das dez mais vendidas marcas com produção nacional como Caoa Chery, Ram, Peugeot, Citroën e Mitsubishi.
SÓ SUVs E PICAPES AVANÇAM
Dentre os vinte veículos mais vendidos de 2024 cinco registraram quedas de volumes com relação a 2023, oito observaram crescimento abaixo da média de 14% e apenas sete avançaram mais do que isto – dentre estes estão duas picapes e quatro SUVs, representando os dois segmentos que mais cresceram em 2024.
Dos quatro maiores segmentos de veículos leves do mercado brasileiro, em 2024, SUVs e picapes cresceram acima da média e seguiram ganhando participação de mercado, enquanto hatches e sedãs continuaram a encolher suas fatias com avanços abaixo da média geral.
A maior porção segue sendo dominada pelos SUVs, com 939,3 mil emplacamentos em 2024 e crescimento de 20%, 6 pontos acima da média, o que garantiu aumento de 1,9 ponto porcentual na participação de mercado, para 37,8%, com liderança do VW T-Cross, seguido por Chevrolet Tracker e Hyundai Creta.
O segmento de hatches, embora tenha perdido quase 1 ponto de participação, que baixou para 27,5% em 2024, ainda ocupa segunda maior porção do mercado, com crescimento de 10,1% no ano passado, somando 682,1 mil vendas, embaladas por modelos como VW Polo, Chevrolet Onix, Hyundai HB20 e Fiat Argo, que ocuparam as quatro primeiras posições no segmento de carros de passeio mais vendidos do ano passado.
Com bons desempenhos de modelos leves de volume como Fiat Strada e VW Saveiro as picapes continuaram a ganhar terreno em 2024, com 474,7 mil unidades, crescimento de 17,7% e expansão da participação de mercado em 0,6 ponto, para 19,1%.
O desempenho dos sedãs é o pior: 295,8 vendas, quase o mesmo número de 2023, com avanço insignificante de 0,7% e perda de 1,6 ponto de participação, que declinou para 11,9%.
FIAT SEGUE LÍDER
No topo do ranking a Fiat segue soberana pelo quarto ano consecutivo, com 521,3 mil vendas em seu maior mercado do mundo. Única que vendeu mais de 500 mil veículos manteve folgada margem de 121 mil unidades à frente da Volkswagen, segunda colocada. No entanto as vendas da marca cresceram 9,6%, abaixo da média do mercado, o que custou perda de 0,8 ponto porcentual de participação, baixando para 21%.
Sem muitos lançamentos relevantes no ano a Fiat conseguiu sustentar sua liderança graças às vendas diretas para frotistas, locadoras, pequenos empresários e pessoas com deficiência, assim como o seu programa de assinaturas da Flua!, que oferece locações de um a três anos dos modelos Strada, Argo, Fastback e Pulse. Estes canais somados absorveram 62% dos Fiat faturados em 2024, com destaque para a líder Strada, com 65% de vendas diretas, e os hatches Argo, com 69%, e Mobi, com 82% – este último muito vendido para frotistas e locadoras.
Com isto a marca colocou cinco produtos na lista dos vinte mais vendidos do ano: Strada em primeiro, Argo em quinto, Mobi em nono, Toro em décimo-sexto e Fastback em vigésimo. A picape Strada, líder de vendas do País também pelo quarto ano consecutivo, registrou crescimento anual acima da média de quase 20% com 144,7 mil unidades, aumentando sua participação no mercado total para 5,8%.
Outro bom desempenho foi registrado pelo Argo, segundo Fiat mais vendido do País, que teve o maior crescimento de vendas, de 36,6%, dentre os vinte veículos mais vendidos do ano.
VW CRESCE, GM CAI
As outras duas integrantes do pódio do mercado brasileiro de veículos leves tiveram desempenhos opostos: a Volkswagen manteve sua segunda colocação, capturada da GM em 2023, com o maior crescimento de vendas das três grandes, enquanto a concorrente, com a marca Chevrolet, foi das poucas a registar queda, mas se sustentou na terceira colocação.
As vendas da Volkswagen avançaram 16% sobre 2023, sendo a única a emplacar pouco mais de 400 mil carros, o segundo maior volume da fabricante nos últimos dez anos, só abaixo dos 411 mil de 2019. O resultado rendeu pequeno ganho de 0,3 ponto em sua participação de mercado, que fechou 2024 em 16,1%. Com este desempenho, pelo segundo ano consecutivo, o Brasil continuou sendo o terceiro maior mercado da marca no mundo, atrás de China e Alemanha.
As vendas diretas também tiveram papel fundamental no resultado da Volkswagen em 2024, com participação de 61,7% nas vendas. O Polo – principalmente a versão de entrada Track – foi o hatch mais vendido e o segundo veículo mais vendido no País, reduzindo a distância da Fiat Strada para apenas 4,5 mil unidades, e assim puxou o desempenho da empresa com 140,2 mil vendas, crescimento expressivo de 26% sobre 2023 graças ao aumento das suas vendas diretas, que lideraram esta modalidade em 2024 com 68% de suas vendas por este canal.
Também fez bem à Volkswagen a renovação do T-Cross, o primeiro dos dezesseis lançamentos prometidos pela fabricante até 2038, dentro do pacote de investimento de R$ 16 bilhões. O T-Cross foi o SUV mais vendido do País, terminando 2024 na sexta colocação geral, com crescimento das vendas de 15,5%.
Além destes dois modelos a Volkswagen colocou outros dois na lista dos vinte mais vendidos de 2024, com destaque para o desempenho da picape Saveiro, que subiu seis posições no ranking e terminou o ano na décima-terceira posição, com crescimento nas vendas de 22,3%, o terceiro maior porcentual da lista. Já o SUV-cupê Nivus caiu um andar, para o décimo-quarto, com crescimento menor de 7,3%, devido principalmente à renovação do modelo ocorrida só no último trimestre. As perspectivas são boas: com o lançamento de mais um SUV de entrada em 2025, o compacto Tera, a fabricante pode ter um ano ainda melhor.
Já a GM, sem lançamentos relevantes por ora, evitou vendas de baixa rentabilidade a locadoras e foi das poucas que registraram queda de vendas em 2024, ainda que pequena, de pouco menos de 4% sobre 2023. Ainda assim manteve a terceira posição do mercado – para onde desceu em 2023 após perder a vice-liderança para a Volkswagen –, com quase 315 mil vendas, mas foi a que mais perdeu participação, 2,4 pontos, baixando sua cota para 12,7%.
O desempenho mais fraco da GM pode ser explicado pela menor participação nas vendas diretas, que representaram 48,7% de seus emplacamentos em 2024, em linha com a média do mercado e bastante abaixo dos principais concorrentes.
No ano passado três modelos Chevrolet integraram a lista dos vinte veículos mais vendidos do País: o Onix se manteve na terceira posição, com queda de 4,5% nas vendas, seguido pelo SUV Tracker, que teve o menor crescimento da tabela, de 4,2%, mas o suficiente para subir do nono para o sétimo lugar e tornar-se o segundo SUV mais vendido, e o sedã Onix Plux registrou a maior retração de vendas do ranking, de 20%, e caiu para o décimo-terceiro posto, após ocupar a quinta colocação em 2023.
A PORÇÃO DE BAIXO
No mercado em que dez marcas dominaram 87% das vendas de veículos em 2024 as sete de baixo dividiram 37,3% das vendas, com a Hyundai à frente do bloco após tomar da Toyota a quarta posição, com 206 mil unidades mas em crescimento abaixo da média do ano, de 10,6%, perdendo 0,25 ponto de participação, que caiu para 8,3%.
A Hyundai também evitou vendas de baixo rendimento a locadoras. Dois de seus três carros produzidos em Piracicaba, SP, estão na lista dos vinte mais emplacados de 2024. O hatch HB20 manteve a quarta posição de 2023 com 97 mil vendas, crescimento de 9,2% e 55% das vendas feitas pela via do faturamento direto. Já o SUV Creta teve o design renovado, foi apresentado em outubro, e somado à antiga geração foi o oitavo veículo mais vendido do País, mas o primeiro em vendas de varejo nas concessionárias, que responderam por 81% dos negócios.
Com menos vendas diretas do que a Hyundai, sem lançamentos relevantes e vítima da redução significativa do segmento de sedãs médios no qual o Corolla ainda domina, a Toyota desceu ao quinto lugar do ranking mas perdeu o posto para a concorrente por apenas 2,3 mil unidades, vendendo 203,8 mil veículos em 2024, com pequeno crescimento de 6% sobre 2023 – o menor porcentual da lista das dez principais marcas –, fechando o ano com participação de 8,2%.
A Toyota colocou apenas um modelo na tabela dos vinte mais emplacados, a picape Toyota Hilux, em décimo-nono lugar, enquanto o SUV Corolla Cross, apesar da renovação de design, ficou em vigésimo-primeiro, ainda à frente do sedã Corolla, em vigésimo-quarto, após mais de uma década figurando entre os dez automóveis mais vendidos do Brasil.
O relevante lançamento do SUV compacto Kardian, ainda no primeiro trimestre de 2024, não foi suficiente para impulsionar muito o desempenho da Renault – o modelo foi o trigésimo-quarto mais emplacado do ano passado. Mas ainda assim a fabricante passou a Jeep e subiu ao sexto lugar no ranking, com 139,3 mil vendas, 58% delas por venda direta. O modelo de melhor desempenho da marca foi o popular Kwid, décimo-segundo mais vendido do País mas o sétimo nas vendas ao consumidor por concessionárias.
A Jeep perdeu parte da força que vinha demonstrando nos últimos anos e perdeu uma posição no ranking, descendo à sétima. Na lista das dez mais vendidas foi uma das duas únicas marcas, ao lado da Chevrolet, que registraram queda de vendas em 2024. A Jeep vendeu 121,3 mil veículos no ano passado, retração de 4,5% sobre 2023, com perda de quase 1 ponto porcentual de market share, que declinou para 4,9%. O velho Renegade, seu produto mais barato, ganhou sobrevida por ser o modelo mais vendido, subiu três degraus, para a décima-quinta colocação, enquanto o SUV médio Compass desceu cinco andares para o décimo-oitavo, anotando a segunda maior perda do ano, de 15,3% ante 2023.
Honda e Nissan, que negociam uma fusão global, já estão bem próximas no mercado brasileiro. As duas trocaram de lugar no ranking em 2024, mas ambas tiveram bom desempenho, acima da média do mercado.
A Honda ganhou força com seus produtos e subiu de nono para o oitavo lugar, especialmente por causa dos modelos fabricados em Itirapina, SP – a linha City, hatch e sedã, e o HR-V –, que passaram por renovações e foram responsáveis por 98% das suas 91,4 mil vendas em 2024, em crescimento de expressivos 26,9% sobre 2023. O HR-V, décimo-sétimo veículo mais vendido do País, sozinho, foi responsável por 55% do volume. O novo WR-V, com produção nacional programada para o segundo semestre, promete impulsionar mais as vendas da Honda em 2025.
Já a Nissan, com apenas um produto fabricado em Resende, RJ, o Kicks, e em fase de lançamento da sua nova geração, desceu para a nona posição do ranking mas registrou crescimento das vendas de 20,5%, acima da média do ano. O Kicks representou 69% das 87,4 mil vendas da marca em 2024.
O FENÔMENO BYD
Com política comercial agressiva e mais de uma dúzia de modelos importados da China à venda no Brasil, todos plug-in elétricos e híbridos, a BYD foi o grande fator de disrupção do mercado em 2024. Aproveitando-se da redução de imposto de importação para modelos eletrificados lançou modelos com preços mais acessíveis e em apenas dois anos decolou como foguete.
No ano passado, com 76,8 mil emplacamentos – 10 mil só em dezembro –, a BYD bateu recorde de crescimento: 328% em comparação com 2023. Assim entrou para a lista das dez marcas de veículos mais vendidas do País, na décima posição, com participação de 3%, ganho de 2,3 pontos sobre o ano anterior.
A BYD é a grande responsável pela expansão das vendas de carros com origem na China no Brasil, em 2024 foi responsável por 64% das 120,3 mil unidades da China vendidas no País. E igualmente a marca é a maior vendedora de modelos eletrificados plug-in no mercado brasileiro, dominando 63% das vendas: um a cada quatro híbridos plug-in e sete a cada dez elétricos vendidos são da BYD.
O ritmo forte deve continuar pelos próximos meses, pois a empresa investiu R$ 4 bilhões para formar estoques antes do aumento do imposto de importação, em julho de 2024, e vem oferecendo descontos de mais de R$ 20 mil em alguns modelos. Hoje ainda deve ter mais de 40 mil unidades estacionadas prontas para encontrar um dono no Brasil.
E para 2025, ainda no primeiro trimestre, está previsto o início da montagem nacional, em Camaçari, BA, de kits importados dos carros mais vendidos da BYD no País, o elétrico Dolphin Mini e o híbrido plug-in Song Pro.
DESTAQUES FORA DA TABELA
Também chamam a atenção, para o bem e para o mal, alguns desempenhos de marcas que ficaram de fora da tabela das dez mais vendidas de 2024, dividindo apenas 13% do mercado brasileiro. Olhando para os maiores crescimentos do ano nesta faixa outras duas marcas chinesas, Chery e GWM, tiveram os desempenho mais notáveis.
A Caoa Chery, com seus carros montados pelo Grupo Caoa em Anápolis, GO, cresceu 93,5%, com 60,9 mil unidades e ganho de 1 ponto porcentual de market share, que subiu para 2,4%, garantindo o décimo-primeiro lugar no ranking, com impulso das vendas de versões mais baratas dos SUVs Tiggo 5X e 7.
Já a GWM subiu três degraus no ranking de 2023 para 2024, terminando o ano na décima-quinta posição dentre as mais vendidas, mas com vistoso crescimento de 154,5% sobre o ano anterior. Aproveitando-se da redução do imposto de importação sobre modelos eletrificados vende atualmente apenas dois modelos importados da China, o elétrico Ora 03 e o híbrido mais vendido do País, o Haval H6 – que deverá ter sua montagem iniciada em Iracemápolis, SP, no segundo semestre. O SUV foi responsável por 78,4% das 29,2 mil vendas da GWM, que assim garantiu seu lugar ao sol no mercado brasileiro, com participação de 1,2%.
Depois de fechar suas fábricas no País, em 2021, a Ford embalou ritmo de crescimento com modelos importados e fechou 2024 com vistosa expansão de 68,3% nas vendas, que somaram 48,3 mil unidades, 66% só da Ranger produzida na Argentina, que foi a quinta picape mais vendida no Brasil no ano passado e ajudou a marca a subir um degrau no ranking, para o décimo-segundo, com participação de 1,9%.
Pelo lado dos desempenhos negativos chamam a atenção os resultados das marcas francesas do Grupo Stellantis, Peugeot e Citroën, que após a fusão da PSA com a FCA, em 2021, ensaiaram recuperação no mercado mas perderam força em 2024. A Citroën, mesmo após lançar três novos carros com os preços competitivos em seus segmentos, desceu duas posições para o décimo-terceiro lugar, com 33,9 mil vedas e pequeno crescimento de quase 5% sobre 2023, inferior à média do mercado.
Já a Peugeot, com produtos mais caros, mesmo após lançar a nova geração do SUV 2008 caiu do décimo para o décimo-sexto lugar no ranking e foi a marca que apresentou o desempenho mais sofrível, com 28 mil vendas, queda de quase 20% em comparação com o ano anterior.
Outra marca da Stellantis, a Ram foi bem melhor e confirmou seu rápido crescimento após o lançamento, no fim de 2023, de sua primeira picape projetada e produzida no Brasil, em Goiana, PE, a Rampage, que respondeu por 80% das 29,5 mil vendas, um robusto incremento de 74% ante 2023.
Embora tenha crescido acima da média do mercado em 2024, 18,8%, com 22,2 mil veículos vendidos, a maioria produzida pela HPE em Catalão, GO, a Mitsubishi seguiu perdendo posições no ranking, desceu mais três degraus no ano passado, figurando na décima-sétima posição.
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