Produtores investem R$ 3 milhões para testes de emissões e de campo. Dezesseis carros e doze motocicletas são abastecidos com 30% de etanol na gasolina
São Paulo – O IMT, Instituto Mauá de Tecnologia, de São Caetano do Sul, SP, foi selecionado para conduzir estudo de viabilidade técnica da elevação da mistura do etanol na gasolina, ponto central do programa do governo federal Combustível do Futuro, criado em outubro a partir da lei 14 993/24. Testes estão sendo realizados e resultados são aguardados para o fim do primeiro trimestre.
Foi o que contou Renato Romio, chefe da divisão de motores e veículos do IMT, à Agência AutoData. “Nós já participávamos das discussões em torno do assunto, como apoio técnico, e fomos contratados pela Unica, que encabeça grupo dos interessados no aumento da mistura do etanol na gasolina, para liderar as pesquisas. O governo, por meio do Ministério das Minas e Energia, coordena o programa e recebe os resultados”.
Associações de produtores de etanol estão investindo de R$ 2,5 milhões a R$ 3 milhões no projeto que envolve o estudo, inclusos a locação de laboratórios e a aquisição de veículos para que sejam testados com gasolina com até 30% de etanol, e a realização de reuniões.
A contrapartida das montadoras, que não estão injetando recursos mas apoiam a pesquisa de viabilidade técnica, envolve o empréstimo de carros e motos e eventual ajuste em motores, caso haja a necessidade, conforme a divulgação dos resultados.
Além disto o MME criou um grupo do qual participam associações do setor, como Anfavea, Fenabrave, Abeifa, Abraciclo e Unica, transformado em comitê de acompanhamento que organiza reuniões regulares acerca dos avanços da pesquisa.
Renato Romio, chefe da divisão de motores e veículos do IMT, contou que estão sendo testados automóveis desde o Proconve L2 até o L8. Foto: Divulgação.
À frente do projeto Romio contou que, a fim de agilizar os resultados, estudo de emissões de poluentes realizado pela Petrobras em 2014 com o E27, com 27% de etanol na gasolina, com o qual a companhia subiu até a tolerância do E30, será utilizado como base para o Combustível do Futuro: “Como já foram avaliados veículos que atendem até o Proconve L6, legislação para emissões da época, vamos complementar a pesquisa com tecnologias L7 e L8”.
Dezesseis veículos a gasolina desde o L2 até o L8 serão testados
Na parte do ensaio de campo, quando será verificado se os carros apresentam falhas e se a partida a frio funciona, por exemplo, serão testados veículos desde o Proconve L2, com E32, ou seja, um pouco acima do estabelecido pela lei, com 32% de etanol, a fim de se certificar de que não haverá problemas de fato.
“Selecionamos modelos mais vendidos e com tecnologias diferentes. A ideia é verificar na pista a aceleração, a retomada de velocidade e fazer testes de lombada, se engasga para sair em segunda marcha, enfim, checar todas as condições de dirigibilidade”, afirmou o chefe da divisão de motores e veículos do IMT, que também é presidente do conselho da AEA.
Ao todo estão sendo avaliados dezesseis automóveis, alguns cedidos por montadoras e entidades, como a Anfavea, especialmente unidades que atendem ao Proconve L7 e L8. Mas, em caso de veículos muito antigos, como um Fiat Uno 1997, por exemplo, foi preciso comprar.
“A idade média da frota brasileira é de dez anos, mas há muitos veículos a gasolina L6. Os flex já são adaptados para ter qualquer mistura de etanol. Para os carros que não toleram um porcentual muito grande de etanol a saída encontrada, desde a época do E27, foi manter a gasolina premium com o E25.”
Quanto às motocicletas, doze no total, estão inclusas todas as etapas do Promot até o M5: “A Mauá já tinha dois modelos de moto, um deles, inclusive, com carburador. Os mais novos, da mesma forma, estão sendo oferecidos por fabricantes e, os mais antigos, tivemos de adquirir”.
Local em que o estudo está sendo desenvolvido, no laboratório do Instituto Mauá de Tecnologia em São Caetano do Sul. Foto: Divulgação.
O plano é que os testes sejam feitos na pista do Rota 127, em Tatuí, SP, e a checagem de partida a frio no próprio campus do IMT. As análises de emissões estão divididas por tipo de veículo: a dos automóveis será feita no laboratório da Timbro, na antiga Jaguar Land Rover em Resende, RJ, e a de motocicletas no centro tecnológico da Yamaha em Jandira, SP.
A equipe do IMT envolvida no estudo é composta por catorze profissionais, sendo, além de Romio, quatro da área de ensaios e análises, três do núcleo de homologações e certificações – apenas a Cetesb e a Mauá são agentes técnicos do Ibama – e outras seis do laboratório de motores e veículos.
No fim de fevereiro será batido o martelo a respeito da eficácia do E30. Em março começam as discussões de adoção da mudança, o que é aguardado para abril, a depender da determinação do CNPE, Conselho Nacional de Política Energética.