Em parceria com a usina Poiato Recicla, que aplica tecnologia criada pela UnB capaz de descontaminar o material e dar diferentes destinos a cada uma das partes
São Paulo – Iniciativa da fabricante de pneus Prometeon, reconhecida em premiação de sustentabilidade socioambiental da Mercedes-Benz, põe em prática a economia circular ao dar novo destino às bitucas de cigarro de seus trabalhadores para que não contaminem o solo e a água e transformem-se em cadernos reciclados posteriormente distribuídos a clientes.
Em parceria com a Poiato Recicla, usina recicladora de cigarros de Votorantim, SP, as bitucas são recolhidas e, com tecnologia nacional criada pela UnB, Universidade de Brasília, o tratamento dos resíduos converte o lixo em papel.
Após lavagem especial com descontaminação o material é triturado e processado. O filtro e o papel são separados e encaminhados para processos específicos de reciclagem. O acetato de celulose é transformado em plástico reciclado, o papel dá origem aos caderninhos e o resíduo do tabaco é usado para biofertilizantes.
Somente de junho a agosto de 2024, no projeto premiado pela Mercedes-Benz, deixaram de ser descartadas 25 mil 258 bitucas na fábrica de Santo André, SP, que poderiam ter poluído 12 mil 625 litros de água. Fabiana Santana, diretora de recursos humanos da Prometeon nas Américas, contou à Agência AutoData que dos cerca de 2 mil funcionários da unidade do ABC Paulista, onde a ação foi adotada primeiro, 4% são fumantes.
Na fábrica de Gravataí, RS, para onde a ação foi estendida, foram coletadas 31 mil e 50 bitucas que poderiam ter contaminado 15 mil 525 litros de água – lá 8% dos 1,4 mil empregados são fumantes.
Fabiana Santana, diretora de RH da Prometeon nas Américas, ressaltou que o projeto não teve pretensões econômicas e que, com ele, o lixo ganhou outra finalidade. Por isto a iniciativa foi mantida. Foto: Divulgação.
“O melhor é que este papel não pode voltar a contaminar: ele fica limpo e não tem cheiro, por isto é circular. E também é circular porque a bituca é um tipo de lixo que demora muito tempo para ser absorvido pela natureza, e contamina a água e o solo.”
A executiva contou que a ideia surgiu do incômodo com as bitucas por um dos funcionários da unidade do ABC, Cleibson Gonçalves, especialista em ESG da Prometeon. Ele tomou conhecimento do trabalho da Poiato Recicla, que está no portfólio de empresas parceiras, e apresentou a proposta no comitê interno de sustentabilidade multiáreas e os colocou em contato.
“Esta é uma forma de demonstrar que, com um pouco de planejamento e vontade, é possível eliminar muito do lixo que se produz. Aproveitamos para criar um espaço com informação na área das lixeiras dos fumantes, como parte de campanha interna de combate ao vício.”
Até abril a Prometeon contabilizou a reciclagem de 150 mil bitucas, o que preservou 1,5 milhão de litros de água da contaminação, além de alinhar a ação com a política global da companhia de aterro zero.
Segundo Santana outra parceria, com o Serviço de Saúde Dr Cândido Ferreira e a Associação Cornélia Vlieg, de Campinas, SP, dá a oportunidade a pessoas com dificuldade intelectual de trabalharem com a massa celulósica e criarem capas de cadernos, blocos e agenda: “Isto ajuda a gerar renda, aprendizado e formação para quem está em tratamento de saúde mental”.
Quanto aos valores investidos na iniciativa a executiva relatou que, por mês, são desembolsados R$ 580 em cada uma das duas unidades da Prometeon para a realização da coleta das bitucas e a produção da massa celulósica. Cada caderno ou bloco de notas é comprado por R$ 22,75 e, depois de inserida a marca, são distribuídos: “São aportados o equivalente a cinco salários mínimos para reproduzir e divulgar os produtos”.
Bloquinho de notas gerado por bitucas é distribuído a clientes Prometeon. Foto: Divulgação.
De acordo com a diretora de RH antes do reconhecimento pela Mercedes-Benz a iniciativa já fora destacada em feira do ABC Paulista, a HR First Class, e também apresentada a outro cliente, a CNH Industrial:
“Participamos de concursos com o intuito de levar a iniciativa além dos nossos muros, e insistir que é possível dar a este lixo outra finalidade, investindo pouco perto do impacto ambiental que estamos gerando”.