Se por um lado o comércio de equipamentos agrícolas retraiu 19%, por outro o de unidades dedicadas à construção cresceu 22%
São Paulo – 86 mil máquinas autopropulsadas, sendo 48,9 mil agrícolas e 37,1 mil de construção, foram comercializadas durante o ano passado. O número está 5,9% aquém do registrado em 2023, quando 91,4 mil unidades foram comercializadas, 61 mil para a agricultura e 30,4 mil para construção.
Os dados, divulgados pela Anfavea na quinta-feira, 23, segregados, apontam que a quebra da safra provocada por mudanças climáticas como as enchentes que assolaram o Rio Grande do Sul em maio, a queda nos preços das commodities gerada pelo estoque elevado, principalmente de soja, e elevadas taxas de juros retraíram as vendas de máquinas agrícolas em 19,8%.
“O crédito é fator preponderante para o andamento das vendas. Taxa de juros alta não combina com o crescimento do setor”, afirmou o presidente da entidade, Márcio de Lima Leite.
E o que mais se deixou de comprar, apontou, foram os tratores de rodas, com queda de 15,2%, para 45,6 mil unidades, e as colheitadeiras de grãos, que encolheram 54,2%, para 3,3 mil unidades: “Embora o volume seja distinto não dá para comparar o preço de um trator com o de uma colheitadeira. A retração foi mais efetiva onde o tíquete médio é maior”.
O vice-presidente da Anfavea Alexandre Bernardes lembrou que, no caso dos tratores, a maior diminuição foi vista nos equipamentos de maior potência, uma vez que os de até 80 cv geralmente são demandados por representantes da agricultura familiar, que possuem acesso a taxa de juros de 5,5% ao ano, bem inferiores à Selic, de 12,25% ao ano, portanto: “A venda está diretamente ligada ao financiamento”.
Neste cenário contribuiu negativamente também o fato de as adversidades climáticas terem provocado queda de 7,2% no volume de produção de grãos, para 298 milhões de toneladas – foram 23 milhões de toneladas a menos. Com isto o valor bruto de produção recebido pelos produtores rurais caiu 3,2%, atingindo R$ 847 milhões: “O crescimento do estoque de passagem de grãos resultou na queda das cotações pelo segundo ano consecutivo”.
Um terço das máquinas de construção é importado
No caso das máquinas dedicadas à construção foram comercializadas no ano passado 37,1 mil unidades, 22,2% acima do volume de 2023. O número se aproximou do recorde de 39 mil equipamentos vendidos em 2022. A maior parte desta quantidade foi direcionada para o setor de construção civil, que ampliou suas compras de 37% para 42% em um ano. Do restante 23% foram para locação e 17% para agrícola e florestal.
De acordo com Lima Leite embora as compras públicas tenham impulsionado a demanda em 2024 um terço do total tem como origem empresas sem produção no Brasil. A Anfavea está encabeçando estudo, a ser finalizado até abril, no qual dados preliminares mostram que das 29 licitações do governo federal contemplando a compra de 2 mil 132 equipamentos 32% do total inclui máquinas prontas e sem etapas fabris no Brasil.
“A próxima fase do levantamento avaliará empresas que estão maquiando a produção no País, em que sete ou oito marcas compartilham uma saleta onde trabalham no máximo vinte pessoas. Elas vendem e saem daqui”, disse o presidente da Anfavea.
Talvez por isto o impacto na geração de emprego no País foi sentido de forma negativa, com a diminuição de 0,9% nos postos de trabalho, totalizando 23,8 mil profissionais no segmento em novembro.