AutoData - FCA quer dobrar lucratividade em cinco anos
Estratégia
01/06/2018

FCA quer dobrar lucratividade em cinco anos

Imagem ilustrativa da notícia: FCA quer dobrar lucratividade em cinco anos
Foto Jornalista  Leandro Alves

Leandro Alves

Milão, Itália – A FCA destrinchou sua estratégia para os próximos cinco anos nesta sexta-feira, 1º, na pista de testes de Balocco, nos arredores de Milão. A apresentação que durou mais de oito horas mostrou uma companhia mais fortalecida para investir em novos produtos e serviços até 2022 quando, espera, dobrar seus lucros antes de descontar os impostos.

 

Um Sergio Marchionne em final de carreira como CEO da FCA, maestro da união que tirou Fiat e Chrysler da quase falência, poucas vezes esteve tão otimista quanto ao futuro da empresa que deixará em 2019, para se dedicar a outras atividades:

 

“Não somos melhores que os outros, apenas somos melhores do que já fomos no passado”.

 

A estratégia está fundamentada em agressivo programa de investimentos que, reunindo todas as marcas da FCA, receberá 45 bilhões de euros no período.

 

A marca Jeep receberá a maior atenção nos próximos cinco anos. Não à toa, a FCA, ciente da preferência do consumidor no mundo todo pelos SUVs, pretende aproveitar o reconhecimento do público pela marca. “A dinâmica dos clientes está mudando nossas prioridades de produtos. O consumidor está em busca de autenticidade”, disse Michael Manley, presidente da Jeep.

 

Dessa forma estão previstos nove lançamentos da Jeep até 2022. A FCA diz que pretende participar de três novos segmentos com o desenvolvimento de um SUV compacto, menor que o Renegade, um SUV com terceira fileira para até sete ocupantes – que será produzido na fábrica de Goiana, GO – e uma picape Jeep. As datas de chegada desses produtos não foram apresentadas.

 

Além de novos produtos até 2021 serão ofertados veículos híbridos plug-in e elétricos. Somente da Jeep serão catorze modelos com essas opções de motorização, sendo dez híbridos e quatro totalmente elétricos.

 

“Em 2018 a Jeep cobre 80% dos segmentos de SUV. Nos próximos cinco anos participaremos de 100% dos segmentos” disse Manley, reforçando os argumentos que levarão à marca a crescimento de 138% das vendas ao fim da estratégia considerando como ponto de partida as 1,9 milhão de unidades que deverão ser entregues aos clientes este ano.

 

“Conhecemos bem os atributos de um SUV. Ele precisa de capacidade de tração, espaço, altura livre do solo, dirigibilidade de automóvel a um custo interessante. Além de tudo isso o consumidor moderno almeja mobilidade em centros restritos, ou seja, modelos híbridos ou elétricos, autonomia para esses veículos e conectividade. A Jeep terá todas essas qualidades aliada à sua identidade”.

    

Na Europa a FCA vai eliminar a motorização diesel de seu portfólio, não apenas na Jeep mas em todas as outras marcas. Ficarão de fora dessa decisão apenas os veículos utilitários, voltados à atividades de transporte urbano.

 

Na América Latina além dos três novos produtos já citados haverá a renovação do portfólio, como a nova geração do Renegade, que provavelmente será apresentada no ano que vem ou início de 2020. A expectativa é que nos próximos cinco anos o mercado de SUVs passe de 800 mil unidades para 1,3 milhão de unidades.

 

Todo esse planejamento da FCA para a Jeep tem algumas ambições, que também podem ser interpretadas como metas a serem atingidas. Segundo Manley em 2018 de cada dezessete SUVs vendidos no mundo, um será Jeep. Até 2022 ele espera que de cada doze SUVs vendidos no mundo, um seja Jeep. “Almejamos com o sucesso dos nossos produtos que estão por vir e o reconhecimento do consumidor que no futuro após 2022 de cada cinco SUVs vendidos, um seja Jeep”.

 

Outras marcas – A RAM, a Maserati e a Alfa Romeo foram outras marcas da FCA que tiveram destaque no planejamento dos próximos cinco anos. Seus produtos ocupam segmentos altamente rentáveis e têm oportunidades de crescimento em diversas regiões. Ao contrário das marcas Fiat e a Chrysler, que deverão ter continuidade apenas em mercados que ofereçam rentabilidade e que já estejam estabelecidas, como os Estados Unidos no caso da Chrysler e Europa e América Latina para a Fiat.  

 

Com pouco destaque na extensa apresentação dos planos para o futuro, coube a Marchionne explicar o que pode acontecer com essas duas marcas:

 

“O espaço da Fiat na Europa será redefinido. Vamos atuar com um novo posicionamento porque será muito difícil que possamos ser rentáveis. Na América Latina temos um posicionamento histórico com a Fiat. E acreditamos que a Chrysler não tem potencial para ser uma marca global”.

 

Mesmo assim há planos de novos veículos da marca Fiat para a América Latina. Inclusive um SUV compacto, que provavelmente compartilhará a plataforma do inédito Jeep compacto.

 

Apesar de volumes de vendas bem abaixo das até então principais marcas da FCA, Alfa Romeu e, sobretudo Maserati, terão uma atenção especial. Uma nova geração de veículos híbridos e elétricos, com todo o estilo e luxuosidade características dessas duas marcas, disputarão a preferência dos consumidores de Porsche e Tesla, além de participar com relevância do maior mercado de veículos premium do mundo: a China.

 

Já a marca RAM terá uma missão difícil. Subir um degrau no mais concorrido mercado de picapes do mundo: os Estados Unidos. Até 2022 a FCA pretende levar sua marca de picapes à vice-liderança de vendas. Hoje ela é a terceira.

 

Espera-se muito da nova RAM 1500, lançada em março, para competir com as picapes da Ford e da Chevrolet. Inclusive a expectativa é que esse novo modelo seja oferecido também na América Latina.

 

Além da 1500 a RAM Heavy Duty, que será apresentada em janeiro de 2019, e uma nova versão picape média formam o portfólio que deve elevar as vendas globais das atuais 770 mil unidades para 1 milhão até 2022.

 

Objetivos – Coube ao CFO Richard Palmer, um dos nomes mais especulados para suceder Marchionne em 2019, apresentar os objetivos financeiros para os próximos cinco anos. Antes disso, ele explicou o ajuste que está sendo na projeção dos lucros antes dos impostos de 8,7 bilhões de euros para 8,2 bilhões este ano por conta da exclusão dos resultados da Magneti Marelli da organização FCA. “Esse ajuste reflete uma posição sólida da FCA. A Magneti Marelli está pronta para um spin-off na bolsa de valores”. Marchionne ainda brincou sobre a sistemista: “se alguém aparecer com um cheque aqui leva a Magneti Marelli agora”.

 

Para 2022 a projeção é de lucro antes dos impostos de 13 a 16 bilhões de euros, dependo do desempenho de todas as marcas. Esse resultado virá, de acordo com a expectativa da companhia, por meio de uma forte atuação na redução dos custos de produção. “Teremos uma redução de 10 bilhões de euros, sendo 60% desse valor oriundo de economia em compras e 40% de melhoria de processos” disse Palmer.

 

78% do faturamento até 2022 virá dos novos produtos. Somando todas as marcas, 19 veículos inéditos, incluindo versões híbridas plug-in e elétricas.

 

“Todas as regiões vão contribuir com lucratividade e margens interessantes para nosso objetivo principal. Todo esse trabalho vai permitir a consolidação da FCA como um grande e importante grupo global”.

 

Enquanto isso, Sergio Marchionne observará tudo do Conselho de acionistas da FCA, cadeira que continuará ocupando pelo menos até 2022.  

 

Legenda da foto: Sergio Marchionne e John Elkann

Foto: Leandro Alves