From the Top da revista AutoData 402, de agosto de 2023
Do grande significado aspiracional que carrega no seu próprio nome Build Your Dreams, concentrado na pequena sigla BYD, nasceu a gigante chinesa que desenvolve e produz baterias, painéis solares, trens e veículos elétricos, com 600 mil funcionários e faturamento de quase US$ 62 bilhões em 2022, quando vendeu 1,8 milhão de carros e ultrapassou a Tesla como maior fabricante de automóveis elétricos do mundo.
De todos os sonhos já construídos pela BYD o Brasil é o mais recente deles, uma ponta-de-lança para consolidar a internacionalização da companhia. O economista e administrador de empresas Marcello Schneider, diretor de relações institucionais, é um dos principais executivos contratados para transformar em realidade as ambições da BYD no País, onde a empresa pretende avançar tão rápido quanto já fez em seus apenas vinte anos de existência.
Trabalhando na subsidiária brasileira desde 2017, Schneider convive com esta velocidade todos os dias. Agora sua principal missão é consolidar o investimento de R$ 3 bilhões para produzir automóveis elétricos e híbridos na Bahia já no fim de 2023 ou começo de 2024, com negociações intensas e ainda não totalmente concluídas com o governo da Bahia para adquirir as instalações da Ford em Camaçari: “O desafio é grande mas é possível: a BYD já provou várias vezes que consegue fazer”. Nesta entrevista Schneider conta como as negociações e planos da BYD seguem avançando rápido no País.
O Brasil parece muito pequeno para a BYD. Com o imenso mercado chinês de veículos elétricos na porta de casa, por que a empresa decidiu explorar o Brasil?
O mercado brasileiro é muito importante para qualquer empresa, seja ela chinesa ou de qualquer outra nacionalidade. Prova dessa importância é que Brasil talvez seja o único país fora da China a receber todas as tecnologias da BYD, que está aqui desde 2013, primeiro com a fábrica de chassis de ônibus elétricos, depois com a produção de painéis solares, posteriormente inaugurou a unidade de baterias em Manaus [AM], temos o projeto de instalação do monotrilho [em Salvador, BA] e agora anunciamos o investimento na fábrica de veículos de passageiros [na Bahia]. Então o Brasil é sem dúvida um lugar onde a BYD quer construir seus sonhos e tornar o País um hub para toda a América Latina.
Desde que a Ford decidiu fechar a fábrica de Camaçari, ainda no começo de 2021, o governo baiano dizia que negociava com um fabricante chinês a venda daquelas instalações. Quando a BYD efetivamente entrou na negociação?
A tomada de decisão pela Bahia é muito recente e foi rápida, começamos esta conversa no ano passado e concluímos no meio deste ano. A empresa já vinha analisando o mercado brasileiro para entender quais eram as possibilidades. Desde 2015 estávamos trazendo ao Brasil veículos leves elétricos para testar o mercado com motoristas de táxi, aplicativos e vans de entrega. Até que surgiu essa grande oportunidade na Bahia. Antes disso houve também uma análise superficial [de aquisição] da planta [da Ford] em São Bernardo do Campo [fechada em 2019] mas isso não evoluiu.
Quais incentivos os governos federal e estadual ofereceram para BYD decidir instalar uma fábrica na Bahia?
Quando começamos as conversas já existia na Bahia uma montadora e os benefícios que governos federal, estadual e municipal tinham colocado à disposição. Estamos em uma fase final de estudos e pleiteamento de alguns benefícios para adequação de uma nova indústria na região.