Entrevista com José Maurício Andreta Júnior, presidente da Fenabrave
José Maurício Andreta Júnior diz que foi um adolescente prodígio da matemática, que discutia equações com o professor e passava de ano com meses de antecedência. Mas não usou o talento para ser matemático ou engenheiro. Aos 14 anos, com o falecimento de seu pai, ele herdou a concessionária Chevrolet que levava o sobrenome de sua família em Amparo, SP, onde já trabalhava eventualmente desde os 12 anos.
Foi assim que Andreta Jr. começou sua carreira como empresário do setor de distribuição de veículos – hoje seu grupo representa dez marcas e tem trinta concessionárias no entorno da região de Campinas, SP. O segredo da multiplicação? A adaptação do negócio a qualquer cenário com precisão matemática e vigilância estrita sobre as empresas.
É com esse espírito que Andreta Jr. também exerce, há quase vinte anos, uma das vice-presidências da Fenabrave. Em janeiro foi eleito pela primeira vez para assumir a cadeira de presidente com apoio unânime da 52 associações de marcas de veículos que compõem a entidade e representam mais de 1 mil grupos empresariais, que têm 7,3 mil concessionárias em mais de 1 mil cidades brasileiras.
Nesta entrevista o presidente da Fenabrave conta como equacionou o consenso na entidade para trabalhar em ações de interesse dos distribuidores, fala sobre a matemática da adaptação para sobreviver aos altos e baixos do mercado e explica sua aritmética para prever vendas este ano iguais ou até pouco melhores do que em 2021.
Ao assumir a presidência da Fenabrave este ano quais foram as primeiras ações?
Durante onze anos, de 1994 a 2005, fui vice-presidente da Fenabrave e depois voltei a ser vice nos sete anos da gestão de Alarico [Assumpção Júnior, 2015-2021], que fez um grande trabalho. Minha intenção era sair e cuidar dos meus negócios, mas resolvi aceitar o desafio porque recebi o apoio de todas as 52 associações de marca que compõem a Fenabrave: todas elas mandaram 52 cartas indicando o meu nome para assumir a presidência e nomear a diretoria que eu escolhesse. Obtive consenso para aprovar um plano de ação de doze pontos e montei uma estrutura de sete vice-presidentes totalmente alinhados com a nossa proposta. Então estou focado em cumprir essa missão, de agregar o setor [de distribuição de veículos], e quero sair daqui com 21 anos dedicados à entidade e objetivos cumpridos. Sou uma pessoa acelerada e impus o mesmo ritmo aqui: estamos todos trabalhando muito.
Pode dar exemplos de quais são esses pontos de ação?
Um deles foi adotar comunicação mais rápida e ampla. Tenho um celular conectado com os 52 presidentes de marcas associadas. De tudo que acontece aqui fazemos uma foto ou gravamos um vídeo e mandamos. Nós informamos tudo a todos, porque precisamos nos juntar nesses pontos, no que é bom para a cadeia automotiva. Outra ação foi montar grupos de trabalho para formular propostas, como por exemplo a legislação da retomada do veículo em caso de inadimplência: hoje os bancos podem demorar dois anos para retomar o bem de alguém que parou de pagar o financiamento porque precisa da autorização de um juiz. Isso encarece e restringe o crédito, atrapalha nosso negócio. Chamamos aqui a Febraban e entramos em acordo para unificar o modelo de contratos com os bancos associados da entidade. Também trabalhamos para acelerar o Renave [Registro Nacional de Veículos em Estoque], que para carros novos já funciona em todo o País, para usados está funcionando em cinco estados e começará em breve em São Paulo. Isto tornará as transferências muito rápidas, assim que o carro entra na loja, e legalizará a posse transitória do estoque de veículos das concessionárias [que hoje, em regra, continuam no nome de antigos proprietários até a revenda ao próximo comprador para contornar a burocracia de longo processo que pode levar vinte a trinta dias para colocar o bem no nome do revendedor e depois no do novo proprietário].