AutoData - Eletrificação em diferentes apostas
Seminário AutoData
25/11/2019

Eletrificação em diferentes apostas

Imagem ilustrativa da notícia: Eletrificação em diferentes apostas
Foto Jornalista Lucia Camargo Nunes

Lucia Camargo Nunes

São Paulo – Que o futuro é elétrico poucos discordam. As discussões surgem em torno de quando isso chega para valer ao mercado brasileiro no que diz respeito a volume, e quais tecnologias avançarão. As fabricantes de veículos têm suas apostas e apresentaram seus progressos em mesa redonda durante o Seminário Autodata Brasil Elétrico: enquanto a Toyota investe nos híbridos a Renault coloca suas forças em elétricos e a Nissan se esforça para concluir os estudos que faz com célula a combustível utilizando o etanol para gerar hidrogênio.

 

O evento foi realizado na segunda-feira, 25, no Milenium Centro de Convenções, em São Paulo. Na defesa pelos híbridos, Miguel Fonseca, vice-presidente da Toyota, mostrou porque a montadora investe neles e nos híbridos plug-in: leva em conta variáveis sobre a origem da energia, a infraestrutura e os custos. Quando se fala em matriz energética de uma região, Fonseca considera a capacidade em produzir energia renovável:

 

“É possível aumentar a capacidade de geração de energia renovável, mas é preciso fazer investimentos, exercer regulações etc. E também off-grid [fora da rede] e acrescentar capacidade. Temos 44 milhões de carros no Brasil mas só temos capacidade para 3 milhões no reabastecimento de elétricos”.

 

O Brasil, dentre os países emergentes, também está atrasado nos investimentos, apenas 2,3% do PIB, em infraestrutura correlata, que são as redes de distribuição, atrás de China, que aplica 13,4% do PIB, do Vietnã, 10,3%, e da Índia, 6%. Por fim, em termos de custos, a diferença de uma bateria de um híbrido e a de um elétrico chega a US$ 18 mil, “o que impossibilita fazer um carro elétrico barato e de grande volume. Por essas razões, para a Toyota, a melhor solução é o híbrido.”

 

A mudança da chave já acontece: até 2025 todo portfólio Toyota terá ao menos uma versão híbrida.

 

A Renault levou ao seminário sua experiência em Fernando de Noronha, santuário ecológico rodeado de natureza e fauna, que possui 4 mil moradores, recebe 110 mil turistas por ano e onde carros são muito limitados – são permitidos apenas 1 mil 90 unidades. É o cenário ideal para a circulação de veículos elétricos: a montadora selou parcerias, forneceu seis carros e instalou qutro pontos de recarga. De acordo com Federico Goyret, seu diretor de marketing, “nossa missão é essa: mostrar como a população pode transformar sua mobilidade e que ela pode ser sustentável. E a boa notícia é que chegamos ao Bar do Meio [o centro do agito no arquipélago] com nosso Kangoo elétrico, um lugar onde apenas veículos 4×4 conseguem chegar”.

 

Ricardo Abe, gerente sênior de engenharia e desenvolvimento de produto da Nissan e responsável, na América Latina, pelo projeto SOFC, apresentou os avanços do sistema que não requer tomada e usa o etanol para gerar energia, em parceria com USP e, agora, com o Ipem. “Desafios dessa tecnologia são o tamanho da célula, com qual capacidade vamos trabalhar e alguns materiais, por causa da fragilidade de partes de cerâmica. Existem várias soluções em desenvolvimento. O lançamento do carro, contudo, ficará para um pouco mais adiante. O Ipem começa a fazer seu trabalho agora e toda a parte de pesquisa para que o projeto se torne realidade.”

 

Miguel Fonseca, da Toyota, acredita que os veículos eletrificados têm, no Brasil, uma boa oportunidade de produção:

 

“Daqui a dezessete, vinte anos, não teremos mais proteções ao mercado, ele será aberto, mas nossos custos, tributações e questões legais são entraves. Se essa direção for bem-sucedida cria-se condições para essas novas tecnologias que têm potencial de gerar escala, como é o híbrido, e é o que tem mais potencial para eletrificar nossa indústria. A partir daí a indústria poderá se preparar para concorrer com o mundo, e o desafio é fazer a transição para salvar a cadeia de fornecedores, mas só a Toyota não é o suficiente. Outros fabricantes precisam fazer esse mesmo caminho para que essa escala aconteça. E isso tem acontecer nos próximos dez a quinze anos”.

 

Foto: Rafael Cusato.