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Conjuntura
16/03/2020

Projeções apontam para incerteza e PIB menor

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Foto Jornalista Bruno de Oliveira

Bruno de Oliveira

São Paulo –  À medida em que crescem os números de pessoas infectadas no Brasil, aumentam também as incertezas a respeito dos reflexos que o Covid-19 poderá produzir na economia daqui para diante. Não restam dúvidas, para economistas e analistas da indústria, de que haverá redução do crescimento do PIB este ano e retração das vendas no varejo. O que ainda está indefinido é em qual grau o vírus deteriorará os indicadores do mercado em 2020.

 

Na manhã da segunda-feira, 16, o Relatório de Mercado Focus, divulgado pelo Banco Central, deu indícios de que as expectativas em torno do crescimento do produto interno arrefeceram diante do quadro provocado pela pandemia. Se em fevereiro a projeção era de alta de 2,23%, agora pesquisa indica parâmetro mais modesto, 1,68%, com grande influência da retração na produção industrial no resultado.

 

Segundo Claudio Felisoni, coordenador da FIA, Fundação Instituto de Administração, lá na frente, no segundo semestre, a dimensão dos reflexos terá sido influenciada pelo número de indivíduos infectados no País no momento futuro. De acordo com o volume, seguiu o economista, haverá a possibilidade de três cenários:

 

“O mais otimista, digamos assim, é o de recuperação econômica rápida com o vírus encerrando seu ciclo de disseminação no segundo semestre e, assim, marcando a volta da expectativa de PIB em torno de 2,5%”, diz o pesquisador. “O segundo cenário é o de recuperação lenta, com o vírus produzindo reflexos graves na população, na economia, mas com o controle de sua escalada mostrando os primeiros resultados. Neste cenário o crescimento do PIB poderá ser de 1,5%. Por fim, um cenário mais grave, com o sistema financeiro e o de saúde em colapso e uma retração como houve em 2008”.

 

Dentre os setores que poderão sofrer mais com eventuais reflexos da pandemia estão aqueles sob o guarda-chuva do varejo, seguiu o economista: “O governo deve estimular o consumo e está correto neste sentido. Por outro lado, na prática, não há como saber se redução de juros e aumento do crédito serão esforços suficientes para levar o consumidor às compras”.

 

Para Antonio Jorge Martins, coordenador da FGV-SP, Fundação Getúlio Vargas, empresas que vendem bens duráveis, como é o caso dos veículos, sofrerão mais. Isso porque haverá queda na demanda por automóveis e caminhões novos por causa da retração econômica provocada pelo coronavírus: “Diante de uma pandemia o consumidor correrá para outro lado que não o da aquisição de veículos, há outras prioridades”.

 

São poucas as vozes que se arriscam a afirmar o que irá acontecer no varejo automotivo até o fim de março – a primeira quinzena trouxe números positivos, ainda sem influência da crise que se agravou nos últimos dias. No que toca à indústria, que já reduziu a atividade em suas áreas administrativas, o governo federal anunciou medidas com o objetivo de manter o ritmo daquelas com operação mais robusta e, também, socorrer àquelas mais suscetíveis às intempéries do mercado em tempos de crise.

 

O CMN, o Conselho Monetário Nacional, aprovou na segunda-feira medidas para ajudar a economia brasileira a enfrentar os efeitos adversos da epidemia de Covid-19. Os bancos facilitarão a renegociação de dívidas de pessoas físicas e jurídicas e prometem aumentar a capacidade de utilização do seu capital. As medidas serão financiadas pelos R$ 147,3 bilhões anunciados por Paulo Guedes, ministro da Economia, no fim da tarde. Espera-se que, dentre outros resultados, a injeção do recurso mantenha a liquidez do mercado.

 

Segundo Fernando Trujillo, consultor da IHS Markit, a medida pode ajudar as empresas que pertencem à cadeia de fornecimento de peças e componentes, “que nos últimos anos tentam se recuperar da crise que afetou o setor automotivo”. O especialista apontou, ainda, para reflexos da pandemia na importação de componentes:

 

“Muitas montadoras trabalham com componentes importados. Afora o câmbio valorizado é preciso lembrar que há crise nos países onde esses componentes são produzidos, e uma eventual falta de peças, como as que compõem transmissões automáticas, podem representar risco de interrupção das linhas”.

 

O Ibovespa, principal índice da B3, fechou a segunda-feira em queda de 13,9%, aos 71 mil 168 pontos. O dólar segue a escalada e fechou cotado a R$ 5,047, maior índice nominal da história e em valorização de 4,9%.

 

Foto: Jorge Araújo/Fotos Públicas.