São Paulo – Novos comportamentos no mercado e oportunidades de negócios marcaram o setor automotivo a partir de março, quando a pandemia da covid-19 ganhou proporção no Brasil. Estudo da KPMG, apresentado com exclusividade na terça-feira, 30, durante o Seminário AutoData Megatendências do Setor Automotivo – a Revisão das Perspectivas 2020, mostrou que montadoras, sistemistas e o varejo precisam seguir tendências que surgiram no período.
Uma delas diz respeito à matriz energética. Segundo Ricardo Bacellar, líder da área automotiva da consultoria, os resultados do estudo – que será explorado na íntegra na próxima edição da revista AutoData – mostra que os executivos entrevistados visualizam as células de combustível como algo ainda a ser muito explorado no mercado brasileiro:
"Em meio a essa discussão da globalização, do retorno do foco à produção e aos desenvolvimento interno de componentes, ocorre também a discussão em torno dos caminhos que serão tomados pelos países em relação a matriz energética. Célula de combustível é visto como algo ainda a ser muito explorado no Brasil pela maioria dos executivos, cerca de 53% dos entrevistados".
A tecnologia ainda engatinha no mundo e, no mercado interno, é algo incipiente. A Nissan mantém pesquisa em parceria com o Ipen, o Instituto de Pesquisas Energéticas, em São Paulo. No campo dos veículos comerciais, a FPT desenvolveu um conceito de motor, o Cursor X, que utiliza célula de combustível e o apresentou à AutoData em Turim, Itália. Ele também foi visto por aqui em feiras e eventos.
Outra tendência indicada pelos dados do estudo diz respeito à exploração da plataforma veicular como um serviço. "Se antes da pandemia a indústria trabalhava já a ideia de que era preciso explorar o automóvel como serviço, depois dela o que se vê, ainda, é uma forte tendência nesse sentido, ainda que observamos a retomada do conceito de carro como propriedade como uma forma de medida sanitária", disse Bacellar.
Durante a pandemia o levantamento da KPMG também mostrou forte inclinação de empresas à construção de canais omni channel, ou seja, canais de vendas em diversas plataformas. À lista onde o showroom das concessionárias desempenhava papel protagonista foram inseridos os canais online, por exemplo.
"No período denominado novo, haverá forte presença do omni channel. A cultura digital também terá um papel importante dentro das decisões das empresas em termos de buscas por negócios porque será preciso conhecer o consumidor mais a fundo", seguiu Bacellar. "No entanto, pela quinta vez consecutiva no estudo, as concessionárias seguem importantes para os entrevistados."
O material da KPMG também aborda temas como marketing e a formação de alianças no setor como forma de busca por adequação de produtos às demandas futuras.
Executivos entrevistados consideram reduzir ainda mais os custos com marketing, algo que é visto como negativo na análise da consultoria, qua faz comparações com o setor de TI: "Enquanto empresas de outros setores aumentam os investimentos em marketing, verificamos que no setor automotivo a curva é descendente. Isso é ruim porque é algo que produz reflexos nas vendas".
A indústria automotiva está, sim, preocupada em criar alianças dentro do próprio setor no sentido de compartilhar custos e riscos em empreitadas com vistas ao futuro. "Ninguém tem capital para investir em tudo, e isso é algo que vem sendo falado antes da pandemia. A indústria ainda não está acostumada com isso, mas é um movimento que ganha corpo nos últimos anos", concluiu o consultor.
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