São Paulo – Proteger a operação local das oscilações cambiais é apenas um dos fatores elencados por Juliano Almeida, diretor de compras da FCA América Latina, para intensificar o processo de localização de peças, componentes e subcomponentes. Atrair fornecedores estratégicos é, no seu ponto de vista, mais uma forma de acelerar a inovação: quanto mais estreita a parceria maior o leque de alternativas que podem encontrar em conjunto.
Localizar e fortalecer a parceria foram duas das três mensagens principais passadas por Almeida aos mais de 1 mil representantes de fornecedores que acompanharam, pela internet, o Annual Supplier Conference & Awards 2020 na manhã da terça-feira, 29. Em novo formato por causa da pandemia da covid-19 o encontro anual com a cadeia de fornecedores transmitiu, também, a mensagem de que a retomada, ao menos para a FCA, corre em maior velocidade e, para isso, é preciso uma resposta mais rápida das empresas produtoras de autopeças.
Mas o foco muito grande, conforme observou o diretor, está mesmo na nacionalização. “Não apenas em importados diretamente pela FCA: precisamos fazer uma análise na cadeia toda, para identificar subcomponentes que têm alto volume e que podem ser produzidos aqui”.
A rápida e intensa desvalorização do real nos últimos meses acelerou a urgência de um processo que a FCA já vinha defendendo. Em Betim, MG, a taxa de nacionalização é superior a 90%, mas em Goiana, PE, está pouco acima dos 55%.
O diretor de compras da FCA propõe uma visão mais macro de toda a estrutura de compras, tanto da sua equipe como das equipes dos fornecedores, para que oportunidades hoje ocultas sejam encontradas. Pode ser o caso de um determinado subcomponente eletrônico, por exemplo, hoje importado, que tenha volume de aplicação dentro da cadeia que justifique sua produção local, mas que não seja identificado na avaliação caso a caso.
Há outros casos mais óbvios, que já estão em negociação, como as transmissões automáticas, câmeras de ré e frontais e ESC, muito usados na indústria nacional e ainda importados.
“No caso da transmissão automática fizemos algumas abordagens isoladas com fornecedores e realmente o investimento para localizar a produção é muito alto. Para piorar há ociosidade na capacidade de fornecimento global, é difícil justificar o investimento. Então nosso planejamento é procurar outras montadoras, ou até mesmo a Anfavea, para tentar colocar na mesa um volume que torne essa nacionalização viável. É um componente com peso representativo no custo do veículo.”
Almeida espera também relação mais próxima e transparente com os fornecedores. Para isso pede que a FCA ocupe espaço preferencial com seus fornecedores – e que as inovações tecnológicas, processuais e de serviços sejam levadas, primeiro, a eles – e uma comunicação mais direta, assertiva e transparente.
“Buscamos parceria muito além da tradicional relação de compra e venda. Um parceiro de negócios que enxergue no consumidor final o motivo do nosso relacionamento, trocando o tempo perdido em disputas comerciais por soluções que visem ao cliente final. Temos que ser firmes e justos com nossos fornecedores.”
Em troca a FCA coloca à disposição de seus parceiros oportunidades de exportação intercompany e consultorias que visem à melhoria continua: “Com o câmbio nesse patamar, hoje, o Brasil é um dos países mais competitivos do mundo”.
Mas esses projetos de exportação estão, ao menos por enquanto, em segundo plano. A alta demanda pela picape Strada e pelos demais modelos Fiat e Jeep, superior à média do mercado, torna Betim e Goiana a prioridade para os fornecedores locais FCA. Junto com a retomada pós-paralisação nas fábricas vieram alguns gargalos: empresas que demitiram por não acreditar em recuperação tão rápida dos volumes, outras que não confiaram nas projeções da FCA e relutaram em acelerar suas linhas e dificuldades na importação de peças – neste caso a companhia precisou lançar mão de fretes aéreos para atender a necessidade.
O caso da Strada simboliza bem o cenário: Almeida disse que a demanda atual supera as expectativas da FCA de antes da pandemia: “Projetávamos produzir 440 unidades/dia e estamos em um ritmo de 600 a 650/dia. Desde o lançamento já foram vendidas mais de 26 mil Strada”.
Ainda assim a área de compras deverá fechar o ano com 22% a 25% menos investimento, em reais, do que no ano passado: os valores não foram abertos pelo diretor. Poderia ser pior: no auge da pandemia a expectativa chegou a 36% de queda.
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