São Paulo — A Anfavea transmitiu na quarta-feira, 18, mais um debate do Conexão Anfavea, série que seguirá em 2021 tratando do tema mobilidade urbana. Neste capítulo a entidade reuniu a Globo, que apresentou seu estudo sobre os reflexos da pandemia no transporte público, e a Moovit, que produziu levantamento semelhante na abordagem e no diagnóstico: o uso do automóvel se sobrepondo ao do transporte público como medida sanitária.
A premissa tem sido recorrente nos discursos dos principais interlocutores da entidade, que tem sido usada para construir projeção de vendas para este ano e também para o ano que vem. De acordo com o presidente Luiz Carlos de Moraes "um dos efeitos da pandemia foi o de a população voltar a observar o transporte individual como alternativa ao público e este cenário poderá provocar efeitos na cadeia com possibilidade de mais negócios".
A pesquisa da Moovit indica, de fato, propensão da população ao transporte individual, como é o caso dos automóveis. Foi entrevistada em agosto uma base formada por 9,5 mil pessoas e a maioria daquelas que vive em grandes centros do País indicaram o uso do automóvel durante a pandemia, por causa da segurança que ele oferece. Essa foi a resposta de 48% dos usuários de São Paulo, 35% no Rio de Janeiro, RJ, 36% daqueles de Porto Alegre, RS, e 31% dos entrevistados de Recife, PE.
No entanto não há caminho sem obstáculo em ano de pandemia. No aspecto conjuntural jogam contra as montadoras as incertezas em torno da economia e se ela terá musculatura suficiente para suportar novas vendas: ou seja, ninguém sabe se haverá consumo no País, de fato, considerando possível queda do nível de emprego, de renda e, mais grave, a chegada de uma eventual segunda onda de covid-19.
"As fabricantes estão dialogando com diversos setores para que se construa um novo ambiente de mobilidade, com a possibilidade de outras formas de negócio, como a oferta de serviços", disse Moraes, a respeito do aumento dos preços dos veículos novos e sobre se o fato não tornaria inviável a compra de veículos por aqueles que devem deixar de utilizar o transporte público. "Todos estamos buscando soluções."
Segundo levantamento feito pela KBB em maio, no terceiro mês de pandemia, o preço dos veículos 0 KM vendidos no mercado brasileiro tinha subido mais de 5% nos modelos 2020 e 2021. O veículo mais caro, em função da alta do dólar e dos custos de produção — que subiram, de acordo com as montadoras –, aumenta o drama para o consumidor médio no mercado de novos, que já encontra dificuldade de encontrar modelos abaixo de R$ 60 mil.
O caminho natural, afora o novo catálogo de serviços de mobilidade que surgem na oferta das montadoras, como o Volkswagen Sign & Drive e o Kinto One, da joint-venture Toyota-Mitsui, seria o do mercado de usados. A própria Anfavea já afirmou que há, atualmente, maior movimentação neste segmento: "Se antes uma unidade de veículo zero quilômetro movimentava três no mercado de usados hoje esse número está acima de cinco", já disse Luiz Carlos Moraes.
Dados da Fenauto mostraram que a venda de veículos usados no varejo aumentou 10,5% no comparativo de agosto com setembro.
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