São Paulo – Pablo Di Si, presidente da Volkswagen, não foi surpreendido com o cenário atual de desabastecimento, sobretudo de matérias-primas, para a indústria automotiva. Ele esperava que ocorresse até antes: em junho ou julho, quando as fábricas reativaram as linhas de produção após um período de paralisação para tentar conter a pandemia da covid-19.
“Na ocasião a cadeia respondeu bem à demanda”, disse o executivo em apresentação virtual a jornalistas na quarta-feira, 9. “E os mercados do Brasil e Argentina se recuperaram rápido também, têm apresentado bons volumes. Assim como a China, que está com crescimento forte, e outros mercados internacionais, o que gera um problema de descompasso global.”
Ele relatou que ocorreram, e deverão seguir ocorrendo, problemas pontuais de abastecimento que param uma linha, atrapalham a produção de um modelo ou outro: “Temos que esperar algum tempo para que a cadeia, que é longa, se estabilize. Conviveremos com esse cenário por pelo menos mais trinta a quarenta dias”.
Não será esse fator que afetará o desempenho do mercado brasileiro neste fim de ano, começo do ano que vem. Para 2021 o executivo se preocupa com outro entrave: a pressão nos custos. Di Si afirmou que as negociações com fornecedores são duras, mas há aumento no custo de matérias-primas, que têm cotação internacional. Aliada à desvalorização do real acaba sendo muito difícil de montadoras ou fornecedores absorverem. Segundo ele inevitavelmente isso chegará ao consumidor final.
“Essa correção nos preços pode mexer com os volumes projetados. Falam em vendas na casa das 2,4 milhões de unidades, mas somos um pouco menos otimistas: algo em torno de 2,3 milhões a 2,4 milhões de veículos. Planejaremos nossas fábricas para a mais otimista e, se precisar, readequamos no decorrer do ano.”
Para resolver a questão da pressão nos custos a Volkswagen dá sequência ao plano de nacionalização de peças e componentes, evitando a exposição à moeda forte. Mas Di Si lembrou que não se trata de algo que se resolva no curto prazo: “Conseguimos localizar alguns produtos, mas é um projeto de longo prazo, para até cinco anos”.
O próximo ciclo de investimento – o de R$ 7 bilhões se encerra com o lançamento do Taos, que teve o prazo esticado e será apresentado no primeiro trimestre do ano que vem – deverá ser anunciado nos próximos meses. Junto com ele a quantidade de lançamentos previstos para 2021 e os anos seguintes. Uma picape para competir com a Fiat Toro, porém, parece estar nos planos da empresa.
Pablo Di Si adiantou, apenas, que terá cinco modelos híbridos e elétricos para o mercado brasileiro até 2023. Todos importados, a princípio.
A Volkswagen segue com seu processo de reestruturação, com PDVs abertos nas unidades para resolver a questão de excedente de 35% no quadro de funcionários. Di Si não revelou números, mas afirmou que o plano “segue de acordo com as nossas expectativas”. A VW dará férias coletivas a seus trabalhadores, em calendário que varia de acordo com a unidade, nas últimas semanas de dezembro e primeiras de janeiro.
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