São Paulo — O dia D foi a segunda-feira, 18, e na hora H, na manhã da terça-feira, 19, a Stellantis mostrou que está comprometida com a construção de uma empresa automotiva muito mais alinhada com os valores da mobilidade do futuro do que com o passado glorioso das marcas, muitas delas tradicionalíssimas.
Coube ao CEO Carlos Tavares conduzir o primeiro dia oficial da Stellantis durante sua primeira conferência global de imprensa. A facilidade e conveniência desse tipo de encontro online contribuiu para que ele repetisse algumas vezes uma mensagem positiva e poderosa. O grupo conhece o tamanho do desafio e, para vencer no mercado automotivo global, “utilizaremos a importante escala produtiva das marcas para trabalhar a inovação e sermos disruptivos, dentre outras iniciativas que algumas empresas não conseguem justamente por causa da menor capacidade produtiva”.
Tavares concluiu: “A Stellantis visará à excelência e não ao tamanho”.
Para começar ele busca aliviar custos de € 5 bilhões com sinergias, das quais 40% virão de convergências de plataformas, módulos, sistemas e eficiências em processos de manufatura.
As compras de todas as marcas representarão outros 35% do objetivo aproveitando a enorme escala produtiva do grupo para diminuir o custo total de insumos, autopartes e outros itens, em particular componentes elétricos e de alta tecnologia.
Os 25% restantes virão da integração de atividades em diversos departamentos, como os de vendas e marketing, TI, logística, suprimentos, qualidade e operações de pós-vendas. O Brasil e a América do Sul passarão pelo que foi chamado de “melhoria de custos” das operações: “80% das nossas compras serão comuns em quatros anos”;
O trabalho para liberar dinheiro no caixa é apenas um item de longa lista de prioridades para dar início ao ambicioso e confiante objetivo de “redefinir o futuro da mobilidade”.
Talvez confiança seja uma boa palavra para traduzir esse momento inicial da Stellantis. Com as catorze marcas produzindo 8,1 milhões de unidades em 2019 e instalações industriais em trinta países Tavares quer “superar as expectativas dos clientes e criar liderança em sustentabilidade e experiências disruptivas”.
Para isto acontecer a Stellantis parte do princípio que ajustará suas estratégias de acordo com as definições dos governos de cada mercado. Na Europa mais de um terço das vendas serão de veículos elétricos na próxima década. Assim, até 2025, cada modelo do grupo disporá de versão elétrica para atender a esses mercados, começando com dez novos elétricos este ano.
“A eletrificação tem a ver com os governos. Como direcionarão suas políticas nesse tema? Desenvolvendo uma rota de mobilidade com baixa emissão ou copiar e colar o modelo de outra região? Essa é uma decisão política. Respeitaremos e ajustaremos nossas estratégias.”
Isso vale para todos mercados, como o dos Estados Unidos, onde a eleição de John Biden trouxe esperança. Talvez seja possível conduzir aquele que é o maior mercado da novata Stellantis para uma transição mais acelerada à emissão zero, ele avaliou.
A ideia vale, inclusive, e talvez principalmente, para o Brasil, que terá Antonio Filosa como COO na América do Sul. Em resposta a jornalistas brasileiros que participaram da transmissão Carlos Tavares ponderou que os custos para a transição para a eletrificação não são baixos e cabe aos governos definir a qual rota energética aquele consumidor específico terá acesso. Sem entrar em pormenores sobre o potencial de outras alternativas de propulsão limpa para a região ele considerou que, no curto prazo, a eletrificação é inviável nos mercados na América do Sul pois “torna-se uma questão de capacidade de compra”.
Mas ele garantiu que neste primeiro dia, e nos outros que virão, está descartada qualquer redução da atividade fabril ou de corte drástico do efetivo de 400 mil colaboradores no mundo: “A formação deste grupo, Stellantis, é um escudo contra a ameaça de fechar fábricas. Porque nossa escala proporcionará que os planos para todas as marcas possam ter continuidade”.
Com faturamento anual de € 167 bilhões, posições industriais sólidas em três continentes, respeitável estrutura de pesquisa e desenvolvimento nas diversas marcas e um grupo jovem, e ao mesmo tempo experiente, na liderança dessa enorme organização, tudo é possível para a Stellantis.
Inclusive reforçar sua presença nos mercados asiáticos, sobretudo na China. É no maior mercado global que a Stellantis ainda não possui posição relevante. Mas como, por lá, tudo está se transformando rapidamente Carlos Tavares não quis revelar, no seu primeiro dia de exposição pública, pormenores desse vai da valsa. Ele foi econômico na sua resposta, observando apenas que “temos oportunidades na China. Mas estamos bem posicionados em outras regiões”.
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